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Biden nega novas acusações de assédio sexual pela primeira vez

Candidato à Presidência dos EUA passou semanas em silêncio após acusação de ex-assessora

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São Paulo

O ex-vice-presidente e atual candidato democrata à Presidência dos Estados Unidos, Joe Biden, negou pela primeira vez, após semanas de silêncio, as acusações de assédio sexual feitas por sua ex-assessora no Senado Tara Reade.

"Reconheço minha responsabilidade de ser uma voz, um defensor e um líder da mudança na cultura que começou, mas que está longe de terminar. Então, quero abordar as acusações de uma ex-funcionária de que tive uma má conduta há 27 anos. Elas não são verdadeiras. Isso nunca aconteceu", escreveu Biden em um artigo publicado nesta sexta-feira (1º) na plataforma Medium.

Segundo a ex-assessora, em 1993, Biden a encostou contra uma parede em um prédio do Senado, enfiou a mão sob suas roupas e a penetrou com os dedos.

Joe Biden, ex-vice-presidente e candidato democrata à Presidência dos EUA - Saul Loeb - 12.mar.20 / AFP

No ano passado, Reade e outras sete mulheres foram a público acusar Biden de tê-las beijado, abraçado ou tocado de maneiras que as deixaram incomodadas.

Na ocasião, Biden se defendeu dizendo que é um "político tátil" que gosta de interagir com o público e que nunca pensou que havia agido de maneira inapropriada.

"A política para mim sempre teve a ver com conectar-se, mas estarei mais atento quanto a respeitar o espaço pessoal no futuro. É minha responsabilidade, e a cumprirei."

Desta vez, Biden recorreu ao jornalismo para se defender das novas acusações.

"Organizações de notícias responsáveis ​​devem examinar e avaliar o histórico completo e crescente de inconsistências na história dela [de Reade], que mudou repetidamente de maneiras pequenas e grandes."

Os jornais New York Times e o Washington Post entrevistaram Reade e várias pessoas citadas por ela que trabalharam para Biden quando ele era senador. Mas os repórteres não descobriram nenhum padrão de conduta sexual inapropriada por parte de Biden.

No fim de abril, surgiram duas novidades na história. Repareceu um trecho de 1993 de um programa de Larry King, na CNN, em que uma mulher identificada como moradora da cidade onde a mãe de Reade vivia diz que a filha estava tendo problemas com um senador e queria opinião se deveria levar ou não o caso à imprensa.
Ela não deu nomes nem detalhes do caso, mas Reade diz que era a voz de sua mãe, que morreu em 2016.

A outra novidade foi o depoimento de uma ex-vizinha ao Business Insider —ela afirma que Reade contou a história para ela no meio dos anos 1990.

Reade disse ao Washington Post que, depois do assédio, ela falou sobre o caso com a mãe, o irmão e uma amiga, mas não mencionou a vizinha.

Em seu artigo, o democrata afirma que foi autor da Lei de Violência contra as Mulheres e lutou por sua aprovação, em 1995. Biden também diz que vai continuar apoiando as mulheres e fazendo com que suas vozes sejam ouvidas.

"Embora os detalhes dessas alegações de assédio sexual sejam complicados, duas coisas não são complicadas. Uma é que as mulheres merecem ser tratadas com dignidade e respeito e, quando dão um passo à frente, devem ser ouvidas, não silenciadas. A segunda é que suas histórias devem estar sujeitas a investigação e escrutínio apropriados", escreve o candidato.

Nesta sexta, o ex-vice-presidente também concedeu entrevista à emissora americana MSNBC. A primeira pergunta feita a ele foi sobre as acusações de assédio. "Não, não é verdade. Estou dizendo inequivocamente que isso nunca, nunca aconteceu", respondeu.

Biden também falou sobre o que ele já havia escrito em seu artigo em relação à inexistência de registros da denúncia.

Reade disse que entrou com uma queixa em um escritório do Congresso que detalha o assédio sexual por Biden quando ela trabalhava em seu escritório. A documentação, entretanto, não foi localizada, e a ex-assessora disse que não tem uma cópia.

Em seu texto, Biden sugere que o Senado solicite uma busca no Arquivo Nacional, onde estaria registrada a denúncia de Reade feita à época, e, caso algo seja encontrado, que seja apresentado à imprensa.

"Estou confiante de que não há nada", disse à MSNBC. "Eu não estou preocupado com isso. Isso é um livro aberto, eu não tenho nada a esconder."

A demora em se manifestar publicamente, entretanto, causou desconforto entre apoiadores. O silêncio de Biden levantou questões entre alguns democratas sobre a agilidade da operação de sua campanha e sobre sua capacidade de enfrentar uma disputa dura contra o atual presidente Donald Trump.

Além disso, um grupo de defensoras dos direitos das mulheres chegou a escrever uma carta aberta cobrando uma resposta do democrata.

"O vice-presidente Biden tem a oportunidade, neste momento, de ser um modelo de como levar a sério as acusações sérias. O peso de nossas expectativas corresponde à magnitude do cargo que ele quer ocupar", dizia o documento.

Outras lideranças femininas, inclusive mulheres que são cotadas para compôr a chapa de Biden e ocuparem a vice-presidência, defenderam o candidato. Foi o caso, por exemplo, das senadoras Amy Klobuchar e Kamala Harris.

A defesa mais enfática veio de Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Deputados dos EUA.

"Quero remover todas as dúvidas da mente de qualquer pessoa: tenho um grande nível de conforto com a situação como a vejo, com todo o respeito do mundo por qualquer mulher que se apresente e com o maior respeito por Joe Biden", disse Pelosi quando questionada sobre as acusações.

Até mesmo Trump levantou a possibilidade de que as acusações de Reade sejam falsas.

"Acho que ele [Biden] deveria responder. Podem ser acusações falsas. Eu sei tudo sobre acusações falsas, fui falsamente acusado várias vezes."

Trump foi acusado de agressão sexual e erro de conduta sexual por mais de uma dúzia de mulheres, que descreveram um padrão de comportamento que ultrapassa em muito as acusações feitas a Biden.

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