Duas semanas após massacre, Canadá proíbe armas de calibre militar

Atirador matou 22 pessoas em pior atentado da história do país

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Ottawa | Reuters e AFP

Cerca de duas semanas depois do pior ataque a tiros na história do Canadá, o governo anunciou nesta sexta (1º) a proibição de mais de 1.500 modelos de fuzis de calibre militar no país.

"Essas armas foram projetadas para um único objetivo: matar o maior número de pessoas o mais rapidamente possível. E elas não têm uso ou lugar no Canadá", disse o primeiro-ministro, Justin Trudeau, durante entrevista coletiva na qual divulgou a medida, que entrou em vigor imediatamente.

No assassinato em massa ocorrido no mês passado, que deixou 22 mortos na província da Nova Escócia, o atirador usou carro e uniforme modificados para se parecerem com os da polícia. Disfarçado, matou conhecidos e estranhos em um período de 12 horas, até ser finalmente morto pela polícia.

Das 22 vítimas, 13 foram mortas com tiros de armas de fogo e as outras 9 morreram em incêndios provocados pelo atirador —ele ia colocando fogo nas casas por onde passava. No caminho da destruição, também feriu ou matou animais de estimação.

As forças de segurança disseram que o atacante, identificado como Gabriel Wortman, um dentista de 51 anos, tinha diversas armas semiautomáticas de mão e ao menos dois rifles, um dos quais foi descrito por uma testemunha como sendo do tipo militar.

O premiê canadense, Justin Trudeau, durante entrevista coletiva em Ottawa - Blair Gable 1.mai.2020/Reuters

Pela norma que entrou em vigor nesta sexta, fica proibido comprar, vender, transportar, importar ou usar armas de estilo militar. "Muitas pessoas em todo o país usam armas de fogo de forma legal e responsável, seja para trabalho ou caça. Mas você não precisa de um AR-15 para atirar em um cervo", completou o premiê.

O primeiro-ministro acrescentou que "pensamentos e orações" para as vítimas de massacres não eram suficientes e por isso seu governo resolveu agir.

Atualmente, existem mais de 100 mil armas em circulação no Canadá entre os modelos proibidos, segundo o governo.

Entre as armas banidas estão o fuzil AR-15, usado por um atirador para matar 26 adultos e crianças no massacre de Sandy Hook, em 2012, nos Estados Unidos, e os rifles de assalto M4, M14 e M16.

Outras armas da lista incluem o rifle Ruger Mini-14, usado em um tiroteio em massa em 1989 em Montreal, no qual 14 mulheres foram mortas, bem como carabinas CZ Scorpion, Beretta CX4 Storm e Swiss Arms Classic Green.

Quem quiser descartar uma arma que já possua terá um período de dois anos para fazê-lo, sem ser punido. Trudeau afirmou que o Parlamento vai pensar em alguma forma de compensação a estas pessoas, mas os sobreviventes dos assassinatos dizem temer que esse programa de compras acabe não sendo obrigatório.

O premiê fez da proibição de armas de assalto uma promessa da campanha eleitoral que o levou ao poder pela primeira vez em 2015 e que ele reiterou durante as eleições de outubro passado, quando foi reeleito.

No entanto, essa questão gerou divisões dentro de seu Partido Liberal entre legisladores urbanos e rurais, que adiaram a decisão até o massacre da Nova Escócia.

Ataques com armas são muito raros no Canadá. Até o atentado em abril, o pior assassinato em massa tinha ocorrido em dezembro de 1989, quando um homem de 25 anos que se dizia antifeminista invadiu a Escola Politécnica de Montreal com um rifle e uma faca e abriu fogo exclusivamente contra mulheres, deixando uma secretária e 13 estudantes mortos.

Depois disso, em 29 de janeiro de 2017, um homem de ultradireita disparou contra fiéis reunidos em uma mesquita de Quebec, deixando seis mortos e vários feridos. No discurso desta sexta, Trudeau afirmou que nenhum dos três massacres deveria ter ocorrido.

A nova proibição reforça ainda mais os controles de armas no Canadá, que já eram mais rigorosos do que os dos Estados Unidos. Entre 2010 e 2019, 526 americanos perderam as suas vidas em 63 ataques a tiros em locais de trabalho, escolas e igrejas.

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