Crimes contra judeus aumentam na Alemanha e 90% são atribuídos à extrema direita

Para ministro alemão, 'maior ameaça no país vem da direita', que também tem protestado contra medidas de isolamento

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Berlim | Reuters

O número de crimes antissemitas cometidos na Alemanha aumentou 13% no ano passado, em comparação com 2018, disse, nesta quarta-feira (27), o ministro do Interior alemão, Horst Seehofer.

Autoridades registraram 2.032 crimes relacionados ao ódio contra judeus. Segundo o ministro, mais de 90% deles foram perpetrados por grupos radicais de extrema direita.

A polícia alemã também alertou que milhares de manifestantes que protestam contra medidas de bloqueio para contenção do coronavírus são em grande parte motivados por simpatizantes da extrema direita.

Homem usa máscara com símbolo nazista durante protesto contra medidas de contenção do coronavírus em Stuttgart - Kai Pfaffenbach - 16.mai.20/Reuters

A Alemanha intensificou os esforços para combater esses grupos nos últimos meses, especialmente depois que, em outubro do ano passado, um homem armado matou duas pessoas em frente a uma sinagoga na cidade de Halle, no leste do país.

O crime, transmitido ao vivo na internet, ocorreu no dia do Yom Kippur, a data mais sagrada para o judaísmo.

No geral, o número de crimes de motivação política aumentou 14% em 2019, para 41.177, mais da metade dos quais foram cometidos por radicais de extrema direita.

Crimes praticados por militantes de esquerda, principalmente o vandalismo, aumentaram 23%, de acordo com os dados divulgados pelo ministro alemão.

"A maior ameaça em nosso país vem da direita. Isso é uma realidade. Precisamos permanecer alertas e combatê-la", disse Seehofer.

Os números repercutiram na comunidade judaica da Alemanha.

"O ataque em Halle no ano passado foi um sinal", disse Josef Schuster, presidente do Conselho Central de Judeus, pedindo aos políticos e à sociedade que façam mais para combater o antissemitismo que, segundo ele, tornou-se comum na Alemanha.

"Especialmente na internet, o ódio irrestrito nos atinge. Mas também nas ruas e nas escolas a rejeição aos judeus é um problema enorme."

No início do mês, quando foi comemorado o aniversário de 75 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, Schuster alertou que muitos jovens alemães não aprenderam nada com as lições de história.

"Na opinião deles, a Segunda Guerra Mundial está muito distante, não há mais um ponto de referência. Se cerca da metade dos jovens não conhece o termo Auschwitz, algo está errado", disse ele, citando um dos mais famosos campos de concentração da Alemanha, onde morreram mais de 6 milhões de judeus.

O antissemitismo no Brasil também cresceu nos últimos cinco anos, de acordo com um levantamento da Anti-Defamation League, organização judaica americana que luta contra discriminação.

Em 2014, 16% da população brasileira tinha visões antissemitas. Em 2019, saltou para 25% a parcela de brasileiros que perpetuam estereótipos e preconceitos em relação aos judeus.

O grau de ignorância também é grande —no Brasil, 22% dos entrevistados na pesquisa nunca ouviram falar no Holocausto e 15% acham que o número de mortos no Holocausto tem sido exagerado.

Em abril, lideranças judaicas exigiram um pedido de desculpas do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, depois que ele comparou o isolamento social para conter o coronavírus aos campos de concentração nazistas.

Sob o pretexto de uma afirmação do filósofo e psicanalista esloveno Slavoj Zizek, segundo o qual os nazistas fizeram um "péssimo uso" do lema "o trabalho liberta", gravado em alemão na porta do campo de concentração em Auschwitz, Ernesto escreveu em seu blog pessoal: "Os comunistas não repetirão o erro dos nazistas e desta vez farão o uso correto. Como? Talvez convencendo as pessoas de que é pelo seu próprio bem que elas estarão presas nesse campo de concentração, desprovidas de dignidade e liberdade".

O ministro ignorou a cobrança por retratação e acusou a imprensa de ter distorcido suas afirmações.

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