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Em telegrama, Itamaraty diz que mídia dá a impressão de que EUA são dominados por 'racismo sistêmico'

Comunicação assinada por indicado para embaixador em Washington defende discurso duro de Trump

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São Paulo

Telegrama reservado enviado da embaixada do Brasil em Washington na quarta-feira (3) afirma que a “mídia progressista" dos Estados Unidos causa a impressão de que “o país é dominado por onipresente e irremediável 'racismo sistêmico'” e amplifica “ad nauseam” incidentes de violência e confrontação de caráter racial.

A comunicação diplomática sobre os protestos desencadeados pelo caso George Floyd, obtida pela Folha, lamenta as “terríveis circunstâncias da morte" do segurança negro e é assinada pelo diplomata Nestor Forster, indicado ao cargo de embaixador em Washington.

O telegrama, no entanto, traz críticas aos protestos, dizendo que “a crise atual é composta por elementos adicionais de uma visão que tende a reduzir todos os problemas sociais dos EUA a questões raciais”.

O indicado ao cargo de embaixador do Brasil em Washington, Nestor Forster, na Comissão de Relações Exteriores do Senado
O indicado ao cargo de embaixador do Brasil em Washington, Nestor Forster, na Comissão de Relações Exteriores do Senado - Geraldo Magela/Agência Senado

Também condena o que chama de “proliferação da 'cultura da queixa', vitimização nas universidades e a retórica política das lideranças do Partido Democrata desde os anos 1960, quando decidiram finalmente abandonar sua tradicional defesa de políticas públicas de segregação racial".

"Essa potente combinação, aqui apenas esboçada, explica em alguma medida a intensidade da reação de movimentos sociais às terríveis circunstâncias da morte de George Floyd.”

Floyd foi morto no dia 25 de maio em Minneapolis, no estado de Minnesota, depois de ter o pescoço prensado contra o chão por quase nove minutos pelo joelho de Derek Chauvin, um policial branco. Outros três agentes ajudaram a segurá-lo.

Segundo o Itamaraty, o telegrama em nenhum momento minimiza a gravidade da morte de Floyd, mas tenta apenas apresentar um contexto que explique a intensidade e a violência dos protestos.

O autor do telegrama corrobora posição do presidente dos EUA, Donald Trump, crítica à atuação dos governadores americanos.

“Em situação de aparente anomia, as autoridades públicas de Minneapolis não só não garantiram a ordem pública como também evacuaram as instalações de delegacia de polícia, permitindo que os manifestantes ateassem fogo ao prédio", escreve.

"O governador de Minnesota, [o democrata] Tim Walz, ecoando o que parece ser a visão dominante no Partido Democrata e na mídia progressista, desculpou os atos de violência, afirmando que “as cinzas são simbólicas de décadas e de gerações de dor e angústia inauditas”.

O autor do telegrama elogia a atuação do presidente americano na crise, dizendo que “Donald Trump tem adotado retórica firme em defesa da lei e da ordem”, e também se solidariza com o republicano, afirmando que há “obsessiva campanha de mídia contra o Chefe do Executivo”.

O texto diferencia as ações do grupo Black Lives Matter, um dos organizadores das manifestações, da atuação da “Antifa”, caracterizada no telegrama como “movimento de extrema esquerda que opera em regime de redes, sem conhecida estrutura central".

A comunicação diplomática afirma que o grupo tem por objetivo a "abolição do capitalismo e o esmagamento do fascismo" e seu "'modus operandi' é caracterizado justamente por atitudes associadas aos movimentos fascistas europeus dos anos 1930 e à selvageria dos movimentos revolucionários em geral, como agressão física, depredações, incêndios e saques”.

Com várias vertentes e definições, o antifascismo tem como cerne o combate a regimes autoritários, geralmente ligados à ultradireita, que costumam defender o culto à personalidade e o racismo.

O maior exemplo do fascismo foi a ditadura de Benito Mussolini (1922-1943), que levou a Itália a lutar na Segunda Guerra ao lado da Alemanha nazista.

Parte dos antifascistas defende abertamente o uso da violência, como a destruição de propriedades, como meio para chegar a mudanças. Não há, no entanto, uma entidade antifascista organizada, embora alguns grupos façam reuniões eventuais para coordenar ações.

Trump anunciou que pretende classificar a "Antifa" como uma organização terrorista.

O telegrama ainda coloca em dúvida o fato de a violência policial no país ter os negros como principais vítimas, dizendo que a presidente da Câmara dos Deputados, a democrata Nancy Pelosi, estuda criar uma comissão para avaliar “o suposto impacto desproporcional das forças de segurança sobre os negros".

Encerra o texto afirmando que, “para alguns analistas, a onda de ódio sob pretexto racial volta-se, na verdade, contra os valores fundamentais da democracia americana.”

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