Protestos diminuem em Kenosha, mas ganham força em 3 cidades americanas

Minneapolis, Portland e Oakland registram confrontos entre policiais e manifestantes na noite de quarta

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Kenosha (EUA) | Reuters

Enquanto a temperatura das manifestações diminuiu em Kenosha, onde um homem negro foi baleado pelas costas por agentes brancos durante uma abordagem policial, ao menos três grandes cidades americanas registraram protestos com confrontos entre policiais e ativistas na noite desta quarta (26).

Houve violência em Minneapolis, Portland e Oakland —que já vinham enfrentando tensões em protestos antirracistas e contra a violência policial. O governador de Minessota, Tim Walz, declarou estado de emergência na capital, Minneapolis, na esteira de protestos que criaram caos na cidade após a morte de um outro homem negro, suspeito de homicídio.

A polícia afirma que não disparou nenhum tiro e que ele cometeu suicídio.

Agentes federais passam por gás lacrimogêneo usado para dispersar manifestantes em Portland - Nathan Howard - 26.ago.2020/AFP

"Comportamentos perigosos e ilegais não serão tolerados", disse Walz em nota. "A Guarda Nacional de Minnesota e a patrulha estadual estão indo para Minneapolis para ajudar a restabelecer a ordem."

O prefeito de Minneapolis, Jacob Frey, por sua vez, impôs um toque de recolher alegando saques a comércios e destruição de propriedades.

A cidade é a mesma onde George Floyd, um homem negro, morreu sufocado por um policial branco que pressionou o pescoço dele por quase nove minutos com o joelho. A morte do ex-segurança gerou uma onda de atos que se espalhou por dezenas de cidades dos EUA e chegou a outros países.

Em Portland, capital do Oregon, os protestos acontecem há 91 dias consecutivos. Nesta semana —incluindo a noite desta quarta—, a cidade voltou a registrar confrontos entre agentes federais e manifestantes após um período de relativa calma.

A polícia local declarou a manifestação que ocorria perto do prédio da Agência de Imigração e Alfândega dos EUA uma "reunião ilegal", ordenou que a multidão se dispersasse e realizou 11 prisões.

Em julho, o presidente Donald Trump enviou agentes a Portland para conter as manifestações, mesmo contra a vontade da prefeita. Assim, ocorreram uma série de confrontos entre os manifestantes e os agentes federais. A situação só foi resolvida após um acordo mediado pela governadora, a democrata Kate Brown, que permitiu a saída dos soldados em troca de um aumento da segurança na cidade.

Também nesta quarta, centenas de pessoas participaram de manifestações tensas em Oakland, na Califórnia. Houve incêndios, janelas quebradas e comércios vandalizados. A polícia da cidade afirmou que várias pessoas foram presas, mas não especificou o número.

Os protestos violentos foram explorados nesta quarta-feira durante a convenção republicana. Em seu discurso, o vice-presidente Mike Pence descreveu as eleições presidenciais de 3 de novembro entre Trump e o democrata Joe Biden como uma escolha entre "lei e ordem" e uma terra sem lei.

"O presidente Donald Trump e eu sempre apoiaremos o direito dos americanos ao protesto pacífico, mas tumultos e saques não são protestos pacíficos. Derrubar estátuas não é liberdade de expressão. E aqueles que o fizerem serão processados ​​em toda a extensão da lei", disse Pence diante de uma plateia em Baltimore, no estado de Mayland. "A verdade é que você não estará seguro nos EUA de Joe Biden."

A declaração veio após três noites de protestos tensos pelo fim da violência policial e do racismo em Kenosha, em Wisconsin, onde Blake foi baleado pelos policiais. Apesar do receio de que a violência persistisse, os atos diminuíram e a noite de quarta e a madrugada de quinta (27) foram pacíficas.

O temor de novos confrontos havia feito o governador do estado, o democrata Tony Evers, negociar com Trump o envio de reforços para a região. "Mandarei agentes de segurança federais e a Guarda Nacional a Kenosha para restaurar a lei e a ordem", afirmou o republicano por meio de uma rede social.

"Não vamos tolerar saques, incêndios criminosos, violência e ilegalidade nas ruas americanas."

Nas primeiras três noites de protestos na cidade, houve registros de vandalismo, incêndios e a presença de grupos de civis armados, formados majoritariamente por brancos, que alegam proteger propriedades de saques e depredações.

Ao menos duas pessoas foram mortas por um adolescente branco de 17 anos, preso nesta quarta. Ele atirou em manifestantes com um fuzil, matando dois e ferindo um. Ele recebeu seis acusações criminais, incluindo homicídio em primeiro grau, equivalente ao homicídio doloso no Brasil, quando há intenção de matar. A pena pode chegar à prisão perpétua.

Nesta quarta, cerca de 200 ativistas participaram da marcha, que não teve o antagonismo dos grupos civis armados. As forças de segurança também mantiveram-se discretas, sem registro de confrontos.

O Departamento de Justiça dos EUA abriu uma investigação sobre uma possível violação de direitos civis pelo policial Rusten Sheskey. Ele foi identificado como o responsável pelos sete disparos contra Blake.

"A investigação ocorrerá paralelamente e compartilhará informações com as autoridades estaduais na medida do permitido pela lei", diz nota do órgão.

O departamento de Justiça do Wisconsin está investigando a ação da polícia com a ajuda do FBI. Em até 30 dias, o departamento irá apresentar um relatório sobre o incidente a um procurador, que decidirá se acusa o policial criminalmente ou não.

Sheskey foi colocado em licença administrativa. Ele é policial há sete anos e era parte da unidade de patrulha em bicicletas. Antes disso, foi guarda universitário por cerca de três anos. A polícia ainda não explicou por que a vítima, que tentava separar uma briga entre duas mulheres, foi baleada.

O governo do estado afirmou que investigadores encontraram uma faca no carro de Blake, para o qual ele se dirigia e onde estavam seus filhos quando foi atingido. O advogado Ben Crump, que representa a família no caso, questionou a informação de que a vítima teria um faca.

"Jacob Blake não machucou ninguém, tampouco apresentou ameaças à polícia, e, ainda assim, eles atiraram sete vezes nas suas costas, em frente aos seus filhos. Mas quando um supremacista branco atirou e matou dois manifestantes pacíficos, a polícia local e a Guarda Nacional permitiram que ele andasse pela rua com seu fuzil", afirmou, em referência ao adolescente preso.

A abordagem policial em que Blake foi baleado foi registrada em vídeo que circula nas redes sociais. As imagens mostram ele andando até o assento do motorista de um veículo SUV, parado na rua, seguido por dois policiais que apontam armas para suas costas. Blake, que aparenta estar desarmado, abre a porta do carro com os agentes atrás dele, e os tiros são disparados à queima-roupa. É possível ouvir sete disparos.

ATENÇÃO: O VÍDEO A SEGUIR CONTÉM IMAGENS FORTES

De acordo com advogados da família, Blake sofreu perfurações no estômago e precisou retirar quase todo o cólon e o intestino delgado. Também sofreu danos no rim, no fígado e num dos braços, atingido por um disparo. Ficou paralisado da cintura para baixo, segundo sua família, e continua internado.

A morte de Blake também gerou indignação no mundo esportivo. Jogadores da NBA (liga de basquete americana) não jogaram a rodada dos playoffs programada para esta quarta, e o torneio de tênis de Cincinnati suspendeu os jogos programados para esta quinta-feira.

A decisão, tomada em conjunto pela Federação de Tênis dos Estados Unidos (USTA), a ATP e a WTA, foi anunciada na quarta, logo após a japonesa Naomi Osaka aderir ao boicote iniciado por jogadores da NBA e anunciar que não participaria das semifinais do torneio, que integra o ATP Masters 1.000 e o WTA Premier. Atletas das ligas americanas de beisebol, futebol e de basquete feminino também anunciaram boicotes aos campeonatos em protesto pelo caso de Blake.

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