Estátuas de racistas são removidas na Europa na esteira dos atos nos EUA

Monumentos de figuras ligadas à escravidão na Bélgica e na Inglaterra foram retiradas

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Bruxelas e Londres | Reuters

Estátuas do rei Leopoldo 2º da Bélgica, em Antuérpia, e de Robert Milligan, em Londres, foram retiradas nesta terça-feira (9) na esteira dos protestos antirracismo que começaram nos Estados Unidos no fim de maio e se espalharam por cidades europeias.

Na última quarta (3), um monumento ao monarca belga foi coberto de tinta e incendiado por ativistas.

Após uma ordem de remoção do Legislativo local, a estátua foi levada nesta terça ao Museu de Esculturas ao Ar Livre da cidade de Middelheim, onde funcionários farão uma avaliação dos danos.

Estátua do comerciantes de escravos Robert Milligan é removida da parte externa do museu da região das docas de Londres
Estátua do comerciantes de escravos Robert Milligan é removida da parte externa do museu da região das docas de Londres - John Sibley/Reuters

As autoridades não esclareceram se a peça seria devolvida ao seu local original. O prefeito de Antuérpia disse à imprensa belga que já havia planos de fazer mudanças na área e não tinha certeza se a estátua faria parte da nova configuração.

O monumento em homenagem a Robert Milligan, por sua vez, ficava em frente ao Museu das Docas de Londres, que apoiou a retirada.

Em comum, os dois personagens têm um passado de atrocidades no continente africano.

Leopoldo 2º, que reinou na Bélgica de 1865 a 1909, foi responsável pela morte de milhões de africanos nas décadas em que foi proprietário da única colônia particular da história, onde hoje fica a República Democrática do Congo.

Cerca de metade da população local morreu sob o monarca. Segundo o autor americano Adam Hochschild, caso os vilarejos de colonizados não atingissem suas cotas de coleta de borracha, eles eram obrigados a entregar mãos amputadas para pagar a dívida às autoridades coloniais.

Já o inglês Robert Milligan chegou a possuir 526 escravos em suas duas plantações de açúcar, na Jamaica. ​

"Neste momento em que o movimento Black Lives Matter [vidas negras importam] demanda o fim de monumentos públicos que celebram donos de escravos, a defesa da remoção da estátua de Robert Milligan por sua ligação com a violência colonial e exploração é ainda mais importante", afirmou o museu em um comunicado divulgado nesta terça, antes da retirada do monumento.

"O museu reconhece que o monumento é parte de um regime problemático maior de embranquecimento da história."

A retirada de monumentos históricos ligados à opressão dos negros é uma das demandas dos manifestantes que participam de atos antirracismo.

Os protestos começaram nos EUA após a morte de George Floyd, homem negro assassinado por um policial branco, que prensou com o joelho o pescoço da vítima contra o chão durante mais de oito minutos.

Reprodução de imagem de TV mostra estátua do rei belga Leopoldo 2º retirada após ser danificada em Ekeren
Reprodução de imagem de TV mostra estátua do rei belga Leopoldo 2º retirada após ser danificada em Ekeren - via Reuters

Os atos se estenderam à Europa, onde a pauta antirracismo incorporou questionamentos às narrativas oficiais da época colonial.

No domingo (7), em Bristol, manifestantes usaram cordas para derrubar uma estátua de ​Edward Colston, feita de bronze e erigida em 1895. Ela foi em seguida jogada em um rio que corta a cidade.

O homenageado foi traficante de escravos e membro do Parlamento britânico no século 17.

Em resposta às demandas dos londrinos que saíram às ruas no fim de semana, o prefeito da cidade, Sadiq Khan, anunciou nesta terça (9) que revisará a conveniência de se ter estátuas ou nomes de logradouros públicos em homenagem a pessoas ligadas à escravidão.

A discussão sobre a retirada de monumentos que homenageiam figuras com passado racista ou opressor é presente nos Estados Unidos há décadas.

Após os protestos de extrema direita de 2017 em Charlottesville, na Virgínia, várias cidades retiraram estátuas de figuras do Exército Confederado —lado na Guerra Civil Americana (1861-1865) que defendia a manutenção da escravidão.

Com Reuters.

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