Belarus expulsa jornalistas e prende opositores, mas mulheres mantêm marcha

Ditadura tenta intimidar protestos, que completam 21 dias neste sábado; com 70 sites bloqueados, população migra para redes sociais

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Bruxelas

Apesar da escalada de medidas da ditadura bielorrussa contra jornalistas, opositores e manifestantes, centenas de mulheres saíram em marcha e impediram que repórteres fossem detidos, no 21º dia de protestos no país.

O regime da Belarus havia anunciado pela manhã o cancelamento de credenciais de jornalistas de veículos internacionais. Estrangeiros foram deportados e banidos do país por cinco anos, e repórteres bielorrussos serão processados por atuar em “ações não autorizadas”.

A ditadura também bloqueou mais de 70 sites informativos e fez novas prisões de opositores.

Mulheres, uma delas com uma criança nos ombros, em frente a corrente de policiais de preto
Policiais da tropa de choque tentam impedir avanço da marcha de mulheres contra a ditadura em Minsk, capital da Belarus - Reuters

As medidas tentam intimidar manifestantes que, desde a eleição presidencial do dia 9 de agosto, protestam contram o ditador Aleksandr Lukachenko e pedem novo pleito.

Na sexta, o Ministério do Interior (responsável pela segurança) fez novas advertências: “Caro residente do nosso país, passe o último fim de semana de verão com sua família e entes queridos. Não tome parte em ações ilegais de rua e, mais importante, não envolva seus filhos em tais eventos”.

Na Belarus, manifestações só são permitidas com a autorização do governo, e todos os protestos contra Lukachenko são considerados ilegais. Atos a favor do presidente também têm acontecido, com relatos de apoio estatal e, em alguns casos, de coação para que funcionários públicos participem.

Apesar da ameaça, mulheres mantiveram os atos programados para este sábado, e várias levaram também seus filhos.

Agentes tentaram deter um repórter durante o protesto deste sábado, mas as manifestantes o impediram, mostra vídeo divulgado pelo site noticioso Tut.by.

A ditadura chegou a prender cerca de 7.000 pessoas nos primeiros três dias de manifestações, deixando ao menos 4 mortos e centenas de feridos.

Há mais de 600 queixas de tortura e espancamento, 450 delas documentadas por entidades de direitos humanos.

Depois de um período de recuo, as tropas de Lukachenko voltaram a prender manifestantes na segunda (24), um dia depois do maior protesto já realizado no país, com quase 200 mil pessoas em Minsk, segundo cálculo do Tut.by baseado em fotos aéreas.

Nesta semana, cerca de 50 jornalistas foram detidos "para averiguação".

Entre os veículos que tiveram credenciais cassadas e jornalistas expulsos estão as emissoras de TV alemã ARD e britânica BBC, as agências de notícias Reuters, Associated Press, RFI, Deutsche Welle e AFP e a rádio Svaboda. O ministério não deu declarações.

Na sexta, a Belarus já havia deportado o premiado fotojornalista sueco Paul Hanson, também banido por cinco anos. Hanson, vencedor do World Press Photo, foi um dos 50 repórteres detidos na noite de quinta em Minsk “para averiguação”.

Jornalistas foram presos também em cidades menores do país.

A Associação de Jornalistas da Belarus foi à Justiça alegando obstrução à atividade profissional, mas nenhuma investigação foi aberta até este sábado.

Além de jornalistas, veículos de informação também sofreram restrições por parte da ditadura de Lukachenko. Jornais impressos, como Komsomolskaya Pravda, Narodnaya Volya, Belgazeta e Svobodnye Novosti Plus, não conseguem imprimir e circular, e mais de 70 sites foram bloqueados.

Para fugir da censura, vários veículos abriram canais em redes sociais, como o Telegram, e bielorrussos têm recorrido a VPNs (rede de conexão privada) para driblar os bloqueios oficiais.

“Lukachenko pode cassar credenciais, mas não vai impedir a informação de circular, porque agora cada pessoa na Belarus virou um veículo jornalístico”, disse à Folha Yulyia, por mensagem de aplicativo (o nome completo foi omitido a pedido dela).

Entre as novas prisões feitas pelo governo estão a do empresário Aleksander Vasilevich, dono de uma agência de publicidade e de uma galeria de arte. Ele já havia sido detido antes por 14 dias, por fazer petição pela libertação de Viktor Babariko, candidato de oposição mais popular até ser preso por Lukachenko.

Outro membro da campanha de Babariko, Vitaly Krivko, foi detido, e um terceiro, Dmitry Kornievich, está desaparecido.

Outro adversário do ditador, o político da oposição Nikolai Statkevich, teve sua detenção prorrogada por mais dois meses.

Ele é acusado de "manifestação ilegal” por ter recolhido assinaturas para o candidato Serguei Tikhanovski e por “expressar publicamente seu descontentamento e adotar atitude negativa em relação ao governo atual”.


Ouça o podcast:

Os protestos na Belarus, a última ditadura da Europa

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