Descrição de chapéu Coronavírus Governo Trump

'Não quero pessoas infectando nosso povo', diz Trump ao repetir chance de vetar voos do Brasil

Americano afirma que enviará respiradores para ajudar o país, mas sem explicar como isso acontecerá

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Washington e São Paulo

O presidente Donald Trump voltou a afirmar nesta terça-feira (19) que cogita proibir voos provenientes da América Latina de entrarem nos Estados Unidos, principalmente devido ao aumento no número de casos de coronavírus no Brasil.

“Eu me preocupo com tudo, eu não quero pessoas vindo para cá e infectando nosso povo”, disse o americano a jornalistas na Casa Branca, referindo-se especificamente ao caso brasileiro.

O presidente dos EUA, Donald Trump, durante reunião com seu gabinete na Casa Branca nesta terça (19)
O presidente dos EUA, Donald Trump, durante reunião com seu gabinete na Casa Branca nesta terça (19) - Brendan Smialowski/AFP

“Eu também não quero que o povo lá [no Brasil] fique doente. Nós estamos ajudando o Brasil com respiradores”, declarou Trump. “O Brasil está tendo alguns problemas, sem dúvida.”

Trump não deu detalhes de como funcionaria esse envio de respiradores ao Brasil e ainda não há nenhum plano anunciado pelo governo americano nesse sentido.

Horas depois da fala do americano, a embaixada dos EUA em Brasília anunciou que o governo americano, por meio do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças), vai destinar US$ 3 milhões (cerca de R$ 17 milhões) para o combate à pandemia no Brasil.

Os recursos, porém, não se referem aos respiradores, mas serão empenhados, segundo a embaixada, "para melhoria do rastreamento de casos, no controle de surtos e no fornecimento de dados para uma reabertura segura no Brasil".

Há pouco mais de um mês, em 14 de abril, o secretário de Estado, Mike Pompeo, disse que os EUA ajudariam o Brasil com insumos somente quando a situação melhorasse entre os americanos —hoje são mais de 1,5 milhão de casos de Covid-19 confirmados nos EUA, com 91,5 mil mortes.

Pompeo foi questionado em conversa com jornalistas sobre o possível confisco de carregamentos médicos destinados ao Brasil no início de abril, mas negou qualquer esforço para isso dentro do governo Trump. Segundo o chefe da chancelaria americana, os EUA estão contribuindo com assistência humanitária no Brasil.

Segundo o indicado à embaixada do Brasil em Washington, Nestor Forster, o governo americano ofereceu uma isenção limitada aos brasileiros à sua Lei de Produção de Defesa.

"Cada país, como é natural, dará prioridade à sua própria população, mas os EUA asseguraram ao Brasil uma isenção da Lei de Produção de Defesa. Essa isenção garante ao Brasil a possibilidade de aquisição de respiradores artificiais, até um certo limite, caso o Ministério da Saúde tenha interesse em adquirir equipamentos fabricados nos EUA", explica Forster.

Trump invocou a lei da época da Guerra da Coreia no início de abril, com o objetivo de direcionar a produção do país para o território nacional.

O diplomata diz que a cooperação científica e de aquisição de materiais foi debatida quando Trump conversou com o presidente Jair Bolsonaro, ainda em abril, por telefone, mas nada concreto foi anunciado desde então.

Questionada pela reportagem, a Casa Branca não respondeu sobre o possível envio de respiradores ao Brasil até as 20h desta terça.

Em relação aos voos, Forster repetiu que não há até agora nenhuma decisão sobre o cancelamento das rotas ou imposição de restrições aos brasileiros que quiserem viajar aos EUA.

"Brasil e EUA seguem cooperando amplamente na resposta à pandemia. As autoridades americanas avaliam de forma permanente e rotineira a situação dos voos que chegam ao país, assim como o Brasil tem feito. Não há, no momento, nenhuma nova decisão quanto a cancelamento de conexões aéreas com o Brasil nem de imposição de restrições a este respeito."

O governo brasileiro já tinha agido para tentar convencer autoridades americanas que os voos entre os países foram reduzidos pelas companhias aéreas e têm servido praticamente apenas para repatriar brasileiros, ou seja, não seria necessária uma medida de suspensão oficial.

A Casa Branca havia informado diplomatas brasileiros de que não havia nenhum plano concreto até agora nesta direção, apesar de Trump ter citado repetidas vezes essa possibilidade.

Na segunda (18), o Brasil ultrapassou o Reino Unido e se tornou o terceiro país no mundo com mais casos de coronavírus, atrás apenas da Rússia e dos Estados Unidos.

Durante a conversa com os jornalistas, Trump disse que seus país está na liderança desse ranking apenas porque tem uma grande população e tem feito mais testes de Covid-19.

“Quando nós temos muitos casos eu não vejo isso como uma coisa ruim, eu vejo, em certo aspecto, como uma coisa boa, porque significa que estamos testando melhor”, afirmou ele. “Eu vejo como uma medalha de honra. É uma grande mostra da nossa capacidade de testagem e de todo o trabalho que muitos profissionais estão fazendo.”

O presidente americano também voltou a afirmar que sua principal preocupação com o aumento de casos no Brasil é com a Flórida, que costuma receber muitos brasileiros.

Durante um encontro em 28 de abril com o governador do estado, o também republicano Ron DeSantis, Trump já tinha levantado a hipótese de proibir os voos do Brasil.

"O Brasil está tendo um grande surto. Eles foram por um caminho diferente do da maioria da América do Sul. Quando você olha os gráficos, infelizmente percebe o que está acontecendo com o Brasil", afirmou ele durante a reunião.

Na ocasião, o líder americano disse que provavelmente iria impor medidas para obrigar turistas brasileiros a passarem por testes rápidos de detecção de Covid-19 e a terem suas temperaturas medidas antes de embarcarem em direção ao território americano —nada disso foi implementado.

Antes disso, ele já tinha levantado a possibilidade de restringir voos brasileiros no final de março, mas também acabou não impondo nenhuma medida.

Aliado de Trump, Bolsonaro tem sido um dos poucos líderes da América Latina —e do mundo— a minimizar a gravidade da Covid-19. O presidente brasileiro chegou a compará-la a uma gripezinha.

Apesar disso, Trump tem adotado cautela ao ser questionado sobre Bolsonaro. Não critica a postura negacionista do aliado, mas não deixa de chamar a atenção para a situação grave do país.

O republicano, que no início também minimizava a pandemia, passou a defender medidas de isolamento em março, e desde o fim de abril voltou a pedir a reabertura de parte do país.

Com Reuters

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.