China diz não querer interferir em eleições americanas após denúncia de ex-assessor de Trump

John Bolton acusa presidente de usar política externa para tentar garantir reeleição

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Washington | Reuters

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, disse, nesta quinta-feira (18), que seu país não tem intenção de interferir nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, marcadas para novembro.

A declaração foi dada em resposta às acusações feitas por John Bolton, ex-assessor de segurança nacional dos EUA, em seu livro, ainda não publicado, segundo o qual o presidente Donald Trump pediu ajuda da China para ser reeleito.

De acordo com Bolton, o líder americano teria pedido ao dirigente chinês, Xi Jinping, para comprar muitos produtos agrícolas americanos para ajudá-lo a conquistar estados rurais nas eleições deste ano.

Trump, escreve o ex-assessor, estava "implorando a Xi para garantir que ele vencesse". "Ele ressaltou a importância dos agricultores e do aumento das compras chinesas de soja e trigo no resultado das eleições.”

"The Room Where It Happened: A White House Memoir" (a sala onde aconteceu: um livro de memórias da Casa Branca) tem lançamento previsto para o próximo dia 23. Antes mesmo de chegar às livrarias, já é o título mais vendido pela Amazon americana.

John Bolton, ex-assessor de Segurança Nacional dos EUA, observa o presidente Donald Trump, durante entrevista na Casa Branca - Brendan Smialowski - 13.mai.19/AFP

Jornais americanos, como The New York Times, Washington Post e The Wall Street Journal, tiveram acesso antecipado ao livro.

Nesta quinta-feira (18), o presidente dos EUA publicou uma mensagem no Twitter na qual acusa Bolton de ter feito "uma compilação de mentiras e histórias inventadas" com o intuito de prejudicá-lo.

"Muitas das afirmações ridículas que ele [Bolton] atribui a mim nunca foram feitas, [são] pura ficção. Ele só está tentando se vingar por eu tê-lo demitido como o maluco doentio que ele é!", escreveu.

Bolton foi demitido em setembro do ano passado, após 519 dias de trabalho, em meio a diferenças com Trump em uma ampla gama de questões de política externa.

As informações sobre o pedido de ajuda aos chineses têm potencial danoso para a campanha de Trump à reeleição —isso porque a tomada de posição anti-China está no centro da disputa que o republicano trava com seu adversário democrata, Joe Biden, na corrida à Casa Branca.

Bolton também escreveu, em outro trecho do livro revelado pelo New York Times, que o presidente disse a ele querer congelar US$ 391 milhões (R$ 2,05 bilhões) em ajuda à Ucrânia em troca da abertura de investigações contra Biden e seu filho Hunter Biden, ex-conselheiro da empresa de gás ucraniana Burisma.

Em um comunicado, Biden, ex-vice-presidente dos EUA durante o governo de Barack Obama, disse que, se as acusações de Bolton forem verdadeiras, são "não apenas moralmente repugnantes, mas uma violação do dever sagrado de Donald Trump com o povo americano".

Em entrevista à emissora ABC News nesta quinta, Bolton voltou a dizer que Trump não é apto para o cargo que ocupa. Segundo ele, o líder republicano não segue nenhum princípio orientador que não contribua com seu objetivo de conseguir a reeleição.

A crítica ao presidente ecoou no Congresso americano. Nancy Pelosi, presidente da Câmara, disse que Trump é "eticamente impróprio e intelectualmente despreparado para ser o presidente dos EUA".

"Isso parece não importar para os republicanos no Senado", disse Pelosi. A democrata afirmou, em entrevista coletiva, que está consultando colegas para decidir se deve ou não intimar Bolton a prestar esclarecimentos sobre as acusações que faz em seu livro.

Parte do conteúdo dos relatos feitos pelo ex-assessor foi um dos pontos centrais de uma das denúncias que compuseram o processo de impeachment de Trump levado a cabo pela Câmara de maioria democrata.

O presidente foi absolvido em fevereiro após votação do Senado, controlado pelos republicanos.

"Se os defensores democratas do impeachment não estivessem tão obcecados com a blitzkrieg da Ucrânia em 2019, se tivessem tempo para investigar mais sistematicamente o comportamento de Trump em toda a sua política externa, o resultado do impeachment poderia muito bem ter sido diferente", escreveu Bolton, segundo trechos divulgados pelo Wall Street Journal.

O ex-assessor, entretanto, recusou-se a testemunhar no inquérito aberto pela Câmara, motivo pelo qual tem sido criticado por congressistas democratas.

Quando o processo de impeachment tramitava no Senado, o ex-assessor se ofereceu para dar depoimento, mas a maioria republicana não aceitou.

Embora tenha classificado as acusações de Bolton como mentirosas, Trump disse, na segunda (15), que seu ex-assessor violára a lei e será responsabilizado criminalmente se o livro for publicado.

No dia seguinte, o governo americano entrou com uma ação na Justiça para impedir a publicação.

O Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca (NSC, na sigla em inglês) "concluiu que o manuscrito em sua forma atual contém certas passagens —algumas com vários parágrafos— com informações sigilosas de segurança nacional".

A editora Simon & Schuster afirmou que o processo judicial é uma tentativa do governo Trump de interromper a "publicação de um livro visto como pouco lisonjeiro para o presidente" e que Bolton cooperou totalmente com a revisão de pré-publicação da Casa Branca.

O livro fornece um relato privilegiado do "incoerente e desordenado processo de tomada de decisão" de Trump e detalha negociações do líder americano com China, Rússia, Ucrânia, Coreia do Norte, Irã, Reino Unido, França e Alemanha, segundo a casa editorial.

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