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Fora das sombras, unidade para Ovnis do Pentágono diz que revelará pesquisas

Relatórios sobre parte das descobertas serão apresentados ao público a cada seis meses

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Ralph Blumenthal Leslie Kean
The New York Times

Apesar das declarações do Pentágono de que desativou um programa antes secreto que investiga objetos voadores não identificados (Ovnis), a iniciativa continua em andamento —com outro nome e escondida no Escritório de Inteligência Naval, cujos oficiais estudam encontros surpreendentes entre pilotos militares e veículos aéreos não identificados.

As autoridades do Pentágono não querem falar sobre o programa, que não é secreto, mas lida com assuntos secretos. No entanto, ele foi citado no mês passado no relatório de uma comissão do Senado que estipula o orçamento dos órgãos de inteligência do país para o ano seguinte.

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Imagem de vídeo mostra objeto não identificado avistado por caças perto de San Diego, em 2004 - Departamento de Defesa dos EUA via The New York Times

O relatório disse que o programa, a Força-Tarefa sobre Fenômenos Aéreos Não Identificados, vai "padronizar a coleta e a divulgação" de avistamentos de veículos aéreos não explicados e relatar ao público pelo menos parte de suas descobertas a cada seis meses.

Autoridades aposentadas envolvidas na iniciativa —como Harry Reid, ex-líder da maioria no Senado— esperam que o programa procure evidências de veículos de outros mundos, mas sua missão principal é descobrir se outro país, especialmente um potencial adversário, está usando tecnologia pioneira de aviação capaz de ameaçar os Estados Unidos.

O senador republicano Marco Rubio, da Flórida, que é o presidente em exercício da Comissão de Inteligência do Senado, disse a uma afiliada da rede CBS em Miami neste mês que se preocupa principalmente com relatos de aeronaves não identificadas sobre bases militares americanas —e que é do interesse do governo descobrir quem foi o responsável.

Ele manifestou preocupações de que a China, a Rússia ou outro adversário tenha dado um "salto tecnológico" que lhes "permita realizar esse tipo de atividade".

Rubio disse que alguns dos veículos não identificados que sobrevoaram bases dos EUA possivelmente exibiam tecnologias inexistentes no arsenal americano. Mas ele também comentou: "Talvez haja uma explicação completamente boba, digamos, para isso. Mas precisamos descobrir".

Em 2017, The New York Times revelou a existência de uma unidade antecessora, chamada Programa Avançado de Identificação Aeroespacial. Autoridades do Departamento de Defesa disseram na época que a unidade, com verba de US$ 22 milhões, tinha sido desativada em 2012.

Pessoas que trabalham no programa, entretanto, disseram que ela continuava em operação em 2017 e depois. Essas declarações foram confirmadas mais tarde pelo Departamento de Defesa.

O programa começou em 2007 sob a Agência de Inteligência da Defesa e depois foi colocado no âmbito do gabinete do subsecretário da Defesa para inteligência, que continua responsável por sua supervisão.

Mas sua coordenação com a comunidade de inteligência seria realizada pelo Escritório de Inteligência Naval, como descrito na lei de orçamento do Senado. O programa nunca parou nesses anos, mas pouco foi revelado sobre as operações após 2017.

O diretor anterior do programa do Pentágono, Luis Elizondo, um oficial da inteligência militar que se demitiu em outubro de 2017 após dez anos na iniciativa, confirmou que a nova força-tarefa evoluiu do programa aeroespacial avançado.

"Ele não precisa mais se esconder nas sombras", disse Elizondo. "Terá uma nova transparência."

Elizondo faz parte de um pequeno grupo de ex-autoridades do governo e cientistas com credenciais de segurança que, sem apresentar provas físicas, dizem estar convencidos de que objetos de origem indeterminada caíram na Terra com materiais que foram recuperados para estudo.

Há mais de uma década, o programa do Pentágono apresenta informações secretas para comissões do Congresso, executivos de companhias aeroespaciais e outras autoridades do governo, segundo entrevistas com participantes do programa e documentos que perderam a classificação de sigilosos.

Em alguns casos, foram encontradas explicações mundanas para incidentes antes misteriosos. A falta de uma explicação terrestre plausível não torna mais provável uma versão extraterrestre, dizem astrofísicos.

Reid, o ex-senador democrata de Nevada que pressionou por verbas para o antigo programa de Ovnis quando era líder da maioria, disse acreditar que houve quedas de veículos de outros mundos e que materiais recuperados são estudados secretamente há décadas, muitas vezes por empresas aeroespaciais contratadas pelo governo.

"Depois de examinar isso, cheguei à conclusão de que havia relatos —alguns substanciais, outros nem tanto— de que havia de fato materiais que estavam em posse do governo e do setor privado", disse em entrevista.

Luis Elizondo, que liderou programa de investigação de Ovnis no Pentágono até 2017 - Justin T. Gellerson/The New York Times

Nenhum artefato caído foi apresentado ao público para verificação independente. Alguns objetos recuperados, como fragmentos metálicos incomuns, foram identificados mais tarde em análises de laboratório como feitos por seres humanos.

Eric Davis, astrofísico que trabalhou como contratado e depois consultor no programa de Ovnis do Pentágono desde 2007, disse que em alguns casos a análise dos materiais até agora não conseguiu determinar sua origem, o que o levou a concluir: "Nós não poderíamos fazer isso".

As restrições sobre discussão de programas secretos —e a ambiguidade da informação citada em lâminas desclassificadas dos briefings— colocaram as autoridades que estudam Ovnis em condição de declarar suas opiniões sem apresentar evidências sólidas.

Davis, que hoje trabalha na empreiteira de defesa Aerospace Corp., disse que entregou informações sigilosas a uma agência do Departamento de Defesa em março passado sobre materiais recuperados de "veículos de outro mundo não feitos nesta Terra".

Davis disse que também deu informações secretas sobre a recuperação de objetos inexplicados a membros da Comissão de Serviços Armados do Senado em 21 de outubro de 2019 e para membros da Comissão de Inteligência do Senado dois dias depois.

Membros das comissões não responderam a pedidos de comentários sobre o assunto.

O fascínio público pelo tema dos Ovnis chamou a atenção do presidente Donald Trump, que disse a seu filho Donald Trump Jr. em uma entrevista em junho que ele sabia coisas "muito interessantes" sobre Roswell —cidade no Novo México que concentra especulações sobre a existência de Ovnis.

O presidente hesitou quando questionado se revelaria alguma informação sobre Roswell. "Vou ter de pensar sobre isso", disse.

De qualquer modo, disse Reid, deveriam esclarecer melhor o que se sabe e o que não se sabe. "É extremamente importante que informação sobre a descoberta de materiais físicos ou naves recuperadas seja revelada", afirmou.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves 

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