Em uma aliança sem precedentes entre os adversários históricos Fianna Fáil e Fine Gael, além do Partido Verde, os deputados irlandeses escolheram Micheál Martin como novo primeiro-ministro da Irlanda.
O acordo, que prevê uma liderança rotativa, foi estabelecido na sexta-feira (26) para bloquear os nacionalistas do partido radical de esquerda Sinn Féin.
A sigla, uma antiga vitrine política do IRA, grupo paramilitar contrário à presença britânica na Irlanda do Norte, liderou as eleições legislativas realizadas em fevereiro, conquistando 37 das 160 cadeiras do Parlamento, o mesmo número obtido pelo Fianna Fáil e duas a mais que o Fine Gael.
O resultado abalou a política do país, onde as duas legendas centristas compartilham o poder há um século.
A votação para a formação do governo —com 93 votos a favor, incluindo o apoio de independentes, e 63 contra— foi realizada em um centro de congressos de Dublin, e não no Parlamento, para seguir as regras de distanciamento social impostas devido à pandemia de coronavírus.
Martin, um veterano do Fianna Fáil, será o primeiro a assumir o comando do novo Executivo.
Como é habitual, ele se dirigiu para Aras an Uachtarain, a residência do presidente irlandês, Michael Higgins, que o confirmou oficialmente como primeiro-ministro, ou, seguindo o vocabulário irlandês, "taoiseach".
A vitória representa uma reviravolta para o Fianna Fáil após uma dolorosa derrota há dez anos. No meio de uma crise econômica, a legenda sofreu o pior fracasso de um governo ao assinar um acordo de resgate com o Fundo Monetário Internacional que levou o partido a um colapso eleitoral em 2011.
A prioridade de Martin para os próximos meses será administrar a crise da Covid-19 na Irlanda, que contabiliza, até a tarde deste sábado (27), 25.437 infecções confirmadas e 1.734 mortes por coronavírus.
"Devemos estar prontos para enfrentar uma nova onda", disse o recém-eleito, que também prometeu resgatar a Irlanda da "recessão mais agressiva de todos os tempos" devido aos efeitos da pandemia.
O novo primeiro-ministro se comprometeu a governar meio mandato, ou seja, durante dois anos e meio, antes de deixar o controle do país para o líder do outro grande partido centrista, o Fine Gael.
Assim, Leo Varadkar cede lugar ao novo primeiro-ministro neste sábado, mas deve recuperar o cargo em dezembro de 2022. O Partido Verde, um pequeno partido nesta coalizão, não terá um premiê.
A legenda, no entanto, conseguiu impor diversos compromissos ambientais em troca de seu apoio.
A nova coalizão também dividirá a política irlandesa em linhas ideológicas mais marcadas do que no passado, com o Sinn Féin assumindo o papel de principal face da oposição.
Embora Fianna Fáil e Fine Gael tenham surgido de lados opostos na guerra civil na década de 1920, eles apoiam agendas centristas semelhantes há décadas.
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