Questionado nesta quinta-feira (14) sobre a diferença entre o número de mortes causadas pelo coronavírus no Brasil e na Argentina, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) sugeriu que a comparação entre os dois países deve ser feita de maneira proporcional às suas populações, e não por números absolutos.
Até a noite desta quinta, o Brasil registrava 13.993 óbitos por Covid-19, enquanto o país vizinho havia confirmado 353 mortes, de acordo com dados compilados pela universidade americana Johns Hopkins.
"É só você fazer a conta por milhão de habitantes", respondeu o presidente. A comparação sugerida por ele, entretanto, expressa de maneira ainda mais evidente o resultado da gravidade dos efeitos da pandemia sobre o país.
A taxa de mortes por milhão de habitantes na Argentina é de 8. No Brasil, o número é mais de sete vezes maior: são 66 mortes a cada 1 milhão de habitantes. O cálculo a partir desse índice permite comparar locais com diferentes tamanhos de população.
Enquanto o presidente argentino, Alberto Fernández, decretou quarentena total no país em março, quando havia 128 casos confirmados, e prorrogou nesta semana as medidas de isolamento até, pelo menos, 24 de maio, por aqui, Bolsonaro voltou a criticar as medidas restritivas adotadas pelos governadores dos estados.
"Vamos preservar vidas, vamos. Mas dessa forma o preço lá na frente serão centenas a mais de vidas que vamos perder, por causa dessas medidas absurdas de fechar tudo."
Ao responder ao questionamento do jornalista sobre as cifras de mortes no Brasil e na Argentina, Bolsonaro disse que o profissional estava "defendendo [o governo do país vizinho]", porque "entrou para ideologia".
"Você pegou um país que está caminhando para o socialismo."
Fernández disse, em março, que "as declarações e ações de Bolsonaro levam a pensar que o Brasil pode entrar numa mesma espiral que a Itália" e acrescentou que se preocupa muito com o fato de que países "não entendam a gravidade do problema", em referência ao governante brasileiro.
Ainda nesta quinta, Bolsonaro mencionou rapidamente a estratégia da Suécia no combate ao coronavírus.
"Vamos falar da Suécia? Pronto! A Suécia não fechou!"
Sem um contexto mais detalhado, a referência do presidente ao país escandinavo que contraria a tendência global de medidas rígidas de isolamento dá a entender que o governo sueco está sendo bem-sucedido no enfrentamento à pandemia.
Um diretor executivo da Organização Mundial da Saúde (OMS) disse que a Suécia é um modelo a ser seguido por outros países.
A principal diferença foi que, em vez de decretar o fechamento dos estabelecimentos, o governo sueco confiou na população para tomar os cuidados com a infecção e se impor os limites necessários para combater a disseminação do vírus.
O país não decretou 'lockdown', mas estimulou ensino e trabalho a distância e o cancelamento de voos. A população que usa transporte público diminuiu cerca de 60% em Estocolmo, e os principais resorts de esqui fecharam voluntariamente.
Os números, entretanto, principalmente na comparação com Brasil e Argentina, não corroboram a insinuação de Bolsonaro.
Com menos de um quarto da população da Argentina, a Suécia tem um número de mortes por Covid-19 quase dez vezes maior.
A taxa de mortes por milhão de habitantes é de 349, quatro vezes maior que a brasileira e quase 43 vezes maior que a argentina.
A Suécia adotou um método menos restritivo contra o coronavírus e manteve bares, restaurantes e lojas abertas, além de não proibir as pessoas de irem às ruas. O primeiro-ministro sueco, Stefan Lofven, disse que conta com o voluntarismo da população.
Países escandinavos que adotaram medidas mais restritivas que a Suécia tiveram menos mortes. Até esta quinta (14), são 43 mortes por milhão de habitantes na Noruega, 52 na Finlândia e 93 na Dinamarca.
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