Alemanha dissolve parte de unidade militar de elite por laços com extrema direita

Autoridades temem ressurgimento de terrorismo contra imigrantes e judeus

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Berlim | AFP

Desestabilizada por vários escândalos sobre vínculos de alguns de seus membros com a extrema direita, a unidade militar de elite alemã será parcialmente dissolvida, anunciou a ministra da Defesa, Annegret Kramp-Karrenbauer, nesta quarta feira (1º).

O Comando de Forças Especiais (KSK) "se declarou parcialmente autônomo a respeito do restante do Exército, em particular por causa de uma cultura tóxica de alguns de seus comandantes", afirmou Kramp-Karrenbauer ao jornal Süddeutsche Zeitung.

"Em consequência, a KSK não pode continuar sob sua forma atual."

A ministra da Defesa da Alemanha, Annegret Kramp-Karrenbauer, anuncia a dissolução parcial da KSK ao lado do inspertor-geral das Forças Armadas
A ministra da Defesa da Alemanha, Annegret Kramp-Karrenbauer, anuncia a dissolução parcial da KSK ao lado do inspertor-geral das Forças Armadas - Fabrizio Bensch - 1º.jul.20/AFP

A unidade é acusada de ter se separado demasiadamente do Exército, o que favoreceu a emergência de "dirigentes tóxicos" e a difusão de "ideias extremistas", disse ela.

De forma imediata, a segunda companhia das forças especiais alemãs, em que foram detectados os maiores problemas políticos, será dissolvida, sem substituição. A KSK conservará apenas três companhias.

Na expectativa de uma profunda reforma, a unidade de elite não participará de exercícios nem de missões internacionais.

Criada em 1996, sob o modelo do Special Air Service (SAS) britânico, a unidade de operações secretas é formada por cerca de 1.400 soldados de operações e apoio logístico.

Entre suas missões estão repatriar os alemães de zonas de guerra ou em crise, trabalhos de Inteligência e treinamento de forças aliadas.

Munição roubada

O desaparecimento de 48 mil cartuchos e 62 quilos de explosivos foi classificado como preocupante e alarmante pela ministra. O Exército abriu uma investigação sobre a recente descoberta, que pode ter sido provocada por um erro interno, explicou.

"O muro de silêncio está se rompendo", afirmou Kramp-Karrenbauer.

Com a lembrança do nazismo onipresente, a Alemanha buscou, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, ter um Exército irretocável. Os recentes escândalos envolvendo os militares abalaram o país.

Vários membros da KSK foram identificados como próximos a círculos ultranacionalistas, algo que preocupou as autoridades, que temem o ressurgimento do terrorismo de extrema direita, contrário aos imigrantes, aos judeus e aos políticos que os apoiam.

"Alguém que seja de extrema direita não tem lugar na Bundeswehr [Forças Armadas] e tem de deixá-la", declarou a ministra à rádio pública.

Em outubro, a situação interna das demais companhias da unidade passará por uma revisão. Caso os membros das KSK "não escutem a primeira rodada de avisos, então abordaremos uma reorganização mais ampla", afirmou Kramp-Karrenbauer.

Escândalos

Nos últimos anos, uma série de escândalos atingiu as Forças Armadas alemãs, nas quais ideias de extrema direita foram ganhando terreno.

Um dos primeiros episódios alarmantes na KSK ocorreu em abril de 2017, em uma festa de despedida de um de seus comandantes. Houve saudações hitleristas, e cabeças de porcos foram lançadas.

Em uma investigação interna, foram descobertas armas na propriedade de um integrante da KSK na Saxônia, que já havia chamado a atenção por suas posições radicais.

Em janeiro, o Serviço de Contrainteligência Militar alemão (MAD) anunciou que 20 integrantes da tropa de elite eram suspeitos de serem membros da extrema direita —uma proporção cinco vezes superior do que na Bundeswehr.

Em geral, as Forças Armadas alemãs já são criticadas por essas questões. Em 2017, dois militares foram detidos por suspeita de planejarem um atentado contra personalidades alemãs favoráveis demais —segundo eles— à imigração.

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