Em desconfinamento, argentinos voltam a correr na noite de Buenos Aires

Parques ficaram cheios no primeiro dia do retorno das atividades ao ar livre

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Buenos Aires

"Agora todo mundo é atleta em Buenos Aires?", pergunta Sofia, 32, balançando a cabeça em tom de desaprovação. Ela tinha acabado de sair de sua casa, na noite desta segunda-feira (8), pronta para a primeira atividade física ao ar livre depois de quase 80 dias de quarentena.

Os moradores da capital argentina estavam proibidos de correr e de andar de bicicleta, patins ou skate ao ar livre desde meados de março, quando teve início o "lockdown" no país.

Agora, o governo passou a liberar essas atividades em Buenos Aires, mas com uma série de restrições: apenas entre as 20h e as 8h, respeitando uma distância de 4 metros —policiais e voluntários fazem a fiscalização— e sem a possibilidade de correr em grupos.

Moradores correm no bairro de Palermo, em Buenos Aires, no primeiro dia com autorização para atividades ao ar livre na cidade
Moradores correm no bairro de Palermo, em Buenos Aires, no primeiro dia com autorização para atividades ao ar livre na cidade - Martín Zabala - 8.jun.20/Xinhua

Ainda assim, não foi possível evitar aglomerações.

Toda paramentada para correr, de tênis, casaco, fones de ouvido e marcador de velocidade no punho, Sofia, que é professora de ioga, surpreendeu-se com o enxame de gente nos Bosques de Palermo, um dos locais preferidos dos portenhos para corridas.

Na manhã desta terça-feira (9), o secretário de saúde de Buenos Aires, Fernán Quirós, admitiu erros na implementação do plano.

No fim da tarde, anunciou que ruas e avenidas ao redor dos principais parques serão bloqueadas para tentar garantir o distanciamento recomendado, que passou de 2 para 4 metros aos que praticam corrida.

A medida será aplicada, por exemplo, nas imediações dos Bosques de Palermo e nas ruas que dão acesso aos parques Centenário e de los Patricios.

O uso de máscaras é obrigatório para os corredores, mas os que apenas caminham não precisam utilizar o item.

"Não esperava ver tanta gente, mas vou desviando, procurando rotas alternativas, estou tão animado de voltar a correr que não me importo com a escuridão", disse Jorge, 51, de casaco, calça de moletom e gorro.

Isso porque os termômetros marcavam 9ºC, e a umidade do ar era de mais de 90%. "A umidade é o mais difícil, parece que trava os ossos das pernas, ainda mais depois de tanto tempo parado", completou.

Na manhã desta terça, a cena não foi muito diferente. Às 6h45, no Parque Centenário, também na capital, o sol acabava de aparecer, e Esther, 28, já estava terminando sua atividade.

"Está começando a encher de gente, e eu não quero me expor", contou, enquanto fazia alongamento numa das cercas antes de ir para casa.

"Tinha visto as imagens da multidão correndo ontem [segunda], por isso cheguei aqui às 5h30, achando que estaria vazio, mas já tinha bastante gente. As pessoas não aguentam mais a quarentena e querem sair mesmo que nunca tenham corrido na vida."

De fato, nos cantos do parque e encostados em árvores, havia também grupos de adolescentes conversando.

Apesar de não terem sido registrados roubos ou assaltos no primeiro dia de liberação da atividade física, muitos têm medo de sair para se exercitar no meio da madrugada. Por isso, a polícia estacionou viaturas nas entradas e dentro dos parques.

"Estamos em Buenos Aires, sabemos que é arriscado sair a pé de madrugada. Ainda que tenha polícia no parque, para vir de casa até aqui tenho que andar cinco quadras absolutamente desertas depois das 23h", diz Sofia.

O secretário Quirós admitiu que o horário liberado, definido assim porque durante o período o trânsito é menor e as lojas estão fechadas, traz problemas.

Na prática, as pessoas saem no começo, entre 20h e 23h, e no fim do intervalo estabelecido, entre 6h e 8h. De acordo com a polícia, pouca gente foi correr durante a madrugada.

"[Neste horário] temos menos chance de formar aglomeração de gente na rua. Mas vamos melhorar a segurança e apelar para a consciência dos cidadãos para que mantenham a distância para correr", disse.

Além do horário, há a regra de correr sozinho, ou, no máximo, com uma pessoa do seu convívio diário.

"Acho que estão sendo muito restritivos, correr com um amigo que não vive comigo seria mais seguro e prazeiroso", reclama Jorge, que costuma se exercitar com um grupo e é orientado por um treinador.

"Mas, se essa é a regra, vamos continuar vindo sozinhos. Até porque se não fizermos exercício nosso sistema imunológico cai, e aí sim ficamos mais expostos ao coronavírus e a outras doenças."

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