Após demissão de jornalista, partido convoca marcha por liberdade de imprensa na Hungria

Saída de editor-chefe do principal site noticioso do país é motivo de 'grande preocupação', segundo Comissão Europeia

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Bruxelas

A demissão pelo maior site de notícias da Hungria, o Index.hu, de seu editor-chefe, Szabolcs Dull, fez a oposição ao primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, convocar para esta sexta (24) uma manifestação pela liberdade de imprensa em Budapeste.

"Foi um novo e enorme prego no caixão de uma imprensa livre e de um país livre", afirmou o partido de centro Momentum, que convocou o protesto.

Fundada em 2017, a agremiação não tem representantes na Assembleia nacional, controlada por Orbán, mas é vista como um dos movimentos extra-parlamentares mais fortes do país. Em 2019, obteve cerca de 10% dos votos para o Parlamento Europeu, elegendo dois eurodeputados.

Szabolcs Dull, ex-editor-chefe do site húngaro Index, ao deixar prédio da empresa, em Budapeste
Szabolcs Dull, ex-editor-chefe do site húngaro Index, ao deixar prédio da empresa, em Budapeste - Bernadett Szabo - 22.jul.20/Reuters

"O conselho editorial do Index deixou claro o que está acontecendo: interferência em seu trabalho, ameaças, chantagem, coerção e esforço de pressão”, afirmou o Momentum na convocatória da marcha, que deve sair da sede do site e terminar em frente ao escritório do primeiro-ministro.

A saída de Dull também abriu uma crise interna no veículo de comunicação, com ao menos três pedidos de demissão, além de uma manifestação de “grande preocupação” da Comissão Europeia.

Dull foi demitido nesta quarta (22) porque, segundo ele, recusou-se a levar adiante mudanças que afetariam a autonomia editorial do Index. Desde o final do mês passado, o site passou a publicar em sua home page um “barômetro de independência” com o ponteiro apontando para a posição de “perigo”.

“Forças externas estão tentando influenciar como operamos, nossas decisões de pessoal e o que devemos fazer para ‘garantir nossa sobrevivência’, embora sejamos líder indiscutível de mercado”, afirma texto da página em inglês do site, ainda no ar.

Segundo o jornal húngaro independente Népsava, é difícil verificar a afirmação da companhia de que as mudanças no site são necessárias por causa da crise, mas o pagamento de dividendos em 2019 foi maior que o de 2018.

Respeitado por seu jornalismo investigativo, o Index chegou a publicar reportagens sobre corrupção de membros da administração húngara.

A preocupação com a independência jornalística começou em março, quando um empresário próximo de Orbán comprou a Indamedia, companhia que vende a publicidade do Index e controla as receitas do site.

Segundo a Redação, nas últimas duas semanas a empresa passou a pressionar para “dissolver a equipe editorial”. Nesta quinta, três jornalistas do site se reuniram com o presidente do conselho de diretores, László Bodolai, para pedir a readmissão de Dull. Sem sucesso, os três apresentaram suas demissões.

Outros membros da equipe foram ao escritório de Bodolai entregar suas cartas de demissão, mas ele havia deixado o prédio, segundo o !!444!!!, site editado por ex-jornalistas do Index.

O presidente do conselho justificou a recusa em nota: “A perda de confiança em Dull é tão profunda que não posso trabalhar com ele de forma alguma".

A demissão do editor-chefe acontece na mesma semana em que europarlamentares criticaram o Conselho Europeu por reduzir a pressão contra medidas de Hungria e Polônia consideradas antidemocráticas.

Segundo eles, no texto final sobre o orçamento plurianual e o pacote de resgate da economia europeia, foram retiradas cláusulas da versão original que exigiam o respeito ao Estado de Direito.

A Comissão afirmou, porém, que o texto prevê regras para vincular o socorro pós-pandemia ao cumprimento das normas democráticas do bloco.

Para a comissária responsável por valores e transparência da UE, Vera Jourová, há no momento "alto risco" à independência política na Hungria.

"Para ter eleições livres e justas, precisamos ter pluralidade de mídia e liberdade de expressão garantidas, Por isso vemos com grande preocupação a situação no país”, afirmou ela.

A Comissão Europeia também avalia se a fusão de mais de 400 veículos pró-governo na Fundação para a Imprensa e a Mídia da Europa Central fere as regras da concorrência.

No Monitor de Pluralidade da Mídia 2020, publicado nesta quinta pela União Europeia, a situação da Hungria é classificada como de alto risco nos ítens de concentração de mercado e independência política, e de médio risco nos de segurança da atividade jornalística e inclusão social.

Segundo jornalistas húngaros ouvidos pelo site noticioso Politico, o governo húngaro vinha aumentando a pressão psicológica sobre repórteres do Index, expulsando jornalistas do prédio da Assembleia. No final do ano passado, fotos de dois jornalistas do Index apareceram em pôsteres antissemitas em Budapeste.

O governo húngaro afirmou ao Político que “não se envolve em assuntos do mercado de mídia".

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