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Depoimento

China reduz restrições, mas QR code no metrô e armário de delivery continuam, conta brasileiro

Em Shenzhen, crianças brincam de máscara nos playgrounds e parques reabriram

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Ivory Souza Júnior
Shenzhen (China)

Na Ásia, de onde a Covid-19 se espalhou pelo mundo, o auge da pandemia parece ter passado. A Folha reuniu relatos do dia a dia no Vietnã, em Singapura, na China e na Coreia do Sul, que dão pistas de como deve ser a vida pós-coronavírus.

Vivo na China há oito anos e fui para o Brasil em janeiro, para as férias do Ano Novo chinês. Aí estourou o caos, e acabei estendendo minha estadia. Voltei para cá só em abril.

Vim por Hong Kong e, chegando lá, tive que fazer uma quarentena obrigatória de 14 dias no hotel. Quando cheguei à China continental foi a mesma coisa: mais 14 dias de isolamento obrigatório em instalações do governo.

O brasileiro Ivory Júnior, que mora em Shenzhen, na China
O brasileiro Ivory Júnior, que mora em Shenzhen, na China - Arquivo pessoal

Moro em Shenzhen, uma cidade de 18 milhões de habitantes. Estamos há duas semanas sem novos casos de Covid-19, e há só um paciente em tratamento neste momento. A sensação é de segurança: eles testam todo mundo com sintomas, controlam as fronteiras, fizeram muita coisa desde o começo da epidemia.

Agora as restrições estão mais frouxas, mas muitos controles continuam. Em todo lugar onde você entra —shoppings, mercado, restaurante— tem câmera medindo a temperatura das pessoas. Alguns locais pegam seu nome e seu telefone ao entrar.

No metrô e nos ônibus, há um QR code que você escaneia com o celular e deixa registrado o dia e o horário em que esteve lá. Se o governo identifica que alguém contaminado esteve no mesmo horário perto de você, eles te telefonam para que faça o teste e fique em quarentena. Não é obrigatório escanear esse código, mas parece que no início todo mundo fazia. Agora que há poucos casos da doença, eu percebo que cerca de 60% fazem esse registro.

Os condomínios de prédios também colocaram restrições, como fazer uma carteirinha para os moradores e proibir visitas. No meu, isso continua, mas alguns já liberaram pessoas de fora.

Como não é mais permitido que os entregadores de delivery entrem nos edifícios, os condomínios colocaram uma espécie de armário aberto na entrada onde eles deixam a comida para que o morador desça e busque. Ficam todas as sacolas ali, expostas, mas a China é muito segura, e eu nunca soube de nenhum furto dessas sacolas.

Os parques reabriram, os restaurantes também. No começo eles seguiam regras de distanciamento entre as mesas, mas agora não tem mais isso. As academias também começaram a funcionar.

Algumas escolas já voltaram às aulas, e as crianças estão brincando nos playgrounds e parques normalmente, só que de máscara. A máscara já virou parte do cotidiano.

Na minha empresa, eles desinfetam o elevador cinco vezes ao dia e dão lencinhos de papel para apertarmos o botão sem encostar. Fora isso, a rotina está normal.

Não existe muito medo de uma segunda onda de contaminação vinda de fora porque o cuidado deles é muito grande. As fronteiras ainda estão fechadas para estrangeiros em toda a China, só chineses e residentes entram. Todo mundo que chega precisa passar 14 dias em um hotel em quarentena e só te liberam se seu teste der negativo.

Eles não dão brecha para que os infectados contaminem outras pessoas. Um amigo meu pegou o vírus e passou 18 dias em um hospital. Só saiu após vários testes negativos. Depois ele ficou mais 14 dias isolado em outro hospital e foi recomendado a passar outros 14 sem sair de casa.

Quando Wuhan reabriu, havia um medo de que alguém de lá trouxesse o vírus de novo, pois muitos moradores da cidade trabalham aqui. Mas isso não aconteceu. Minha percepção é que os cuidados não estão sendo deixados para trás. Nos sentimos seguros aqui.

Ivory Souza Júnior, 34, é relações-públicas e trabalha com marketing em uma empresa de biotecnologia. Depoimento a Flávia Mantovani

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