Descrição de chapéu Governo Trump Venezuela

Trump diz que ação na Venezuela seria chamada de invasão se feita pelos EUA

Presidente americano negou envolvimento de seu governo em entrevista à Fox News

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São Paulo

O presidente dos EUA, Donald Trump, reafirmou nesta sexta-feira (8) que o governo americano não está por trás de uma operação na Venezuela que teria por objetivo capturar o ditador Nicolás Maduro e tirá-lo do poder.

A declaração foi feita em entrevista à emissora de TV Fox News, em que o republicano disse ainda que não confiaria em grupo tão pequeno para tal missão. Para Trump, não foi um bom ataque, realizado por uma equipe desonesta, que incluía venezuelanos e pessoas de outros países.

“Eu não sei de nada. Acredito que o governo nada tenha a ver com isso tudo e terei que descobrir o que aconteceu”, afirmou. “Se fôssemos fazer algo com a Venezuela, não seria desse jeito. Seria um pouco diferente. Seria chamado de invasão.”

O presidente dos EUA, Donald Trump, em reunião com representantes republicanos do Congresso americano
O presidente dos EUA, Donald Trump, em reunião com representantes republicanos do Congresso americano - Mandel Ngan - 8.mai.20/AFP

Na entrevista, o líder americano lembrou ainda do primeiro presidente do país para falar sobre a suposta operação. “Eu vi fotos de uma praia. [A operação] não foi liderada pelo general George Washington, obviamente”. A figura histórica é considerada por muitos um ás em assuntos militares.

No domingo (3), o regime venezuelano anunciou a interceptação de um grupo de mercenários, chamados por Maduro de terroristas, que tentava entrar no país a bordo de lanchas, vindas da Colômbia. Segundo as autoridades, oito pessoas morreram na operação e ao menos 19 foram presas.

Na quarta (6), Maduro foi à TV e exibiu o documento de um americano que disse ter sido contratado para treinar grupos de venezuelanos na Colômbia, ir com eles para Caracas, capturar Maduro e levá-lo aos EUA.

Trump já havia se pronunciado sobre o assunto mais cedo nesta sexta, em entrevista coletiva na Casa Branca. “Acabamos de saber disso”, afirmou o presidente americano ao ser questionado sobre a operação, acrescentando que o seu governo nada tinha a ver com a missão.

Também nesta sexta, o Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca (NSC, na sigla em inglês) negou, por meio de comunicado, o envolvimento dos EUA na missão, em declaração similar à do presidente na entrevista à Fox News.

O órgão afirmou que o governo americano nada tinha a ver com os eventos recentes e que rumores contrários a isso não são dignos de confiança. “Se isso tivesse sido uma operação planejada pelos EUA, como alega Maduro, que é acusado de narcoterrorismo [pelos EUA], teria sido clara, direta e efetiva”, diz o texto.

O caso continua a ter desdobramento também na Venezuela.

O procurador-geral do país, Tarek Saab, disse que foi solicitado o pedido de prisão e extradição do veterano Jordan Goudreau, ex-militar de uma das forças especiais do Exército dos EUA, e dos venezuelanos Juan Rendón, chefe do comitê de estratégia do líder opositor de Maduro, Juan Guaidó, e Sergio Vergara, acusados de estarem envolvidos na suposta operação.

Em imagem divulgada pelo governo Maduro, soldados venezuelanos escoltam suspeito de integrar operação contra o regime - Governo da Venezuela via Reuters

Segundo reportagem publicada pelo The Washington Post, baseada em conversas com mais de 20 pessoas, incluindo Rendón, o planejamento da missão teria começado em setembro de 2019, em Miami.

Ali, representantes de Gauidó se reuniram com Goudreau, dono da empresa de segurança privada Silvercorp.

Na ocasião, o ex-militar disse que teria 800 homens prontos para entrar na Venezuela e capturar Maduro e seus principais líderes. Segundo a agência de notícias Reuters, Goudreau afirmou ter sido responsável pela operação.

É Rendón quem liga Guaidó à operação. Exilado em Miami, afirmou ter representado o líder opositor nos encontros para tratar da operação. Segundo seu relato ao Washington Post, Guaidó "disse que todas as opções estavam na mesa, e também embaixo da mesa".

Já à CNN en Español Rendón disse que “o governo legítimo do presidente Guaidó não controla nenhuma força policial no país, portanto todos os cenários são analisados: alianças com outros países, militares que estão dentro [da Venezuela], uso eventual de atores que estão fora, como militares aposentados.”

O Washington Post publicou em seu site a íntegra do contrato, que exibe assinaturas de Rendón, Guaidó e mais duas pessoas. O documento, com data de outubro e fornecido por Goudreau, define explicitamente o objetivo do acordo: "Uma operação para capturar/deter/remover Maduro (...) e instalar o presidente reconhecido da Venezuela, Juan Guaidó".

O jornal relata ter tido acesso à gravação de uma conversa na qual Guaidó diz concordar com a ação. "Nós estamos fazendo a coisa certa por nosso país", teria dito o líder opositor.

Rendón, no entanto, afirma que Guaidó não assinou esse contrato e que o líder opositor tinha conhecimento apenas de um "plano exploratório", sem saber dos detalhes.

Guaidó nega ter assinado o documento ou ter se envolvido na operação e acusa o regime de montar uma encenação para prejudicá-lo.

Seu aliado exilado em Miami, por sua vez, confirma ter assinado o contrato, mas diz que as ações previstas nele nunca foram realizadas. Segundo ele, após a assinatura, Goudreau passou a agir de forma errática e não foi capaz de provar que tinha a estrutura prometida.

Com idas e vindas nas negociações, a confiança entre os envolvidos na suposta operação se perdeu em novembro. A partir daí os opositores passaram a considerar que a ideia havia sido descartada. "Nunca demos luz verde", disse Rendón.

Goudreau, da Silvercorp, disse que decidiu seguir com a operação mesmo assim, por acreditar que era a coisa certa a fazer, de acordo com o relato do estrategista político.

Há suspeitas de que a operação tenha sido infiltrada por agentes de Maduro ou que algum membro da oposição estivesse atuando como agente duplo.

Maduro disse na quarta que seus agentes sabiam de todos os detalhes da operação e que ficaram apenas esperando ela acontecer para capturar os mercenários.

Agora, há temores de que a ditadura use essa operação como justificativa para prender Guaidó.

Com Reuters

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