Putin nomeia novo líder para palco de protestos contra prisão de ex-governador

Indicação denota aceno a região governada por oposição no extremo leste da Rússia

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Moscou | Reuters

Vladimir Putin, presidente da Rússia, nomeou nesta segunda-feira (20) um novo governador para a região de Khabarovsk, no extremo leste do país, em substituição a Serguei Furgal, preso no último dia 9.

Furgal aguarda julgamento em Moscou, sob acusação de envolvimento nos planos de assassinato de vários empresários em 2004 e 2005.

Sua prisão motivou uma série de protestos na região de Khabarovsk e na capital de mesmo nome. As estimativas variam, mas pelo menos 10 mil pessoas se reuniram em atos pedindo a libertação de Furgal.

O novo governador é Mikhail Degtyaryov, 39, parlamentar e membro do ultranacionalista Partido Liberal Democrático (LDPR), mesma legenda de Furgal. O decreto de nomeação, assinado por Putin, diz que Furgal deixa o cargo "devido a uma perda de confiança por parte do presidente".

Vladimir Putin, presidente da Rússia, durante videoconferência em que anunciou a nomeação de Mikhail Degtyaryov como novo governador de Khabarovsk - Alexey Druzhinin/Sputnik - 20.jul.20/AFP

Sem mencionar os protestos, que vêm sendo minimizados pelo Kremlin, o líder russo disse a Degtyaryov, durante uma videoconferência nesta segunda, que seu novo trabalho, do qual "o país realmente precisa", demanda "muita responsabilidade".

"Este trabalho é do interesse das pessoas no sentido literal da palavra", disse o presidente. "Temos que olhar para o futuro e não esquecer os planos estratégicos para o desenvolvimento desta região enorme e muito importante", acrescentou Putin, elogiando o território por sua "cultura autêntica" e "poderosa capacidade industrial".

Furgal governava a região desde 2018, quando derrotou, com quase 70% dos votos, o candidato da legenda Rússia Unida, da qual o presidente faz parte. Seu partido, o LDPR, é considerado uma força de oposição ao governo, embora esteja alinhado ao Kremlin em alguns aspectos.

Analistas políticos divergem sobre a decisão de Putin. Parte vê a nomeação de Degtyaryov como uma tentativa de acalmar os ânimos e encerrar os protestos, enquanto os mais críticos ao Kremlin não veem como a indicação pode agradar os manifestantes.

Na prática, autoridades não indicaram movimentação concreta para dispersar multidões ou reprimir atos.

Manifestantes protestam contra a prisão de Serguei Furgal em Khabarovsk - Evgenii Pereverzev - 18.jul.20/Reuters

Na última sexta-feira (17), véspera do maior protesto em Khabarovsk desde a prisão de Furgal, um porta-voz do Kremlin demonstrou preocupação com a instabilidade política e disse que o território "não pode ficar sem um líder ativo por muito tempo".

Nos atos, cartazes exibiam mensagens anti-Putin e exigiam a libertação de Furgal e um julgamento aberto e transparente, de preferência na própria região de Khabarovsk, e não em Moscou.

O decreto de Putin, em vigor a partir desta segunda, prevê que Degtyaryov permaneça no governo pelo menos até setembro de 2021, quando serão realizadas novas eleições.

Em 1º de julho, os russos aprovaram um pacote de mudanças constitucionais que, na prática, podem permitir que o presidente permaneça no poder até 2036, caso ele seja reeleito nos pleitos de 2024 e 2030.

Se estiver no poder em 2028, será o mais longevo líder russo moderno, ultrapassando o ditador Josef Stálin (1878-1953), que governou a partir de 1924 e assumiu o poder absoluto em 1927.

Segundo dados da Comissão Eleitoral Central, 78% dos russos votaram a favor das mudanças.

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