Crise na Belarus e tensão no Báltico fazem Suécia entrar em alerta militar

País se diz preocupado com movimentação de forças russas e ocidentais perto de seu território

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São Paulo

Em meio à crise da Belarus e ao aumento da atividade militar da Rússia e da Otan (aliança militar ocidental) na região norte da Europa, a Suécia colocou suas forças em alerta no mar Báltico.

Caças e navios estão em alta prontidão, e os noticiários de TV mostraram cenas inusitadas: soldados e veículos blindados patrulhando ruas da bucólica Gotlândia, um popular ponto turístico do país nórdico.

Blindado sueco é seguido por caça Gripen, que pode decolar de estradas curtas, na ilha de Gotlândia
Blindado sueco é seguido por caça Gripen, que pode decolar de estradas curtas, na ilha de Gotlândia - Bezhav Mahmoud - 25.ago.20/Forças Armadas da Suécia/AFP

O motivo: a ilha é altamente estratégica, por ficar num ponto vulnerável à Frota do Báltico da Rússia, baseada em Kaliningrado, território ensanduichado do Kremlin entre a Lituânia e a Polônia.

Segundo comunicado do Ministério da Defesa sueco, "esses são tempos de agitação, a segurança global está passando por mudanças rápidas, e estamos assistindo à deterioração da situação na vizinhança da Suécia".

Segundo analistas militares suecos, o motivo do alerta foi a passagem de um navio de desembarque russo, o Korolev, próximo à Gotlândia, na terça (25).

O jornal Dagens Nyheter publicou nesta quarta que caças Gripen foram deslocados para a ilha e que quatro navios suecos patrulham a região em conjunto com um caça-minas finlandês.

Os militares suecos, fiéis à sua tradição de neutralidade possível, apontaram para todos os lados.

"Há agora uma extensa atividade no mar Báltico, conduzida por russos e também por atores ocidentais, numa escala que nós não vimos desde a Guerra Fria", disse em nota Jan Thörnqvist, o comandante de operações conjuntas das Forças Armadas.

O texto afirma que "a situação é mais instável e difícil de prever" e que "os eventos na Belarus são um lembrete" disso.

Foto do governo mostra soldados suecos patrulhando ruas na turística Gotlândia
Foto do governo mostra soldados suecos patrulhando ruas na turística Gotlândia - Bezhav Mahmoud - 25.ago.20/Forças Armadas da Suécia/AFP

Desde que sua reeleição com 80% dos votos passou a ser alvo de contestação diária nas ruas bielorrussas, o ditador Aleksandr Lukachenko vem acusando a Otan de buscar interferir no país.

Enviou reforços para as fronteiras da Lituânia e da Polônia, embora não haja a movimentação militar que ele diz ocorrer, sugerindo uma invasão. A Belarus colocou suas forças em alerta máximo pela primeira vez desde o fim da União Soviética, em 1991, e está convocando até reservistas.

Sua única aliada local, a Rússia, já prometeu auxílio em caso de necessidade e passou a fazer exercícios militares mais ostensivos em Kaliningrado e no Ártico, mas por ora isso tudo é apenas parte do balé político de demonstração de força.

Em entrevista à TV sueca, a chanceler Ann Linde tentou contemporizar e afirmou que o alerta não diz respeito diretamente à Belarus, mas sim aos exercícios recentes russos na região.

A atividade se estende por toda a região até o Ártico. Na última semana, foram ao menos cinco interceptações feitas pelos russos, quatro delas sobre o Báltico.

A mais recente ocorreu nesta quarta, quando um interceptador russo MiG-31 acompanhou o voo de um avião de patrulha P-3 Orion da Noruega, que é membro da Otan, no Báltico.

Há outras movimentações. Nesta quarta, um avião de vigilância eletrônica RC-135 americano circundou por cinco vezes as três regiões do mar de Barents fechadas pela Rússia para testes com mísseis da sua Frota Setentrional, baseada perto de Murmansk.

Em foto para mostrar alerta militar, corveta que patrulha costa da Gotlândia é sobrevoada por dois Gripen
Em foto para mostrar alerta militar, corveta que patrulha costa da Gotlândia é sobrevoada por dois Gripen - Antonia Sehlstedt - 25.ago.20/Forças Armadas da Suécia/AFP

Já na sexta (21), o submarino americano USS Seawolf se mostrou na superfície ao longo da costa norte da Noruega, que é membro da Otan, enquanto seis bombardeiros estratégicos B-52 patrulhavam a área escoltados por caças F-16 noruegueses.

O senso de urgência da Suécia também se encaixa na necessidade de o governo defender sua posição de remilitarização do país, o que gera crítica entre pacifistas. Como a Folha mostrou em outubro, o país mudou sua orientação pós-Guerra Fria e decidiu investir mais em defesa.

No ano passado, foi aprovada uma expansão de 35% nos gastos militares, visando subir do atual 1% do Produto Interno Bruto aplicado na área hoje para 1,5% em 2025.

Antes, o país já vinha se mexendo. Sua indústria de defesa, sofisticada devido à tradição de autonomia herdada dos anos da Guerra Fria e baseada em exportação, teve contratos renovados com o governo —por exemplo, foram comprados 60 caças da nova geração do modelo Gripen, iguais aos que o Brasil adquiriu.

Além disso, a partir de 2015 a Gotlândia foi remilitarizada. Analistas acham pouco: de detentora da quarta maior Força Aérea do mundo, de 2,5% de gasto do PIB com defesa e de uma força de 850 mil militares no fim da Guerra Fria, hoje os suecos têm apenas 30 mil soldados no serviço ativo.

Muito disso se explica pela ilusão de estabilidade após a dissolução do império comunista, que ficava às suas portas. Mesmo não sendo um membro da Otan, a Suécia era o corredor claro para uma frente norte de ataque soviético à Europa.

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