Dia #58 – Domingo, 10 de maio. Cena: Vi “Epidemia” (1995) ontem e tive altos pesadelos epidêmicos.
Feliz dia do feeling maternal!
Gosto mais de algo assim que de FelizDiaDasMães. Chamem de sacrilégio ou pegar carona em festa alheia, eu chamo de unir-se à celebração. Que podemos ser todos mães, em inúmeros sentidos e quesitos.
E filhos, e seres queridos e querentes, e tex rex, corazones confinados com vontade de voar, voar; subir, subir; ir por onde for...
O Dia das Mães espanhol foi no domingo passado. Aconteceu discretamente, com todo mundo ainda metido em casa vendo propaganda de tempero sazon na tevê.
Se a minha mãe não vivesse a um oceano de distância e eu tivesse um unicórnio voador, poderia finalmente visitá-la e abraçá-la (abraço: esse gesto-urso de tempos antigos).
Como agorita mesmo não dá, falamos por vídeochamada mesmo, toda a diáspora filial colada em janelinhas virtuais para um clássico oi-mamãe de segundo domingo de maio (por cierto, não sou a única da família morando na gringa!).
Nesta tão esperada segunda-feira (11), 51% dos espanhóis entram na tal fase um da desescalada, depois de quase dois meses de confinamento.
Isso significa uma miríade de coisas, nem todas totalmente claras a esta altura.
Primeiríssima coisa aparentemente clara e amplamente desejada: na fase um, passam a ser permitidos encontros de até dez familiares, amigos e whatevers, desde que respeitadas as regras de distanciamento social (dois metros, máscara, tossir no cotovelo, dizer “oi” de longe a um familiar que não se vê há dois meses, comportar-se como uma Gioconda pueril mascarada na próxima festinha na casa do Pepe etc. etc.).
Falô. Já veremos.
Outro exemplo de coisa-a-princípio-clara: algumas rotas aéreas e marítimas dentro das ilhas Baleares e Canárias serão reabertas, com até 50% da lotação de aeronaves e quetais.
Os dois arquipélagos fazem parte do seleto time da fase um, ao reunir requisitos sanitários e socioeconômicos adequados para assumir um relaxamento de normas. Desde sempre, estão entre os territórios menos atingidos pelo vírus.
Muitos canários têm família ou trabalho em diferentes ilhas. A abertura permitirá que eles se movimentem pelo arquipélago e, como antes da pandemia, com preços preferenciais. A comunicação com o continente permanece fechada.
Terceira novidade: negócios com menos de 400 m² nos territórios da fase um poderão reabrir com 30% (comércio) a 50% de suas capacidades, no caso de bares e restaurantes —estes, só com a parte exterior em funcionamento.
As mesas ao ar livre deverão estar separadas por dois metros entre si, e cada mesa não pode ter mais de dez pessoas. Em alguns lugares, quem não tiver terraço vai poder botar um barril ou mesinha fora.
Os problemas nascem com as minúcias práticas.
Por exemplo. Essa lotação hipotética de 10-pessoas-por-mesa funciona (matemática básica) se você tem pelo menos 20 lugares à disposição no seu bar.
Mas, considerando que 72% dos terraços de Barcelona têm capacidade para menos de 16 cadeiras, isso significa que com apenas, por exemplo, duas mesas de quatro a maioria dos negócios com mesa ao ar livre da cidade já lotaria na fase um.
Pra atenuar essa perspectiva um tanto desoladora para muitos negócios, a prefeitura de Barcelona está providenciando a ampliação das áreas ao ar livre de restaurantes e bares.
A ideia é também cortar 75% da taxa obrigatória para terraços uma vez acabe o estado de emergência —o que significará sete milhões de euros menos para os cofres públicos, mas também uma ajuda amiga para um setor que, com o turismo, sustenta boa parte da economia da cidade.
E que, nos próximos meses, nos dará também a alegria de poder sentar ao sol e pedir um vermú, umas “bravas”, um “vinito”, una “caña” (cerveja).
Aqui em Barcelona, como em Madri, a gente segue na chamada fase zero por pelo menos mais uma semana. Saindo em horários restritos. Negócios permanecem fechados. Nada de reuniões. Nada de abraços. Em breve. Fugir, meu bem, pra ser feliz...
“Músicas para Quarentenas” podem ser escutadas aqui.
DIÁRIO DE CONFINAMENTO
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Dia 1: 'Não estamos de férias, mas em estado de alarme'
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Dia 2: 'Teste, só para pacientes internados'
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Dia 3: 'A vida vista de cima'
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Dia 4: 'Panelaço contra o rei'
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Dia 5: 'O perigo mora em casa'
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Dia 6: 'Solidariedade em tempos de vírus'
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Dia 7: 'O lado utópico da crise'
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Dia 8: 'O canto dos pássaros urbanos'
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Dia 9: 'Os de baixo ficam sem banquete'
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Dia 10: 'Essa desproteção vai cobrar fatura'
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Dia 11: 'Se não estamos no pico, estamos muito próximos'
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Dia 12: 'Tensão cresce em diferentes setores'
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Dia 13: 'Único tratamento agora é a disciplina'
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Dia 14: 'Os domingos são como segundas, e as segundas como domingos'
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Dia 15: 'Cada incursão ao exterior é uma operação de guerra'
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Dia 16: 'Começam a proliferar os vigilantes da lei entre os cidadãos'
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Dia 17: 'Tem chovido muito nestes dias em Barcelona'
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Dia 18: 'Tem chovido muito nestes dias em Barcelona'
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Dia 19: 'A vida vai registrando uma sucessão de recordes negativos'
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Dia 20: 'Come chocolates, pequena'
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Dia 21: 'Com avanço da crise, aumentam a tensão e as divergências'
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Dia 22: 'Separados por confinamento, casais marcam encontro no supermercado'
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Dia 23: 'Independentemente da duração, todos sabemos o que é uma quarentena'
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Dia 24: 'A manhã começou com um tutorial japonês maravilhoso sobre tofu'
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Dia 25: 'Espanha testará 30 mil famílias'
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Dia 26: 'Hoje deu vontade de ver o mar'
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Dia 27: 'Perspectiva é de que quarentena tenha prorrogação-da-prorrogação'
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Dia 28: 'E eu, sou não-essencial?'
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Dia 29: 'Qual é a importância das pequenas coisas?'
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Dia 30: 'Após um mês, os espanhóis (alguns) voltam às ruas'
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Dia 31: 'Não há ninguém para colher cerejas'
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Dia 32: 'Queremos pedir que você busque outra casa'
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Dia 33: 'Sobre política e pardais'
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Dia 34: 'As mandíbulas de Salvador Dalí'
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Dia 35: 'Escola, só no ano que vem'
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Dia 36: 'A Nova Normalidade'
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Dia 37: 'A dor é temporária; o orgulho é para sempre'
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Dia 38: 'O início da reconstrução'
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Dia 39: 'O elaborado ritual do passeio em família'
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Dia 40: 'A cidade mascarada'
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Dia 41: 'Um Dia dos Namorados diferente'
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Dia 42: 'Sair, sim, mas com separação de brinquedos'
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Dia 43: 'Tínhamos que tomar decisões duras e rápidas'
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Dia 44: 'A cidade das crianças'
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Dia 45: 'Isso não acabou'
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Dia 46: 'Quatro etapas para o verão'
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Dia 47: 'As piedras no caminho'
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Dia 48: 'O jeito luso'
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Dia 49: 'As novas regras do rolê'
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Dia 50: 'Sobre crânios e crises'
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Dia 51: 'Um dia inesquecível'
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Dia 52: 'Começa o descofinamento'
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Dia 53: 'O comandante e as ovelhas'
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Dia 54: 'Confinados por um fio'
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Dia 55: 'O calor e o jogo do contente'
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Dia 56: 'A Barcelona de mil caras'
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Dia 57: 'Redescobrindo o amor'
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Dia 58: 'Espanha avança pela metade'
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Dia 59: 'O voo da discórdia'
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Dia 60: 'O ano que não houve'
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Dia 61: 'Passando de fase'
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Dia 62: 'Sobre manifestações e cabeleireiros'
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Dia 63: 'San Isidro com flores e máscaras'
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Dia 64: 'Dá medo, medinho, medaço'
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Dia 65: 'Máscaras e luvas jogadas na rua'
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Dia 66: 'Quentinhas de luxo'
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Dia 67: 'Brasil para espanhol ver'
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Dia 68: 'Parecia Copacabana'
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Dia 69: 'O passinho do lagarto'
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Dia 70: 'As pessoas meio que gritam entre si'
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Dia 71: 'O augúrio chinês'
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Dia 72: 'Estamos enlouquecendo?'
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Dia 73: 'Nazaré confusa e fila pra cerveja'
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Dia 74: 'Enquanto julho não vem'
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Dia 75: 'Contemplemos, meditemos, recordemos'
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Dia 76: 'A fábula do terrorista e da marquesa'
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Dia 77: 'O informe da discórdia'
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Dia 78: 'Lições da cólera em tempos de coronavírus'
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Dia 79: 'Nos deram um pouco de liberdade e agimos como se o vírus não existisse'
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Dia 80: 'Sem pressa, mas sem pausa'
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Dia 81: 'Botellones, a nova discoteca pós-Covid'
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Dia 82: 'Pandemia, crise e racismo'
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Dia 83: 'Sair da UTI para ver o mar'
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Dia 84: 'A senhora deu positivo e deve se isolar imediatamente'
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Dia 85: 'A verdade é que é uma incerteza para todos'
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Dia 86: 'A cultura de bar na Espanha é expressiva'
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Dia 87: 'Todo cuidado é pouco e, inclusive, pode não ser suficiente'
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Dia 88: 'O vírus segue sendo uma ameaça'
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Dia 89: 'O fogo que nunca se apaga'
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Dia 90: 'Uma bolha, uma família'
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Dia 91: 'Músicos do mundinho, uni-vos'
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Dia 92: 'Como um clube de jazz dos anos 1930'
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Dia 93: 'Dinheiro pode estar com os dias contados no pós-pandemia espanhol'
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Dia 94: 'Uma vida de mil e uma regrinhas'
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Dia 95: 'Cada dia, ao chegar em casa, me isolava da minha família'
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Dia 96: 'Abraços, mesmo que de plástico'
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Dia 97: 'Em casa com o agressor'
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Dia 98: 'Já vivemos como podemos, e não há mais'
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Dia 99: 'O ídolo pop e as amêndoas'
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