Descrição de chapéu Governo Trump

Com ajuda de Trump, Israel e Emirados Árabes Unidos assinam acordo histórico

Suspensão de anexações na Cisjordânia, parte do trato, é apenas temporária, diz premiê israelense

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Washington | Reuters

Com intermédio do presidente dos EUA, Donald Trump, Israel e Emirados Árabes Unidos chegaram a um acordo histórico que deve normalizar as relações diplomáticas entre os dois países.

O pacto foi anunciado nesta quinta-feira (13) por Trump, o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, e o príncipe herdeiro de Abu Dhabi, Mohammed bin Zayed al-Nahyan.

"Este histórico passo diplomático avançará a paz no Oriente Médio e é um testemunho da ousada diplomacia e da visão dos três líderes e da coragem dos Emirados Árabes Unidos e de Israel para traçar um novo caminho, que desbloqueará o grande potencial da região", afirma a declaração dos três países.

O tratado representa uma vitória diplomática para Trump e faz parte da tática de investimento em política externa que pode ajudar o líder republicano em sua campanha de reeleição.

Também fortalece a oposição ao Irã, visto como uma ameaça pelos três países. De um lado, Israel e Estados Unidos acusam o país persa de desenvolver armas nucleares, o que Teerã nega.

De outro, o Irã está envolvido em guerras por procuração da Síria ao Iêmen, onde os Emirados Árabes Unidos têm sido um dos principais membros da coalizão saudita contrária às forças iranianas na região.

O presidente dos EUA, Donald Trump, e o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, durante entrevista coletiva na Casa Branca, em janeiro - Brendan McDermid - 28.jan.20/Reuters

Sob o acordo, Israel concorda em "suspender a declaração de soberania" sobre áreas da Cisjordânia que constam no projeto de anexação do território —ao menos por um período.

Horas depois da divulgação do tratado, Netanyahu afirmou que a suspensão foi um pedido do presidente Trump para que o acordo pudesse ser implementado e que não houve mudanças nos planos israelenses de "aplicar a soberania em plena coordenação com os Estados Unidos".

"Disseram-me que é impossível trazer a paz aos países árabes se não renunciarmos aos territórios. Eu provei o contrário", disse o premiê. "Assim como trouxe paz, também trarei soberania. Nunca desistirei dos nossos direitos em nosso país."

Os conflitos entre árabes e judeus já duram séculos e foram mais acentuados a partir do reconhecimento de Israel como um país, em 1948, e das disputas territoriais com os palestinos. Historicamente, judeus recorrem aos textos sagrados da Bíblia e da Torá para reivindicar o direito de posse das terras.

Da parte dos Emirados Árabes Unidos, a decisão intensifica a campanha internacional do país para ser visto como um símbolo de tolerância no Oriente Médio —embora seja liderado por autocratas.

Israel assinou acordos de paz com o Egito em 1979 e com a Jordânia em 1994. Mas os Emirados Árabes Unidos, junto com a maioria das outras nações árabes, não reconheciam nem mantinham relações diplomáticas ou econômicas formais com os israelenses até agora.

A nova declaração também prevê acordos bilaterais para "investimentos, turismo, voos diretos, segurança, telecomunicações, tecnologia, energia, saúde, cultura, ambiente e estabelecimento de embaixadas". Para concretizar essa parte do trato, delegações dos dois países se reunirão nas próximas semanas.

Israel e Emirados Árabes Unidos ainda anunciaram a decisão de "expandir e acelerar" a cooperação em relação ao tratamento e ao desenvolvimento de uma vacina para o coronavírus. "Trabalhando juntos, esses esforços ajudarão a salvar vidas de muçulmanos, judeus e cristãos em toda a região."

Semanas antes, Netanyahu havia anunciado uma parceria com os Emirados contra a Covid-19, classificando o esforço como uma mudança nas relações com o país. Em troca, porém, viu os árabes emitirem uma declaração modesta, em que o trato era descrito como um acordo entre empresas privadas.

Enquanto o premiê de Israel definiu o anúncio desta quinta como um "dia histórico" e o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, comparou o acordo com os tratados de paz firmados por Israel com o Egito e a Jordânia, o movimento islâmico palestino Hamas, que detém o poder na Faixa de Gaza, disse que o pacto representa um "cheque em branco" para a ocupação da Cisjordânia.
"Rejeitamos e condenamos este acordo. Não ajuda a causa palestina e é visto como uma continuação da negação dos direitos do povo palestino", disse Hazem Qasem, porta-voz do Hamas.

Na mesma direção, a agência de notícias iraniana Tasnim chamou o acordo de vergonhoso. Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Nacional Palestina, por sua vez, convocou uma reunião de emergência.

Já secretário-geral da ONU, o português António Guterres, por meio de um porta-voz, deu boas-vindas a "qualquer iniciativa que promova a paz e a segurança no Oriente Médio".

Os Emirados Árabes Unidos disseram que seguirão como um forte apoiador dos palestinos e que o acordo mantém a viabilidade de uma solução para o conflito com Israel que defenda a existência de dois Estados.

O presidente Jair Bolsonaro elogiou o trato no Twitter, com uma foto dele ao lado de Donald Trump. "Dessa forma, abre-se o sonhado caminho para a paz e prosperidade no Oriente Médio", escreveu.

No Salão Oval, Trump disse que acordos similares estão sendo discutidos com outros países na região e que uma cerimônia de assinatura do tratado será realizada na Casa Branca nas próximas semanas.

"Todos disseram que seria impossível", afirmou o presidente. "Depois de 49 anos, Israel e Emirados Árabes Unidos vão normalizar suas relações diplomáticas."

Da mesma forma, Joe Biden, candidato do Partido Democrata que vai enfrentar Trump nas urnas, em novembro, saudou o acordo como um passo histórico em direção à estabilidade do Oriente Médio.

"A oferta dos Emirados Árabes Unidos de reconhecer publicamente o Estado de Israel é um ato de estadista bem-vindo, corajoso e extremamente necessário", disse o ex-vice-presidente.

"A anexação [das terras da Cisjordânia por Israel] seria um golpe mortal para a causa da paz, e é por isso que me oponho agora e me oporia como presidente."

Depois de falhar, ou não conseguir avançar em outras frentes da política externa americana, a decisão desta quinta pode resultar em ganho de capital eleitoral para Trump.

O fim ainda não concretizado da guerra no Afeganistão e a falta de resultados consolidados nas propostas de paz entre israelenses e palestinos, por exemplo, pesam contra o líder republicano.

Agora, ele busca retomar o papel hegemônico dos EUA no cenário internacional como forma de afirmação da força do seu governo.

Os reiterados ataques à China, contra quem o americano vive uma espécie de Guerra Fria 2.0, seguem também a mesma lógica. Os dois países protagonizam um embate que se manifesta em aspectos econômicos e ideológicos, além das tentativas de demonstração de poderio militar e das respostas de Washington e Pequim à pandemia do novo coronavírus.

Outra direção de enfrentamento do regime de Xi Jinping é a defesa de direitos humanos. Os EUA engrossam o coro de críticas da comunidade internacional à forma como a China lida com os uigures, minoria muçulmana no oeste do país asiático, e contra o que vem sendo apontado como uma interferência de Pequim nas liberdades democráticas e direitos individuais dos cidadãos de Hong Kong.

Em junho, o Congresso chinês aprovou uma nova lei de segurança nacional para o território com o objetivo de punir quaisquer atividades que a China considere subversão, secessão, terrorismo ou conluio com agentes estrangeiros.


As negociações entre Israel e países árabes

1967 - Após a Guerra dos Seis Dias, resolução do Conselho de Segurança da ONU pede a "retirada das Forças Armadas israelenses dos territórios ocupados no recente conflito". Redação imprecisa complicou a inicativa por décadas

1978 - Egito e Israel estruturam acordo, com mediação americana, para Israel se retirar do Monte Sinai, no país árabe, e instaurar um governo de transição palestino na Cisjordânia e na Faixa de Gaza

1979 - Tratado de paz entre Israel e Egito é assinado

1991 - Conferência de Madri reúne representantes de Israel e Palestina para buscar um tratado de paz. Não há acordo, mas abre-se canal de diálogo

1993 - Após seis meses de negociações secretas, em Oslo, na Noruega, Israel e OLP (Organização pela Libertação da Palestina) se reconhecem mutuamente. Contestado pelo Hamas e por colonos israelenses, o acordo estabeleceu autonomia palestina transitória, na Cisjordânia e Faixa de Gaza, excetuando-se as colônias de judeus. Um acordo definitivo seria assinado em cinco anos

1994 - Tratado de paz Israel-Jordânia é o segundo entre um país árabe e israelenses. Sentimento pró-Palestina na Jordânia gera contestações internas ao acordo

2000 - Em conferência mediada por Bill Clinton, negociações de paz entre o palestino Yasser Arafat e o israelense Ehud Barak fracassam

2002-2003 - George Bush se torna o primeiro presidente americano a pedir a criação de um Estado palestino

2002 - Em plano de paz endossado pela Liga Árabe, Arábia Saudita propõe a retirada completa de Israel dos territórios ocupados e a aceitação por parte dos israelenses de um Estado palestino em troca da normalização das relações com países árabes. Estados Unidos, União Europeia e Rússia apresentam conjuntamente outras diretrizes, sem prever retirada total dos israelenses

2007 - Fracassa mais um acordo mediado pelos EUA entre a Autoridade Nacional Palestina e Israel

2009 - Binyamin Netanyahu afirma que está preparado para acordo de paz que inclua um Estado palestino desmilitarizado e sem controle das fronteiras e do espaço aéreo. Premiê israelense também exige que Palestina reconheça Israel como nação judaica. A proposta foi rejeitada

2013 - 2014 - Fracassa nova tentativa de negociações entre Israel e Palestina, mediadas pelo então secretário de Estado americano, John Kerry

2019 - Netanyahu anuncia intenção de anexar assentamentos da Cisjordânia e grande parte do Vale do Jordão se eleito. Secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, apoia reivindicação israelense para construir novos assentamentos nas áreas ocupadas da Cisjordânia, abandonando posição americana de quatro décadas, que considera pleito inconsistente com o direito internacional

2020 - Assinado acordo entre Israel e Emirados Árabes Unidos

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