Descrição de chapéu Governo Trump

Protestos e confrontos seguem nos EUA mesmo após ultimato de Trump

Atos lembram morte de George Floyd e pedem fim da violência policial contra negros

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Nova York, Washington e Minneapolis | Reuters e AFP

Pela sétima noite seguida, os Estados Unidos tiveram protestos, confrontos, saques e prisões em várias cidades do país.

O toque de recolher imposto pelas autoridades seguiu sendo desrespeitado na noite de segunda (1º) e na madrugada desta terça (2). Ao menos cinco policiais foram baleados, e centenas de pessoas foram presas.

Os atos, que pedem o fim da violência policial e do racismo, ocorrem mesmo após as duras ameaças do presidente Donald Trump, na noite de segunda, de usar militares para enfrentar os manifestantes.

Manifestantes passam pela Times Square, em Nova York, após toque de recolher - Jonh Moore/AFP

Em St. Louis, no estado de Missouri, quatro policiais foram hospitalizados após levarem tiros em meio a confrontos com manifestantes. Eles não correm risco de morte.

Outro policial foi baleado em Las Vegas, onde ao menos dois incidentes envolvendo troca de tiros durante protestos são investigados.

Pouco depois das 23h (0h em Brasília), quando o toque de recolher entrou em vigor em Nova York, mais de cem pessoas se reuniram de maneira pacífica diante do Barclays Center, no Brooklyn, e se ajoelharam para homenagear as vítimas da violência dos últimos dias. Os policiais observaram a distância.

Ao longo da noite, houve saques em vários comércios de Manhattan, em lojas de marcas como Nike, Michael Kors e Lego e outras de aparelhos eletrônicos. As portas da Macy's, perto de Times Square, foram arrombadas.

Um policial que tentava conter um ataque a uma loja foi atropelado, aparentemente de forma intencional. Ele está no hospital em estado grave.

Mais de 200 pessoas foram presas em Nova York. O prefeito da cidade, o democrata Bill de Blasio, anunciou que o toque de recolher na cidade será antecipado para começar às 20h (21h em Brasília) e durará até domingo (7).

"Apoiamos os protestos pacíficos, mas agora é o momento de voltar para casa. Há pessoas que estão nas ruas nesta noite não para protestar, e sim para destruir propriedades e provocar danos a outros. Essas pessoas estão sendo detidas, suas ações são inaceitáveis", afirmou Blasio.

Em Los Angeles, manifestantes atearam fogo a um centro comercial. Em Oakland, também na Califórnia, mais de 40 pessoas foram presas por desrespeitar o toque de recolher. Segundo levantamento da agência Associated Press, mais de 5.600 pessoas foram presas desde o início dos protestos.

Uma semana depois da morte de George Floyd, um homem negro de 46 anos asfixiado por um agente branco em Minneapolis durante ação policial, os protestos acontecem de costa a costa nos Estados Unidos. As manifestações, pacíficas em sua maioria, resultaram em distúrbios generalizados.

Na segunda-feira, o presidente Donald Trump prometeu restaurar a ordem e ameaçou os estados com a mobilização de militares. Em tom firme, pediu que governadores e prefeitos usem as forças da Guarda Nacional em número suficiente para conter as ruas.

"Se uma cidade ou um estado se recusar a tomar as medidas necessárias para defender a vida e a propriedade de seus residentes, então implantarei as Forças Armadas dos Estados Unidos e rapidamente resolverei o problema para eles."

Houve protestos também em frente à Casa Branca, que seguiam de forma pacífica, mas foram dispersados com bombas. Em seguida, Trump caminhou pela rua até uma igreja próxima e posou para fotos segurando uma Bíblia, o que irritou líderes religiosos.

"O presidente posou com a Biblia, e usou uma de nossas igrejas, sem nossa permissão, como apoio para dar uma mensagem que vai contra os ensinamentos de Jesus e contra tudo o que nossa igreja defende. Estou indignada", disse a bispa Mariann Budde.

"Nós, da diocese de Washington, seguindo Jesus e suas lições sobre o amor, nos distanciamos da linguagem incendiária desse presidente. Seguimos quem se alinha à não violência e à busca de Justiça", acrescentou.

Outra crítica pesada veio do chefe da polícia de Houston, Art Acevedo. Em uma entrevista à CNN, ele se dirigiu à Trump, falando em nome dos chefes de polícia de todo o país: “Se você não tem algo construtivo a dizer, cale a sua boca. Porque você está colocando homens e mulheres nos seus 20 e poucos anos em risco. Não se trata de dominar, e sim de conquistar corações e mentes".

“E vamos deixar claro, não queremos confundir bondade com fraqueza. Não queremos que a ignorância estrague o que conseguimos fazer para restaurar a normalidade”, completou Acevedo.

Ele também citou uma frase do filme "Forrest Gump": "Se você não tem nada a dizer, não diga".

A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, e o líder democrata no Senado, Chuck Schumer, também criticaram Trump.

"Em um momento em que nosso país clama por unificação, este presidente o está dilacerando. Lançar gás lacrimogêneo em manifestantes pacíficos, sem provocação, só para que o presidente pudesse posar para fotos do lado de fora de uma igreja desonra todos os valores que a fé nos ensina", afirmaram, em um comunicado conjunto.

A última voz a engrossar o coro foi a do virtual candidato democrata à Presidência, Joe Biden, que deve enfrentar Trump nas eleições de novembro. Ele prometeu tomar medidas, caso seja eleito, para enfrentar o racismo e a violência policial, além de tentar unificar o país.

Biden disse que lidar com essas questões é "trabalho para uma geração" e levará mais tempo do que um mandato presidencial, mas que não se pode esperar mais para começar. Pediu para o Congresso agir já neste mês e propor a criação de um projeto de reforma da polícia.

Mesmo que não consiga abarcar integralmente essas questões, Biden afirmou que não "negociará no medo e na divisão". "Não vou acender as chamas do ódio. Vou procurar curar as feridas raciais que há muito atormentam este país —não usá-las para obter ganhos políticos."

Ele acrescentou que o presidente "tem que ser parte da solução, não do problema" e que Trump está sendo parte do problema ao tornar o país "um campo de batalha". Criticou ainda o "narcisismo" de Trump, ao afirmar que isso se tornou mais importante do que todo o resto.

Grande parte das manifestações contra o racismo transcorre de forma tranquila durante o dia, mas o cair da noite divide os grupos e tem mudado o clima em muitas regiões.

Desde o início da semana passada, milhares de pessoas pedem justiça pela morte de George Floyd.

Negro e desarmado, o ex-segurança de 46 anos teve o pescoço prensado contra o chão por quase nove minutos pelo joelho de um policial branco em Minnesota. O agora ex-policial Derek Chauvin foi preso na sexta-feira (29) e transferido no domingo para uma prisão de segurança máxima, onde espera julgamento.

O agente já foi objeto de 18 inquéritos disciplinares, dos quais 16 foram encerrados sem nenhum tipo de punição. Ele foi demitido da polícia logo após o episódio vir à tona.

Nesta segunda, médicos independentes apontaram que Floyd foi morto por "asfixia mecânica”, o que difere do relatório divulgado pela polícia anteriormente.

A ação, gravada por testemunhas que passavam pelo local, viralizou nas redes sociais e mobilizou o país.

Os atos contra a violência sistemática da polícia têm escancarado mais uma vez as desigualdades e o racismo estrutural que atravessa as instituições americanas.

Essas manifestações ganham força no momento em que o país sofre com a pandemia do coronavírus, que já matou mais de 100 mil pessoas e mergulhou os americanos —principalmente os negros— em uma combinação de crise econômica e de saúde pública sem precedentes.

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