Veja 9 declarações falsas ou polêmicas que Trump deu em entrevista na TV

Presidente americano comparou Biden a 'ideologia que tomou a Venezuela' e criticou pesquisas

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São Paulo

O que desenhos de elefantes, a beleza da Segunda Guerra e o aumento de casos de coronavírus nos Estados Unidos têm em comum?

Todos esses assuntos foram temas de uma entrevista concedida pelo presidente Donald Trump ao jornalista Chris Wallace, da Fox News, canal de tradição conservadora e considerado alinhado ao republicano.

O presidente Donald Trump durante evento na Casa Branca nesta segunda-feira (20)
O presidente Donald Trump durante evento na Casa Branca nesta segunda-feira (20) - Jim Watson/AFP

No programa que foi ao neste domingo (19), porém, Trump entrou em confronto com o entrevistador diversas vezes e chegou a chamar o canal de fake news —um epíteto que ele costumava reservar apenas para veículos mais críticos de sua gestão, como a rede CNN e o jornal The New York Times.

Diferentemente de outros colegas do canal, Wallace tem adotado um tom mais crítico em relação à gestão Trump.

A entrevista de 40 minutos, que foi gravada na sexta (17), girou principalmente em torno de dois assuntos: a resposta do governo americano à pandemia de coronavírus e a eleição presidencial de novembro, que vai opôr Trump ao democrata Joe Biden.

O presidente americano disse que são falsas as pesquisas que colocam seu rival na liderança da disputa e voltou a afirmar que os EUA são o país que mais sofre com a Covid-19 no mundo porque são o que mais testa —nos dois casos, ele não apresentou evidências para comprovar seu ponto.

Veja os comentários de Trump durante a conversa que mais chamaram a atenção.

'Creio que temos uma das menores taxas de mortalidade do mundo'

Logo no início da entrevista, Wallace afirma que os EUA têm a sétima maior taxa de mortalidade por coronavírus do mundo, segundo dados da Universidade Johns Hopkins. Trump, porém, replica que a situação é a oposta e interrompe a entrevista para pedir a uma assessora os dados que comprovem sua afirmação. Ela lhe entrega um papel, e Trump diz que ele mostra que o país tem a menor mortalidade do mundo.

Na sequência, o presidente afirma que esse é um caso de fake news, o que leva Wallace a afirmar que não faz fake news. Enquanto os dois discutem, a entrevista é interrompida, e um narrador faz a checagem dos dados apresentados pelo republicano. Trump na realidade usou dados da União Europeia sobre a taxa de mortalidade, que inclui menos países em seu levantamento, e por isso os EUA aparecem em uma melhor posição (mas não são os primeiros). No da Johns Hopkins, mais completo, o país é de fato o sétimo no ranking mundial.

'Muitos casos nem deveriam ser casos'

O jornalista pergunta sobre a alta recente de casos de coronavírus nos EUA, e o presidente afirma que isso só ocorre porque seu governo tem feito muitos testes. Wallace diz que, enquanto a quantidade de testes aumentou 37%, o número de resultados positivos subiu 194%. O republicano responde que a maioria dos casos não é grave e, por isso, não deveria entrar na contagem.

“Muitos desses casos são pessoas jovens que se curam em um dia, eles têm o nariz entupido e colocamos como um teste [positivo]”, afirma Trump. “Os casos estão subindo, bem, muitos desses casos nem deveriam ser casos”, completa ele, sem apresentar dados que comprovem sua afirmação.

'Eu estarei certo, eventualmente'

Trump também faz críticas ao trabalho de Anthony Fauci, um dos principais infectologistas do país —e consultor do governo. O republicano afirma que o médico é alarmista e que cometeu erros na condução da crise.

Wallace diz que Trump também cometeu erros, e a Fox News mostra um clipe com declarações do presidente minimizando o coronavírus. Em um deles, o presidente diz que a pandemia passaria logo.

Depois das imagens, Trump defende sua posição. “Eu estarei certo, eventualmente. Sabe, eu disse ‘isso [o vírus] vai desaparecer’ e eu vou falar de novo, ‘isso vai desaparecer’ e eu estarei certo.”

'Máscaras causam problemas também'

Wallace questiona Trump sobre sua posição em relação ao uso de máscaras. Apesar de os órgãos de saúde dos EUA terem recomendado o equipamento de proteção em abril, apenas em 11 de julho Trump apareceu em público usando uma máscara.

O presidente diz ser favorável ao equipamento, mas contra a obrigatoriedade do uso. “Como você sabe, máscaras causam problemas também”, afirma, sem especificar quais seriam.

O republicano se classifica ainda como um “crente em máscaras” e diz que “existem governadores pró-máscara”, mas que prefere deixar o assunto na mão de cada estado para decidir.

'Você precisa começar a estudar para isso'

Quando o jornalista pergunta sobre um aumento recente da criminalidade no país, o republicano coloca a culpa na oposição e diz que seu rival na eleição de novembro quer tirar o dinheiro que financia a polícia.

Wallace retruca que isso não é verdade e que Biden não defendeu essa posição. Trump pede novamente a um assessor que traga um documento assinado por Biden e pelo senador progressista Bernie Sanders que, segundo o presidente, provaria que o democrata é a favor da medida.

Nesse momento, Trump afirma que Wallace deveria estudar mais antes da entrevista.

Depois de alguns minutos, ele recebe o documento do assessor e lê trechos sobre imigração ilegal. Wallace aponta que o texto não menciona o fim do financiamento de departamentos de polícia, mas o presidente segue lendo o documento até que a entrevista é interrompida.

Uma narração afirma que a Casa Branca não conseguiu apresentar provas da declaração de Trump porque ela não é verdadeira.

'Nós ganhamos duas guerras mundiais. Belas guerras mundiais'

Quando o jornalista pergunta sobre o uso de símbolos dos confederados —que durante a Guerra Civil (1861-1865) representava os estados do Sul, favoráveis à manutenção da escravidão—, o presidente faz uma série de declarações que provocaram polêmica.

Primeiro, ele afirma que a bandeira confederada não tem conotação racista. “Quando as pessoas orgulhosamente mostram a bandeira confederada, elas não estão falando sobre racismo. Elas amam sua bandeira. Ela representa o Sul. Elas gostam do Sul. Pessoas hoje gostam do Sul. Eu diria que é uma questão de liberdade de muitas coisas”, diz.

Wallace então questiona se o presidente é a favor que bases militares que homenageam líderes confederados mudem de nome —proposta que recebeu apoio das próprias Forças Armadas.

Trump responde que “não se importa com a opinião dos militares” e que não é a favor da mudança.

O republicano passa a divagar e afirma que essas bases ajudaram os Estados Unidos a vencer a Primeira Guerra (1914-1918) e a Segunda Guerra (1939-1945).

“Nós ganhamos duas guerras mundiais. Belas guerras mundiais. Eles foram perversas e horríveis. E nós as vencemos a partir da base [nomeada em homenagem ao general confederado Braxton] Bragg, nós vencemos a partir dessas bases e agora querem jogar esses nomes fora.”

Trump diz ainda que não acredita em pesquisas que mostram que a maioria dos americanos é a favor da mudança.

'Essas pesquisas são falsas'

Ao apresentar uma pesquisa de intenção de voto feita pela própria Fox News, com Biden na liderança com oito pontos de vantagem, o jornalista afirma que, neste momento, o presidente está perdendo a disputa.

“Eu não estou perdendo porque essas pesquisas são falsas. Elas eram falsas em 2016 e agora são ainda mais falsas”, responde Trump, sem apresentar provas contra o levantamento.

“Não sei quem faz as pesquisas da Fox, mas está entre as piores”, continua o presidente, em um raro ataque público contra a emissora que ele costuma apoiar.

'Joe nem sabe que está vivo'

Após Wallace perguntar se Trump considera que Biden está senil, o republicano dá início a uma onda de ataques ao rival. “Joe nem sabe que está vivo”, diz o presidente. “Ele nem sai de seu porão.”

Quando o jornalista apresenta uma pesquisa que mostra que mais americanos consideram Biden mentalmente mais capaz do que Trump, o republicano se gaba de ter passado em um teste e desafia Biden a fazer o mesmo.

Aos risos, Wallace diz que fez o mesmo teste de Trump e que ele era bem simples. A imagem mostra uma das perguntas, em que é preciso apontar o desenho de elefante (as outras opções são uma cobra e um jacaré).

Irritado, Trump diz que o teste depois fica mais difícil e que Biden não conseguiria acertar todas as questões.

'É a mesma ideologia que tomou a Venezuela'

Em outro ataque contra Biden, Trump diz que uma possível Presidência do rival será comandada pelo que ele chama de esquerda radical.

“O mesmo tipo de ideologia que tomou a Venezuela, um dos países mais ricos do mundo, que agora não tem água, não tem comida, não tem remédios. E isso vai acontecer aqui”, disse o presidente americano, embora Biden seja considerado um representante da ala mais moderada do Partido Democrata.

Na sequência, Wallace pergunta se Trump aceitará a derrota na eleição caso perca a disputa, mas ele se recusa a responder. “Não vou simplesmente dizer que sim nem que não.”

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