Descrição de chapéu Coronavírus

Com máscaras e álcool em gel, restaurantes se adaptam à reabertura nos EUA

Em Austin, no Texas, casas voltam a funcionar com menos lugares; maioria segue fechada

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Austin (EUA)

"Mas como você vai comer com a máscara?"

A pergunta da minha filha de quase três anos me fez revisar mais uma vez a lista de regras antes de sair para almoçar no último final de semana, quando restaurantes reabriram após mais de 50 dias de quarentena em Austin, no Texas.

O estado está entre os que flexibilizaram medidas de isolamento adotadas para mitigar a propagação da Covid-19. Na última semana, liberou abertura de lojas e restaurantes, com restrições e regras aos clientes e aos funcionários.

Bartenders de máscaras atendem clientes sentados atrás de divisória de vidro no restaurante Arnaldo Richard's Picos em Houston, no Texas
Bartenders de máscaras atendem clientes sentados atrás de divisória de vidro no restaurante Arnaldo Richard's Picos, em Houston, no Texas - Callaghan O'Hare - 4.mai.20/Reuters

Usar máscara é uma delas. Quem for comer fora deve manter a proteção no rosto "quando não estiver na mesa", diz o guia divulgado pelo governador, o republicano Greg Abbott, no dia 27 de abril.

Sim, é impossível comer com uma máscara, mas é recomendado usá-la enquanto não estiver comendo.

Voltar a um restaurante após quase dois meses de quarentena nos EUA é estar num mundo diferente daquele em que vivíamos antes da Covid-19. O novo normal impõe dúvidas e hábitos que seriam bizarros sem a pandemia.

Garçons de máscara anotavam pedidos a passos de distância das mesas e dos clientes e serviam os pratos com luvas no Cisco's, na região oeste de Austin, no sábado (2).

O local é famoso por ser um dos mais antigos restaurantes de tex-mex, culinária que mistura pratos e temperos mexicanos com outros do sul dos Estados Unidos.

Aberto em 1950, o Cisco's entrega o que um restaurante tradicional —tipo as cantinas de São Paulo— costuma ter: decoração bagunçada, com recortes de jornal enquadrados, fotos na parede de clientes famosos (dos ex-presidentes George Bush e Lyndon Johnson ao ator Kevin Costner), garçons simpáticos e comida farta e apetitosa.

Com a maioria dos lugares disponíveis ocupados por clientes, os funcionários não tinham dificuldade para se locomover nos dois salões do restaurante. O governo local determinou que os estabelecimentos que aderirem à reabertura podem operar, no máximo, com 25% da capacidade normal.

Para cumprir a regra, uma pequena reforma precisou ser feita no local. Mesas e cadeiras foram guardadas num terceiro salão, que está fechado.

Clientes antigos estranharam o espaço maior entre as mesas e cadeiras. Um novo item de decoração também chamava a atenção: tubos de álcool em gel fixados na parede para quem quisesse desinfetar as mãos.

"É bom poder sair de novo", comemorava o publicitário Andrew Alcid, 30, enquanto aguardava no balcão, onde três em cada quatro bancos tinham um aviso colado: não sente aqui.

O guia de normas do governo para a reabertura diz ser proibido mesas com mais de seis clientes. Além disso, orienta os empresários a manter uma limpeza permanente do local durante o expediente.

Os funcionários do Cisco's se esforçavam para seguir as regras. A cena de um garçom jogando desinfetante e passando um escovão no chão enquanto clientes comem deve virar rotina nos EUA.

O proprietário do Cisco's não quis falar com a Folha. Uma das garçonetes afirmou que ele disse estar muito ocupado.

"Depois de mais de um mês sem clientes aqui, temos que recuperar o tempo perdido", completou Amanda, 35, com um sorriso atrás da máscara.

Reabertura tem adesão restrita de restaurantes

Mais da metade dos estados americanos já anunciou o afrouxamento das restrições impostas em razão da Covid-19. País com maior número de contaminados (1,1 milhão) e mortes (68 mil) em decorrência da doença, os EUA ensaiam a reabertura da sua economia.

O movimento é incentivado pelo presidente Donald Trump e questionado por cientistas.

Os tipos de estabelecimento liberados para funcionar e as regras variam em cada estado. Os governos locais têm poder para decidir quando e como será a reabertura.

Na Geórgia, o republicano Brian Kemp foi um dos primeiros a implementar um plano de afrouxamento das restrições, no dia 27 de abril. Ele liberou não só restaurantes mas outros serviços, como academias de ginástica, teatros, cinemas e salões de beleza.

Com mais de 27 mil contaminados e mil mortes confirmadas por Covid-19, o estado adotou a estratégia mais radical de abertura. Na capital Atlanta, o plano foi criticado pela prefeita democrata Keisha Lance Bottoms e até mesmo por proprietários de restaurantes.

Na primeira semana sem restrições, um grupo formado por mais de cem estabelecimentos divulgou uma campanha desencorajando os empresários a abrirem as portas em meio à pandemia.

"Acreditamos que é o melhor para os nossos funcionários, clientes, comunidade e para a indústria do entretenimento manter os restaurantes fechados", afirmou o movimento batizado de #GAHospitalityTogether.

Em Austin, a maioria dos restaurantes preferiu seguir sem receber clientes. Muitos mantiveram a cozinha funcionando apenas para serviços de entrega. É o caso do Franklin BBQ, famoso pelo seu brisket (peito de boi) defumado e sua fila de mais de uma hora.

"O fato de estar liberado abrir os restaurantes não quer dizer que os clientes vão se sentir seguros", afirmou o proprietário, Aaron Franklin, à revista Texas Monthly.

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