Sem dinheiro, estudantes brasileiros no México tentam repatriação

Há pelos menos 200 pessoas nessa situação; muitos viajaram para fazer intercâmbio

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Lisboa

Estudantes brasileiros retidos no México devido à pandemia de coronavírus têm enfrentado uma rotina de voos cancelados, dificuldades financeiras, vistos expirando e problemas de acesso à saúde pública.

Sem condições de permanecerem no país, muitos pedem ao governo brasileiro a realização de voos humanitários de repatriamento.

No caso mexicano, um grupo de WhatsApp reúne cerca de 200 pessoas que tentam voltar para casa, muitos deles alunos que viajaram para fazer intercâmbio.

Um voo de repatriamento, organizado pelo Brasil em 24 de abril, privilegiou turistas que estavam no país.

Matriculada em um intercâmbio na faculdade de economia da Universidade Nacional Autônoma do México, Andreza Sant’Ana, 24, já teve três passagens de volta para o Brasil canceladas.

Ela também diz esperar que a última, marcada para o dia 17, mais de um mês depois do previsto, tem poucas chances de se concretizar.

“No meu caso, eu tenho um visto de 180 dias, que acaba em 7 de julho. Eu não sei como renovar esse visto. O consulado [do Brasil] não está dando suporte legal. Eles respondem a gente com mensagem automática, está desesperador”, resume.

Andreza diz que tinha uma reserva financeira para se manter no México por cinco meses.

"É impossível eu ficar mais tempo. Eu fiz um contrato de aluguel da casa onde eu moro, mas já acabou e eu vou ter de sair daqui na sexta-feira. Não sei ainda para onde eu vou. Vou ter de me expor a uma mudança no meio da pandemia.”

Estudante de mestrado na USP em intercâmbio de pesquisa na Cidade no México, Giovana Izidoro também relata dificuldades de comunicação e problemas para se manter no país.

“Minha bolsa acabou em maio, meu seguro-viagem também expirou, meu visto de turista expira na semana que vem e talvez eu tenha de pagar uma multa diária. Eu não tenho condições financeiras de ficar aqui indefinidamente. Nesse mês eu consegui pagar o aluguel com a ajuda de amigos”, relata.

Na última semana, um voo especial, organizado pelo governo do México para buscar seus cidadãos no Brasil, vendeu passagens para brasileiros interessados em retornar. O bilhete custava US$ 850 (cerca de R$ 4.215), valor acima do que muitos dos estudantes dizem poder pagar.

Estudantes ouvidos pela reportagem, e também por meio de manifestações nas redes sociais, pedem como solução um voo de repatriamento humanitário, sem custos ou a um valor bem mais baixo que os mais de R$ 4.000 agora cobrados.

O Ministério das Relações Exteriores, no entanto, informa que não tem previsão para um novo voo de repatriamento, destacando os dois que já foram realizados.

De acordo com o Itamaraty, “estão sendo avaliadas as situações particulares, bem como a oportunidade de se atender ao pleito dos nacionais brasileiros”.

Sobre o caso específico de estudantes em dificuldade, o ministério afirma que não há auxílios específicos, mas que os jovens podem entrar em contato com as repartições consulares, pelos canais oficiais.

“As representações brasileiras no exterior, quando contatadas, realizam avaliação de cada caso específico e podem oferecer pequenos auxílios para situação de desvalimento”, afirma a pasta, em nota.

"Cabe ressaltar, no entanto, que as representações no exterior dispõem de verbas de assistência para casos emergenciais, mas não há previsão orçamentária para a concessão de auxílio continuado."

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