Uso de bomba é investigado como possível causa da explosão em Beirute, diz presidente do Líbano

Michel Aoun afirma que inquérito caminha em três frentes, incluindo a de que detonação foi intencional

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Beirute | Reuters

O presidente do Líbano, Michel Aoun, disse nesta sexta (7) que a investigação sobre as causas da megaexplosão em Beirute buscam evidências para averiguar se ela foi causada por acidente, negligência ou por ação externa, incluindo o possível uso de uma bomba.

A detonação de terça deixou ao menos 154 mortos e cerca de 5.000 feridos. Vários bairros de Beirute tiveram danos em casas e prédios, e dezenas de milhares de pessoas ficaram desabrigadas. O governo estima que as perdas podem chegar a US$ 15 bilhões (cerca de R$ 80 bilhões).

Vista aérea do local da explosão em Beirute, um dia após a tragédia - 5.ago.2020/AFP

Segundo o governo, a explosão de terça (4) foi causada pela detonação de 2.750 toneladas de nitrato de amônio que estavam armazenadas de forma incorreta no porto de Beirute. O material explode se for exposto a altas temperaturas. A investigação busca saber o que gerou a detonação.

"A causa ainda não está determinada. Há a possibilidade de uma interferência externa, por meio de um projétil, bomba ou outra ação", disse Aoun à mídia local. As falas foram confirmadas por seu gabinete.

O presidente disse que a investigação é conduzida em três níveis. "Primeiro, como o explosivo foi trazido e estocado. Segundo, se a explosão foi causada por acidente ou negligência. E, terceiro, a possibilidade de que houve interferência externa."

Aoun rejeitou a possibilidade de uma investigação internacional, após pressões por uma apuração imparcial. Segundo ele, sem oferecer detalhes, "o objetivo por trás desses pedidos é diluir a verdade".

Na quinta (6), durante visita à cidade, o presidente francês, Emmanuel Macron, havia dito que uma investigação internacional transparente é necessária.

Mas, nesta sexta, a ONU afirmou que nenhum pedido de investigação chegou à entidade.

"Estaríamos dispostos a considerar um pedido se recebêssemos algum. No entanto, nada nesse sentido foi recebido", disse Farhan Haq, porta-voz da ONU.

O secretário-geral Antonio Guterres poderia estabelecer um inquérito se fosse requerido por um órgão legislativo da entidade, como a Assembleia-Geral ou Conselho de Segurança.

Informações preliminares indicam que o material explosivo estava no porto havia cerca de seis anos, trazido por um navio que fez uma parada em Beirute e acabou retido devido às más condições de manutenção.

O veículo foi então abandonado pelos donos e pela tripulação, e o governo recolheu sua carga, de alto potencial explosivo, para um depósito.

Após a explosão, o governo ordenou a prisão domiciliar de ao menos 16 autoridades do porto, enquanto a investigação apura se essas pessoas foram negligentes quanto à carga perigosa.

A tragédia gerou revolta nos libaneses. Dezenas protestaram perto do Parlamento, em Beirute, na noite de quinta (6). Em meio a escombros, policiais usaram bombas de gás lacrimogêneo para dispersar os manifestantes depois de eles queimarem objetos, vandalizarem lojas e atirarem pedras contra os agentes.

A explosão é mais um dos motivos de insatisfação com o governo e ocorre menos de um ano depois dos protestos desencadeados por uma proposta de tributar chamadas de voz feitas por aplicativos. Os atos, que começaram em outubro de 2019, culminaram na renúncia do então premiê, Saad Hariri.

Também nesta sexta, o presidente Aoun fez críticas ao sistema político do país e disse considerar necessário que ele seja revisto, por se encontrar paralisado.

O Líbano passa por sua pior crise econômica desde a guerra civil (1975-1990). Atualmente, é um dos países mais endividados do mundo: o crescimento econômico foi dificultado por conflitos e instabilidades regionais. O desemprego entre pessoas com menos de 35 anos chega a 37%.

Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, um dos órgãos de comando da União Europeia, irá neste sábado (8) a Beirute para demonstrar solidariedade e se reunir com líderes do país.

A UE anunciou a liberação de 33 milhões de euros (R$ 210 milhões) para financiar uma ajuda ao Líbano. Uma videoconferência será realizada no domingo (9) entre vários doadores para organizar as ações para ajudar na recuperação.

Já os EUA anunciaram nesta sexta o envio de US$ 15 milhões (R$ 81 milhões) em alimentos e remédios. A quantidade seria capaz de alimentar 50 mil pessoas durante três meses, segundo o governo americano.

A explosão destruiu armazéns de comida e dificulta a chegada de alimentos do exterior. O porto de Beirute era a principal porta de entrada de importações do país, mas boa parte de sua estrutura foi destruída.

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