Grupos antirracismo saem às ruas no Reino Unido e na França

Contramanifestação em Londres ocorreu em torno de estátua de Churchill; em Paris, polícia jogou bombas de gás

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Londres | Reuters

Protestos contra a violência policial dirigida a negros tomaram as ruas de Paris e de diversas cidades do Reino Unido neste sábado (13).

Manifestantes antirracismo se reuniram, mais uma vez nesta semana, na capital da Inglaterra.

Ao mesmo tempo, cerca de mil contramanifestantes também foram às ruas de Londres com o objetivo de proteger monumentos históricos atacados nos últimos dias. Houve confrontos.

A polícia alertou que algumas pessoas poderiam estar armadas, enquanto estátuas de figuras históricas, incluindo Winston Churchill —líder britânico da Segunda Guerra Mundial que se tornou alvo dos protestos por falas de cunho racista— foram blindadas para evitar que fosse destruídas.

Manifestantes antirracismo protestam em Londres
Manifestantes antirracismo protestam em Londres - Simon Dawson - 13.jun.20/Reuters

Manifestações vêm ocorrendo em todo o mundo depois da morte do americano George Floyd, em Minneapolis, no fim de maio. O homem negro de 46 anos foi asfixiado por um policial branco, que se ajoelhou no pescoço da vítima por quase nove minutos.

No Reino Unido, o debate é travado em torno de monumentos que homenageiam envolvidos no passado imperialista do país. No domingo (7), uma estátua de Edward Colston, que fez fortuna no século 17 com tráfico de escravos, foi demolida na cidade de Bristol e jogada no porto da cidade.

A polícia afirmou no sábado que algumas pessoas planejavam ir a Londres para causar danos.

As forças de segurança impuseram restrições de rota para ambos os grupos, e os comícios dos dois lados devem terminar às 17h, pelo horário local.

"Quem pensa que pode cometer um crime ou vandalizar propriedades será preso", disse o comandante Bas Javid.

Nos arredores do Parlamento, centenas de pessoas vestindo camisetas de times de futebol, cantando "Inglaterra, Inglaterra" e se descrevendo como patriotas, reuniram-se ao lado de veteranos militares para proteger o memorial de guerra do Cenotáfio, que homenageia as vítimas da Primeira Guerra.

O grupo cantou músicas em apoio ao ativista de direita Stephen Yaxley-Lennon, cujo nome real é Tommy Robinson, e fez a saudação nazista do braço levantado.

"Winston Churchill, ele é um dos nossos", cantaram perto da estátua do primeiro-ministro britânico, que no fim de semana passado foi pintada com os dizeres "era racista".

"Minha cultura está sob ataque. Esta é minha cultura e minha história britânica: por que Churchill deveria ser blindado? Por que o cenotáfio é atacado? Não está certo", disse David Allen, um dos manifestantes.

A cerca de três quilômetros dali, cerca de 20 manifestantes antirracismo se reuniram no Hyde Park, com cartazes do movimento Black Lives Matter (vidas negras importam), embora os organizadores tenham dito a eles para não comparecerem, por temer confrontos com o grupo oposto.

Também houve manifestações nas principais cidades do norte da Inglaterra, como Liverpool e Newcastle, com muitos ativistas usando máscaras devido à pandemia de coronavírus.​

Brigas ocorreram na Trafalgar Square e nas ruas ao redor, em Londres, entre os ativistas conservadores, os manifestantes antirracistas e os policiais que tentavam manter os dois lados separados.

Grupos de extrema direita gritaram insultos raciais contra os manifestantes antirracistas, e alguns tentaram usar barreiras metálicas para quebrar as fileiras de policiais que dividiam os dois lados.

"Está claro que grupos de extrema direita estão causando violência e desordem no centro de Londres, exorto as pessoas a ficarem longe", disse o prefeito, Sadiq Khan, em uma rede social.

O ministro do Interior, Priti Patel, denunciou o que chamou de "bandidagem completamente inaceitável" e disse que quaisquer autores de violência ou vandalismo enfrentariam toda a força da lei.

Por meio do Twitter, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, afirmou: "A violência racista não tem lugar em nossas ruas. Quem atacar a polícia será recebido com toda a força da lei".

Polícia francesa joga bombas de gás para impedir protesto de movimento antirracista, em Paris - Aurore Mesenge/AFP

Polícia dispersa manifestantes em Paris

Milhares de manifestantes antirracismo reuniram-se no centro da capital francesa para denunciar a violência da polícia, que lançou bombas de gás para impedir que os ativistas marchassem pela região.

A questão racial despertada pela morte de Floyd ressoou na França, especialmente nos subúrbios da cidade, onde grupos de direitos humanos afirmam que acusações de tratamento violento da polícia contra moradores, frequentemente de raízes imigrantes, permanecem sem serem investigadas.

“Espero que não seja morto por ser negro hoje”, dizia o cartaz de um manifestante na Place de la République.

Assa Traoré, irmã de Adama Traoré, que morreu perto de Paris, em 2016, após a polícia detê-lo, discursou à multidão.

“A morte de George Floyd ecoa com força na morte do meu irmãozinho na França”, disse ela. “O que está acontecendo nos EUA acontece na França. Nossos irmãos estão morrendo."

A família de Traoré afirma que ele foi asfixiado quando três policiais prensaram-no no chão com o peso de seus corpos. As autoridades sustentam que a causa da morte não está clara.

O ministro do Interior, Christophe Castaner, afirmou nesta semana reconhecer que há “suspeitas comprovadas de racismo” nas agências policiais da França.

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