Descrição de chapéu Coreia do Norte

Coreia do Norte explode escritório diplomático que mantinha com Coreia do Sul

Prédio de quatro andares foi destruído; espaço estava vazio desde janeiro por conta do coronavírus

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Seul e São Paulo | Reuters

A Coreia do Norte explodiu nesta terça (16) um escritório dedicado a facilitar as relações com a Coreia do Sul. O espaço, que ficava perto da fronteira entre os dois países, no lado norte, funcionava na prática como uma espécie de embaixada.

O escritório, na cidade de Kaesong, estava fechado desde janeiro por causa da crise do coronavírus e foi "destruído tragicamente com uma explosão terrível", segundo a agência estatal norte-coreana KCNA.

Fumaça vista após explosão em Kaesong, em imagem tirada a partir de Paju, na Coreia do Sul - Yonhap/Reuters

O ataque teria sido uma resposta ao lançamento de panfletos contra o governo norte-coreano, organizado por opositores que fugiram para o sul. A ditadura de Kim Jong-un chama esses desertores de "escória humana".

Segundo a KCNA, o escritório foi destruído para forçar "a escória humana, e aqueles que abrigaram a escória, a pagar por seus crimes".

Por meio de balões, para cruzar a fronteira pelo ar, ou em garrafas lançadas ao rio, grupos de norte-coreanos que deixaram o país lançam panfletos, comida, notas de US$ 1, mini rádios e pen drives com notícias e programas de TV sul-coreanos.

A Coreia do Sul pediu que os desertores parem com essas ações e ameaçou processá-los, por considerar que a campanha amplia a tensão na fronteira e causa danos ambientais. Mesmo assim, dois grupos disseram que vão manter a prática.

Um vídeo do governo sul-coreano mostrou a grande explosão que colocou abaixo o edifício de quatro andares que sediava o escritório diplomático. O incidente parece afetar também outro prédio ao lado, de 15 andares, usado como residência para funcionários sul-coreanos que trabalhavam ali.

O escritório servia como uma embaixada para os dois países se comunicarem, e sua destruição dá um forte sinal de afastamento entre Pyongang e Seul após gestos de aproximação nos últimos anos.

O local havia sido aberto em 2018, como parte de uma série de medidas de aproximação entre os dois países. A reforma do prédio custou US$ 8,6 milhões (R$ 43,8 milhões) à época, pagos pela Coreia do Sul.

Os sul-coreanos usavam o segundo andar, e os norte-coreanos, o quarto. O terceiro sediava reuniões entre os dois lados. Em janeiro, havia 58 profissionais do Sul alocados ali.

O conselho de segurança nacional da Coreia do Sul convocou uma reunião de emergência nesta terça e disse que o país dará uma resposta firme se o Norte seguir aumentando as tensões.

Nesta terça, a mídia estatal do Norte publicou declarações de militares dizendo que estudam um plano de ação para retomar zonas que tinham sido desmilitarizadas em 2018.

A destruição do escritório "quebra as expectativas de todos que esperam pelo desenvolvimento de relações inter-coreanas e a paz duradoura na península", disse Kim You-geun, vice-conselheiro de segurança nacional da Coreia do Sul.

"Estamos deixando claro que o Norte é inteiramente responsável por todas as consequências que isso pode causar", acrescentou.

O presidente sul-coreano, Moon Jae-in, pediu que o Norte mantenha o acordo de paz e volte ao diálogo. A Rússia solicitou que os dois lados contenham os ânimos e disse estar preocupada com a situação.

Para Alexandre Uehara, membro do Núcleo de Estudos e Negócios Asiáticos da ESPM, a destruição do prédio é também "uma sinalização negativa que a Coreia do Norte dá à comunidade internacional, interrompendo as expectativas de construção de confiança nas relações do governo de Kim Jong-un" com outros países. ​

Os vizinhos da península coreana passavam por uma desescalada de tensões desde 2018, quando os países chegaram a um acordo durante uma cúpula em Pyongyang. Desde então, entretanto, o Norte tem cortado por longos períodos sua comunicação com o Sul.

A partir de 2018, Kim teve conversas diretas com o presidente dos EUA, Donald Trump, para buscar um acordo de paz entre os dois países.

Trump queria reduzir o programa nuclear norte-coreano em troca do alívio de sanções econômicas, mas as conversas travaram no começo de 2019, quando um encontro no Vietnã terminou de forma abrupta.

A crise entre as duas Coreias tem se intensificado nas últimas semanas, após uma onda de boatos de que o ditador Kim Jong-un estaria gravemente doente.

Ele reapareceu após 20 dias ausente de eventos públicos, com uma marca no pulso e apresentando rigidez nas pernas, o que pode indicar que tenha passado por uma cirurgia.

Pouco após a volta de Kim, houve uma troca de tiros na zona desmilitarizada na fronteira, no dia 2 de maio. Na semana passada, o Norte anunciou que a comunicação entre os dois países seria cortada.

No sábado (13), a mídia estatal divulgou que Kim Yo-jong, irmã do ditador, havia ordenado uma ação contra o escritório. "Após muito tempo, uma trágica cena do inútil escritório conjunto Norte-Sul, completamente colapsado, será vista", disse.


Cronologia

1945
Após a Segunda Guerra, o Japão deixa a Coreia. Tropas soviéticas ocupam o norte da península, e soldados americanos controlam o sul.

1948
Sem acordo para a unificação, surgem dois governos: um comunista, ao norte, e outro capitalista, ao sul.

1950
Tropas do Norte avançam sobre o sul e começa uma guerra. O norte tem apoio da União Soviética e da China. O Sul recebe ajuda militar dos EUA.

1953
É firmado um armistício. Até hoje, não foi assinado um acordo de paz para encerrar formalmente o conflito.

2011
Kim Jong-un, neto do fundador da Coreia do Norte, assume o poder.

abr. 2018
Encontro entre o ditador Kim Jong-un e o presidente Moon Jae-in leva a medidas de aproximação. Os dois dizem concordar com a elaboração de um acordo de paz.

fev.2019
Reunião entre Trump e Kim, no Vietnã, termina de forma abrupta e sem acordo. EUA querem que Coreia do Norte reduza programa nuclear em troca da retirada de sanções.

jun.2019
Trump vai até a zona desmilitarizada, onde encontra Kim. Foi o primeiro presidente dos EUA a pisar em solo norte-coreano.

15.abr.2020
Kim não vai à celebração em homenagem ao avô. Rumores de que ele estaria muito doente ganham força.

1º.mai
Kim reaparece em público, mas se movimenta com alguma dificuldade.

2.mai
Troca de tiros na zona desmilitarizada entre o Norte e o Sul.

16.jun
Coreia do Norte explode escritório diplomático perto da fronteira.

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