Estátua da Pequena Sereia é pichada com frase 'peixe racista' na Dinamarca

Monumento de 107 anos foi alvo de protestos de ativistas e chegou a ser decapitado duas vezes

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Copenhague | Reuters

Moradores de Copenhague foram pegos de surpresa nesta sexta-feira (3) com uma pichação na estátua construída em homenagem à Pequena Sereia, personagem do conto de fadas do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen.

"Peixe racista", diz a frase pichada na rocha sobre a qual se apóia a Pequena Sereia há 107 anos. A escultura atrai cerca de 1 milhão de turistas por ano e já foi vandalizada outras vezes.

O monumento também foi alvo de protestos de ativistas contra a caça de baleias e, em duas ocasiões, chegou a ser decapitado.

"Consideramos vandalismo e iniciamos uma investigação", disse um porta-voz da polícia de Copenhague. Os autores ainda não foram identificados.

Policiais fotografam estátua da Pequena Sereia pichada em Copenhague - Mads Claus Rasmussen - 3.jul.20/AFP

Desde o início de junho, uma onda de questionamentos incitada pelos atos antirracismo após o assassinato de George Floyd, nos Estados Unidos, transformou em alvos estátuas dedicadas a figuras históricas associadas ao racismo, à escravidão e ao colonialismo.

No caso da Pequena Sereia, entretanto, não há evidências de que a pichação esteja relacionada ao movimento Black Lives Matter (vidas negras importam).

"Estou tendo dificuldades para ver o que é particularmente racista no conto de fadas 'A Pequena Sereia'", disse Ane Grum-Schwensen, pesquisadora do Centro H.C. Andersen da Universidade do Sul da Dinamarca, à imprensa local.

No ano passado, a Disney anunciou um remake live-action de "A Pequena Sereia", animação lançada em 1989. A escolha da atriz Halle Bailey para interpretar Ariel, entretanto, gerou controvérsias.

Alguns comentários racistas consideraram Bailey inapropriada para o papel, por ela ser negra e o conto original da Pequena Sereia ter origem dinamarquesa.

"Não me importo com as questões negativas que surgirem, sou muito grata por esse papel, que é maior do eu, que é incrível e acho que será lindo. Estou muito feliz por fazer parte disso", disse a atriz, na ocasião.

Na Europa, atos contra monumentos históricos ganharam força em Bristol, no Reino Unido, quando manifestantes usaram cordas para derrubar uma estátua de ​Edward Colston, feita de bronze e erigida em 1895. Ela foi jogada em um rio que corta a cidade.

O homenageado era traficante de escravos e membro do Parlamento britânico no século 17. Dados históricos o relacionam às mortes de cerca de 19 mil negros escravizados nas Américas e no Caribe.

Em Londres, a estátua de Robert Milligan, que chegou a ter 526 negros escravizados em suas duas fazendas de plantação de açúcar na Jamaica, foi removida pelo Museu das Docas.

Na Bélgica, onde ganhou força uma campanha já antiga para tirar de cena monumentos do rei Leopoldo 2º, um busto do monarca que colonizou o Congo (atual República Democrática do Congo) foi para o depósito na Universidade de Mons.

Nos EUA, uma estátua de Cristóvão Colombo foi derrubada, incendiada e jogada em um lago. Dezenas de monumentos em homenagem a figuras do Exército Confederado, que defendia a manutenção da escravidão na Guerra Civil Americana (1861-1865), também foram pichados e, em alguns casos, derrubados.

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