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Diário de confinamento: 'Uma bolha, uma família'

Na vida escolar pós-coronavírus, Espanha propõe grupos de 'convivência estável' para crianças pequenas

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Barcelona

Dia #90 – Quinta, 11 de junho. Cena: a vida escolar na Espanha pós-coronavírus vai ser muito diferente, e já começamos a descobrir como.

Alguns pais e estudantes respiram aliviados. Não terão que esperar até setembro (início do ano letivo por aqui) ou o ano que vem, como se havia pensado até pouco tempo atrás. Outros se preocupam mais do que nunca: como assim, volta às aulas? E os contágios?

Estudantes da escola Axular Lizeoa esperam na calçada portão abrir, respeitando distanciamento social
Respeitando as regras de distanciamento social, estudantes da escola Axular Lizeoa esperam o início de suas aulas, no País Basco; região foi a primeira da Espanha a começar a reabrir escolas - Vincent West - 25.mai.20/Reuters

Com base em um estudo epidemiológico que indica um baixo índice de contaminação entre a população até 19 anos (1,37%, segundo dados oficiais), o ministério da Educação reforçou sua convocação de volta às aulas nesta semana e afirmou: quer que seja muito mais presencial do que imaginávamos.

Nesta quinta, o ministério da Educação apresentou um documento de 14 pontos aos governadores, assinado por todos, menos dois —Madri, controlado pela oposição e cada vez mais em pé de guerra com a administração central, e o País Basco, que está desenhando sua própria reforma escolar.

De qualquer forma, a pauta é apenas orientativa, assim como a guia mais detalhada elaborada em parceria com o ministério de Saúde. Cada comunidade autônoma será livre para criar sua própria normativa.

Entre as sugestões gerais, os pequenos (até 9 ou 10 anos) poderiam prescindir das máscaras e distâncias mínimas de 1,5 metro em seu convívio escolar.

Isso seria possível porque, em compensação, integrariam classes "estáveis" de até 20 alunos, com apenas um professor responsável e interação social limitada fora desse contexto.

A ideia é transformar a experiência escolar infantil em "uma bolha, uma família", segundo a ministra da Educação, Isabel Celáa. "[Os alunos poderiam] socializar sem manter a distância interpessoal de forma estrita por ser um grupo de convivência estável", disse.

Dessa idade em diante até a universidade, os espaços e rotinas teriam que ser adaptados de forma a se manter a distância mínima de 1,5 metro entre os estudantes. As máscaras não seriam obrigatórias quando os alunos estivessem em suas mesas, mas sim nos outros espaços de convívio social.

O ideal também é priorizar aulas ao ar livre ou janelas abertas, sempre que possível. Refeitórios e pátios seriam ocupados rotativamente por distintos grupos e, no caso dos tais “grupos de convivência estável”, estaria permitido comer em classe.

Em relação a eventuais casos de Covid-19 no ambiente escolar, o Executivo sugere que exista em cada instituição um responsável pela gestão do tema, e que se fortaleça a rede de comunicação entre escola, pais e estudantes para facilitar a articulação de informações, dúvidas e medidas importantes. Além disso, as instituições poderiam oferecer aulas de educação sanitária aos alunos.

Ao se identificar um caso suspeito, o protocolo básico seria: isolamento em sala separada, máscara e contato imediato com a família e responsáveis sanitários. E, como nos comércios e empresas, todos os centros deverão ter um protocolo diário de desinfecção e limpeza.

Na Catalunha, como outras localidades espanholas, a reabertura súbita das escolas nesta semana em pleno final de ano letivo gerou incertezas e ações desencontradas.

Muitas escolas optaram por oferecer apenas tutoria, privilegiando os contatos remotos; outras organizaram jornadas voluntárias em grupos alternados.

Algumas poucas instituições, finalmente, decidiram que se tem uma coisa importante nesse contexto pós-crise é dar assistência psicológica e emocional ao aluno, que, como muitos adultos, ainda não está entendendo muito bem tudo o que está acontecendo.

Assim, um comunicado de uma escola do bairro de Gràcia afirma que “a atuação do centro será mais de caráter assistencial”, a fim de remediar o “impacto emocional negativo” que o momento pode ter nos estudantes.

A polêmica está rolando solta. Para muitos, precipitar a volta às aulas sem normativas amplamente discutidas é uma temeridade. Alguns questionam também o argumento do baixo contágio infantil e juvenil –aqui e ali, especialistas já vêm afirmando que é muito cedo pra conclusões, e que os números oficiais poderiam estar subestimados.

Fico pensando na situação vulnerável de muitos avós que são co-cuidadores ou responsáveis pelos netos. Alguns estudos indicam que, na Espanha, até metade dos avós cuidam de seus netos diariamente. É um fenômeno gritante. Em portas de escolas, praças e parques, é comum vê-los por toda parte com as crianças.

Tanto, que algumas associações de pais e mestres tiveram que mudar de nome pra “associação de pais e avós”. A primeira surgiu em Madri, dez anos atrás –com os avós sendo dois terços de seus membros.

“Músicas para Quarentenas” podem ser escutadas aqui.

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