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Capital dos EUA reabre em meio a repique de casos de Covid-19

Lista de atividades permitidas aumenta na sexta após 59 dias de quarentena

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Washington

As ruas de Washington já estavam mais cheias havia pelo menos duas semanas. Ainda que a maior parte da cidade seguisse fechada sob regras de distanciamento social, moradores da capital dos EUA aproveitavam o sol mais forte da primavera para fazer exercícios e compras essenciais fora de casa.

Nesta sexta-feira (29), a lista de atividades permitidas vai aumentar após 59 dias de quarentena.

Washington inicia sua reabertura de forma mais tardia e conservadora que o restante do país, mas sem descartar o aumento de novos casos de Covid-19 na cidade.

A previsão pessimista está baseada na experiência de dezenas de estados americanos que têm retomado suas atividades desde o início de maio e, nos últimos 14 dias, tiveram repique no número de novos diagnósticos.

Ao anunciar que Washington começaria uma reabertura gradual, a prefeita Muriel Bowser disse na quarta-feira (27) estar ciente da possibilidade de novas infecções e que era preciso observar cada passo da retomada para evitar uma forte segunda onda de contágio.

"O vírus ainda está na nossa cidade, na nossa região, no nosso país", afirmou a democrata. "Nós sabemos que, sem vacina ou cura, haverá novas infecções."

No fim de semana, Washington havia registrado um aumento no número de casos, mas o departamento de saúde local já tinha mudado o critério para o alívio do isolamento e disse que a transmissão estava em queda sustentada, o que justificaria a primeira fase de reabertura.

Até agora, a capital americana registrou 8.406 diagnósticos e 445 mortes por Covid-19, enquanto os EUA são os líderes no mundo sob a pandemia, com mais de 1,7 milhão de casos e 101 mil óbitos.

Desde o fim de abril, o presidente Donald Trump suspendeu as orientações de distanciamento social e passou às autoridades locais a responsabilidade de executar o cronograma de reabertura, encabeçado inicialmente por estados governados por republicanos.

Alabama, Flórida e Carolina do Sul, por exemplo, foram pioneiros em anunciar o relaxamento de suas medidas e, segundo levantamento do New York Times, figuram entre os 17 estados (dos 50) que tiveram alta no número de novos casos nas últimas duas semanas.

Congressistas se reúnem em frente ao Capitólio, sede do Congresso dos EUA, em Washington - Saul Loeb/AFP

Junto com eles estão Califórnia, Lousiana, Maine, Mississipi e Arkansas. Em 18 estados, os novos casos estão em queda, como Nova York e Nova Jersey, os quadros mais críticos da pandemia nos EUA.

No restante, como Geórgia e Tennessee, há uma estabilização do patamar após um repique, mas ainda sem melhoras substanciais.

Especialistas afirmam que a tendência nacional é de queda, mas os números podem variar a cada dia e, portanto, é preciso acompanhar de perto a tendência de cada região.

Acrescentam que o crescimento nos casos pode estar atrelado também ao maior nível de testagem, como é o caso na Califórnia, mas reforçam que o aumento das transmissões é certeiro durante processos de reabertura, que devem desaguar em uma segunda onda de contágio no segundo semestre.

"Mais testes vão apontar mais casos confirmados, mas reabrir as atividades aumenta o risco de transmissão. É prestar atenção nas tendências e não apenas nas mudanças diárias dos números, já que os novos casos são referentes a transmissões feitas há 14 dias ou mais", explica Joseph Eisenberg, professor de epidemiologia da Universidade de Michigan.

A dificuldade, portanto, é tentar controlar o impacto dessa segunda onda em um país onde todos os 50 estados já retomaram parte de suas atividades, muitos deles sem o nível de testagem considerado seguro para a reabertura, e sem um programa eficaz de rastreamento e isolamento de novos infectados.

Para John Swartzberg, especialista em doenças infecciosas da Universidade da Califórnia em Berkeley, é possível tentar administrar a extensão dessa segunda onda, mas é quase impossível evitá-la.

"Se reabrirmos de maneira consciente, com rastreamento de novas infecções e isolamento de doentes, podemos controlar a situação e não ter tantos casos novos."

Com as falhas nesses mecanismos observadas até aqui, ele afirma, a segunda onda deve acontecer a partir de setembro. "Durante o verão [julho e agosto] vamos ver o crescimento de casos, mas não de forma dramática, porque as pessoas vão estar fora de casa, com menos chances de serem infectadas ao ar livre."

A previsão é que, com o retorno das aulas em setembro, as pessoas relaxem seus comportamentos. "Vão pensar que, como o verão não foi uma catástrofe, podem agir com menos cuidado e, então, vai chegar a segunda onda", explica Swartzberg.

Na segunda-feira (25), feriado nacional nos EUA, espalharam-se pelo país imagens de praias, parques e lagos lotados em diversos estados. Em Washington, por sua vez, a prefeita diz que as cenas não devem se repetir, já que muitas pessoas ainda devem ficar receosas de sair às ruas mesmo com a reabertura anunciada.

Donos de bares e restaurantes na Rua 14, uma das mais agitadas da capital americana, não contam com isso, e já se preparam para uma sexta-feira agitada.

A partir de agora, serão permitidas reuniões de até dez pessoas, restaurantes poderão servir em mesas do lado de fora —mantendo regras de higiene, distanciamento social e uso de máscaras.

Barbearias e cabeleireiros também voltarão às atividades, mas manicures, academias e piscinas públicas permanecem fechados. Parques e quadras de tênis, além dos famosos clubes de golfe, poderão reabrir, mas o trabalho remoto seguirá sendo estimulado.

A prefeita Bowser diz que a reabertura será feita aos poucos, que ainda não há previsão para a fase dois, e que a ordem de emergência de saúde pública continua valendo na cidade.

Washington é uma área preocupante porque, nas duas últimas semanas, registrou 263,2 novos casos por 100 mil habitantes, assumindo a liderança de casos per capita no país.

"Podemos ir a parques, sentarmos fora de um restaurante para comer, podemos fazer alguns serviços pessoais, mas não podemos fazer loucuras", disse a prefeita. "Minha mensagem é: fizemos muitos sacrifícios, mas precisamos continuar sendo espertos."


ONDE CASOS ESTÃO CAINDO

  • Colorado
  • Connecticut
  • Dakota do Sul
  • Delaware
  • Havaí
  • Illinois
  • Kansas
  • Kentucky
  • Massachusetts
  • Michigan
  • Nebraska
  • New Hempshire
  • Nova Jersey
  • Nova York
  • Oregon
  • Pensilvânia
  • Rhode Island
  • Texas

ONDE CASOS ESTÃO CRESCENDO

  • Alabama
  • Alasca
  • Arkansas
  • Califórnia
  • Carolina do Norte
  • Carolina do Sul
  • Dakota do Norte
  • Flórida
  • Idaho
  • Lousiana
  • Maine
  • Mississipi
  • Nevada
  • Vermont
  • Virgínia Ocidental
  • Wisconsin
  • Wyoming

ESTADOS COM NÚMERO ESTÁVEL DE CASOS

  • Maryland
  • Georgia
  • Virgínia
  • Ohio
  • Indiana
  • Minnesota
  • Tennessee
  • Washington
  • Iowa
  • Arizona
  • Missouri
  • Utah
  • Nova México
  • Oklahoma
  • Guam
  • Montana
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