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Após a pandemia: o risco de um tsunami autoritário

Transição para nova ordem mundial estável será longa, eventualmente imprevisível

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Andrés Serbin

Presidente-executivo da Coordenação Regional de Pesquisa Econômica e Social (Cries) e membro pleno do Conselho Argentino de Relações Internacionais (Cari)

Latino América 21

Apesar de a pandemia impor necessidades urgentes e inevitáveis, ela também tem implicações geopolíticas e sociais.

A pós-pandemia levará a uma acentuação das tendências de mudança na ordem internacional presentes antes do surgimento da Covid-19, com consequências no aprofundamento da crise da globalização e da governança global, da capacidade de resposta multilateral e do reajuste internacional das relações de poder. A transição para uma nova ordem mundial estável será longa, eventualmente imprevisível e não será alcançada a curto prazo, portanto, estaremos imersos em um ambiente internacional de alta instabilidade e incerteza.

Segundo a OMC (Organização Mundial do Comércio), na fase pós-pandêmica o comércio internacional será reduzido entre 13 e 30%; a recessão afetará tanto as economias mais desenvolvidas quanto as mais vulneráveis e a recuperação econômica só está à vista em 2021, o que abre sérias questões sobre a globalização e coloca uma série de cenários: Um "adeus à globalização" (como descreve The Economist) sob a pressão de forças isolacionistas e protecionistas em vários países; uma globalização que será aproveitada pela China quando se recuperar da recessão econômica, ou dois processos paralelos mas interligados de globalização, como propõem alguns analistas nos Estados Unidos, onde os mecanismos de governança global do sistema liberal internacional coexistirão com uma série de órgãos promovidos pela China.

Em qualquer desses cenários, a China acentuará sua participação e influência nas diversas organizações multilaterais, tanto nas já existentes como nas que estão em gestação, provavelmente respeitando as normas liberais da ordem econômica internacional, como fez com sua entrada na OMC.

No entanto, os valores do liberalismo econômico que alguns Estados podem assumir e respeitar não incluirão necessariamente as normas internacionais da ordem "ocidental" associadas à democracia solidária na proteção dos refugiados, os direitos humanos em geral, a intervenção humanitária ou a responsabilidade de proteger, que colidem com uma concepção autoritária, "iliberal", baseada no controle e no monitoramento (digital) dos cidadãos pelo Estado. A profusa "diplomacia da saúde" promovida recentemente por Pequim não pode esconder o tratamento retardado, centralizado e não transparente da pandemia na China ou embaçar o papel de um Estado que responde verticalmente às diretrizes de uma única parte, independentemente de sua eficácia.

Mas talvez o maior desafio dos novos cenários potenciais da globalização e de uma ordem mundial em trânsito entre bipolaridade e multipolaridade, seja o do papel da cidadania organizada —diversa e independente, que tem sido capaz de enfrentar a crise e sustentar o trabalho do Estado dentro de um marco democrático. A restrição e limitação do papel da sociedade civil e da mídia independente tem levado a atrasos letais na luta contra a Covid-19 e à dependência de burocracias estatais rígidas e verticais para dar respostas complexas a situações de crise. Trazer essas restrições e limitações para a arena internacional significará não apenas o fim do chamado "multilateralismo complexo", mas também o declínio da participação efetiva da sociedade civil no desenvolvimento de uma agenda para a defesa e promoção dos bens públicos globais.

*Texto originalmente publicado no jornal Clarín, Argentina

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