Popularidade de Trump despenca e coloca em xeque estratégia incendiária do presidente

Em meio a protestos contra racismo policial, aprovação do republicano cai dez pontos

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Washington

A popularidade de Donald Trump despencou em meio aos protestos contra o racismo e a violência policial nos EUA, colocando em xeque a tática incendiária do presidente americano para ser reconduzido à Casa Branca.

Enquanto Trump aposta no discurso da ordem e pede repressão aos atos em aceno à sua base conservadora, pesquisa do Instituto Gallup divulgada nesta quarta-feira (10) mostrou que a aprovação do republicano caiu dez pontos percentuais e chegou a 39%.

Historicamente, o nível de aprovação associado à reeleição de um presidente no cargo é de 50% nos EUA.

O presidente dos EUA, Donald Trump, durante encontro com líderes do movimento negro americano na Casa Branca, nesta quarta (10)
O presidente dos EUA, Donald Trump, durante encontro com líderes do movimento negro americano na Casa Branca, nesta quarta (10) - Saul Loeb/AFP

Desde janeiro, Trump mantinha 49% de popularidade —uma das melhores marcas de seu governo—, mas o índice começou a sofrer abalos com a condução errática que o líder americano adotou diante da pandemia do novo coronavírus, que já matou mais de 110 mil pessoas no país.

As manifestações após a morte de George Floyd, um homem negro asfixiado pelo joelho de um policial branco, somaram-se como um novo e preocupante elemento para a campanha à reeleição, com a formação de um renovado caldo de insatisfação social em meio às crises econômica e de saúde pública que assolam os EUA.

Essa é a primeira vez desde de outubro que a aprovação do presidente fica abaixo de 40%, mas, se analisados em detalhes, os dados são ainda mais críticos para a Casa Branca.

A popularidade de Trump caiu entre praticamente todos os americanos, inclusive republicanos e independentes, que abarcam parte do nicho considerado mais fiel de sua base, homens e pessoas de baixa escolaridade.

Segundo o Gallup, a aprovação entre esses dois grupos caiu sete pontos e chegou a 85% no primeiro e a 39% no segundo.

Os republicanos são do partido do presidente, e os chamados eleitores independentes foram determinantes para sua vitória contra a democrata Hillary Clinton em 2016, principalmente em estados do Meio-Oeste, vistos como chave para a disputa deste ano.

Depois de votar duas vezes em Barack Obama, em 2008 e 2012, parte dos independentes se dizia cansada da política tradicional e optou por Trump na última eleição.

O principal apelo para esses eleitores era a economia, hoje mergulhada em uma crise em razão da pandemia, resultando em taxa de desemprego recorde, de cerca de 13%.

Trump sabe que, antes da crise, os bons índices econômicos sustentavam seu favoritismo para a eleição de novembro e, agora, afirma que será capaz de reerguer o país caso reeleito.

Mas os números recentes mostram que boa parte da população já não acredita mais nessa promessa.

A aprovação da condução da política econômica por Trump caiu de 63% em janeiro para 47% em junho —índice que não ficava abaixo de 50% desde novembro de 2017.

Na semana passada, a economia dos EUA sofreu uma leve recuperação, que não foi medida na pesquisa, encerrada em 4 de junho. Analistas dizem que ainda não está claro como isso terá impacto na popularidade do presidente, mas é consenso que o cenário desenhado é bastante ruim.

Os números do Gallup cristalizam dados que estavam sendo divulgados nas últimas semanas por diversos institutos, refletindo a erosão de parte importante da base de Trump e a abertura de uma lacuna ainda maior entre mulheres e eleitores registrados —o voto não é obrigatório nos EUA.

Adversário de Trump na corrida à Casa Branca, o democrata Joe Biden tenta capitalizar politicamente os protestos e tirar vantagem do atual derretimento do presidente.

O ex-vice de Obama abriu 11 pontos percentuais sobre Trump nas pesquisas nacionais.

De acordo com o site FiveThirtyEight, que compila diversos levantamentos, Biden tem 52% ante 41% de Trump. Essa diferença era de seis pontos em abril.

O sistema eleitoral nos EUA, porém, é indireto, via Colégio Eleitoral, o que faz com que poucos estados sejam realmente decisivos para a eleição. Por enquanto, Biden está na frente também em diversas dessas regiões, como Pensilvânia e Wisconsin.

Entre as mulheres, 55% do eleitorado, Trump vê outra grande desvantagem, com 25 pontos atrás de Biden —eram 19 em abril. Em 2016, quando a candidata era Hillary, a diferença para o republicano era de 14 pontos.

Outro flanco que preocupa os auxiliares do presidente é o de eleitores sem diploma universitário, que levaram Trump à vitória há quatro anos.

A vantagem do republicano sobre Biden ainda é expressiva, mas caiu dez pontos desde abril: eram 31 pontos de diferença e, agora, são 21.

Trump começou o ano como favorito para a reeleição e sempre confiou no instinto e na ligação com sua base conservadora. Mesmo com o quadro difícil para sua campanha, o presidente não tem feito gestos conciliatórios ou propostas para abraçar demandas que emergem das ruas —pelo contrário.

Nesta terça (9), Trump sugeriu que um manifestante de 75 anos ferido pela polícia no estado de Nova York pode ter encenado o episódio. No vídeo que viralizou na internet, dois policiais são vistos empurrando o homem, que cai e bate a cabeça no chão com força. As imagens provocaram uma onda de indignação.

O discurso polarizador e raivoso costuma unir seus apoiadores, mas as novas pesquisas têm mostrado certa exaustão inclusive entre os que antes aclamavam o presidente.

Ainda é cedo para avaliar o real impacto dos protestos para a eleição de 3 de novembro. Analistas afirmam que a energia das ruas tem que ser travestida em voto para que haja uma mudança do cenário político.

Biden tenta fazer essa investida, mas ainda há obstáculos. O moderado precisa conquistar o apoio dos jovens que preferiam o progressista Bernie Sanders e manter o apoio dos negros que o ajudaram a vencer as primárias democratas. Tudo isso sem perder de vista os independentes.

Um dos cálculos mais difíceis será a escolha de uma vice. Biden já prometeu que será uma mulher, mas precisa decidir entre uma política negra, como aceno às ruas, ou um perfil mais conservador, de olho no Meio-Oeste, onde Trump já centrou as forças de sua campanha.

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