Brasil despenca dez posições em ranking global de paz

Índice de ausência de violência no mundo também piora, e pandemia deve complicar situação

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São Paulo

De 2019 para 2020, o Brasil despencou dez posições em um índice que mede o nível de paz e a ausência de violência em 163 países do mundo, divulgado nesta quarta (10) pelo think tank independente australiano Institute for Economics and Peace (IEP).

O país está agora na posição 126, atrás de Estados conhecidos por seus níveis de violência, como El Salvador e Guatemala, e quase cem posições abaixo do Uruguai, o país mais pacífico da América do Sul.

O estado da paz no Brasil é “baixo”, de acordo com a classificação do relatório, elaborado e divulgado anualmente por pesquisadores do instituto junto a acadêmicos ingleses e neozelandeses.

No ano passado, o Brasil estava em 116º, à frente dos EUA e com nível de paz considerado “bom”.

A causa da queda do país no ranking “foi o aumento no que chamamos de conflitos permanentes”, explica Paulo Pinto, pesquisador sênior do IEP, referindo-se às atividades do PCC e do Comando Vermelho e aos conflitos entre essas organizações e as forças de segurança.

“Isso foi marcante no ano de 2019”, acrescenta.

Veículos incendiados por cartel mexicano em reação à prisão de filho do megatraficante El Chapo
Veículos incendiados por cartel mexicano em reação à prisão de filho do megatraficante El Chapo - Alfreso Estrella - 18.out.19/AFP

O Brasil se encaixa em um contexto mais amplo: das nove regiões do mundo analisadas pelo relatório, a América do Sul foi a que teve a maior queda nos índices de paz de um ano para cá.

Contribuíram para a piora os protestos no Chile (desencadeados pelo aumento na tarifa do metrô), na Colômbia (motivados por cortes em benefícios sociais) e no Equador (cujo estopim foi o fim dos subsídios do governo ao setor de combustíveis).

Se pouco surpreendem os primeiros colocados de 2020 (Islândia em primeiro e Nova Zelândia em segundo) e os últimos (Síria na penúltima posição e Afeganistão na última), causa estranhamento o salto positivo dos EUA, que subiram sete posições no levantamento em um ano em que o país teve ao menos 21 massacres com armas de fogo, de acordo com a rede ABC News.

O pesquisador explica que o índice de paz é calculado com base em 23 indicadores (dentre os quais o número de presos e a facilidade de acesso a armas), e a soma destes fatores resultou positiva para o país.

A retirada de tropas do Iraque e do Afeganistão e o menor envolvimento de Washington nestes conflitos também foram fatores decisivos para a melhora, acrescenta o relatório.

Mas, ainda assim, os EUA estão 115 colocações atrás do Canadá, que ocupa um invejável sexto lugar no ranking.

Enquanto o nível de militarização dos EUA aumentou, assim como o comércio de armas —tornando o país o quarto Estado que mais exporta armamentos no mundo—, o vizinho do norte teve menos ataques terroristas em 2019 em relação aos anos anteriores, o que contribuiu para a sua boa colocação.

A 14ª edição do Global Peace Index (índice global da paz) reflete a pesquisa levada a cabo entre março de 2019 e março deste ano, baseada em 23 indicadores agrupados em três domínios: segurança, militarização e conflitos contínuos.

O estudo mede basicamente o nível de violência física, de armamentos e de criminalidade, excluindo terror psicológico e intimidações verbais.

De modo geral, o índice de paz no mundo teve uma leve piora —de 0,43%— em relação ao levantamento anterior. Isto é resultado de, no ano passado, mais de 96 países terem enfrentado pelo menos uma manifestação violenta, a exemplo dos protestos pela democracia em Hong Kong.

Em retrospecto, esta é a nona vez em 12 anos que há deterioração da paz global.

Como o estudo foi concluído em março, seus resultados não refletem a totalidade dos efeitos da pandemia de coronavírus. Contudo, o IEP prevê que o impacto econômico das quarentenas ao redor do mundo será uma "ameaça significativa à paz".

A crise sanitária também deve diminuir a ajuda internacional a países em situação complicada, "desestabilizando ainda mais os países frágeis e afetados por conflitos, incluindo Libéria, Afeganistão e Sudão do Sul".​

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