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Discursos de Obama e Kamala buscam sedimentar frente ampla contra Trump

Primeira noite de convenção democrata exibiu leque de diferentes matizes em torno de Biden

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Washington

Os discursos de Barack Obama e de Kamala Harris na convenção nacional democrata, nesta quarta (19), devem consolidar o amplo arco anti-Trump que o partido tenta formar em torno de Joe Biden.

O primeiro presidente negro da história dos EUA e a primeira mulher negra a concorrer como vice à Casa Branca selam a mensagem de que o Biden pode unir desde os mais progressistas, que foram às ruas contra o racismo e a violência policial, até republicanos cansados dos arroubos de Trump.

A convenção democrata começou na segunda (17) e termina nesta quinta (20), com a formalização da chapa dos centristas Biden e Kamala (pronuncia-se Kâmala) à Presidência dos Estados Unidos.

A candidata a vice-presidente dos EUA pelo Partido Democrata, Kamala Harris, durante evento com Joe Biden em  Wilmington, no estado de Delaware
A candidata a vice-presidente dos EUA pelo Partido Democrata, Kamala Harris, durante evento com Joe Biden em Wilmington, no estado de Delaware - Carlos Barria - 12.ago.20/Reuters

Com retóricas assertivas, Obama e a candidata a vice vão compor a noite mais aguardada do evento, inclusive entre os organizadores da campanha, ao reforçar a mensagem democrata sem deixar de apelar aos eleitores de fora do partido e de desconstruir o atual presidente americano, Donald Trump.

O principal alvo será a má condução do republicano diante dos três principais temas que hoje assolam os EUA: pandemia, crise econômica e luta por justiça racial. Caso siga o roteiro esperado, Obama deve fazer seu discurso público mais duro contra Trump.

Por muito tempo, o democrata evitou fazer ataques, alinhado à postura historicamente discreta dos ex-presidentes americanos. Nos últimos meses, porém, passou a dizer aos mais próximos que, quando o republicano se tornasse uma ameaça de fato ao país —a pandemia já matou mais de 170 mil pessoas nos EUA—, seria hora de se posicionar de maneira enfática.

Muitos eleitores que haviam votado em Obama em 2008 e em 2012 escolheram Trump em 2016, dizendo-se cansados da política tradicional. Agora, uma das grandes missões do democrata é dizer que a opção foi errada e tentar reconquistar esse grupo em favor de Biden.

Isso sem esquecer de motivar jovens e negros que não se mobilizaram para apoiar Hillary Clinton em 2016 e levaram o partido a uma amarga derrota contra Trump. Hillary, inclusive, também fará seu discurso na noite desta quarta, assim como a senadora progressista Elizabeth Warren, que disputou com Biden a nomeação à Casa Branca, mas hoje é uma das mais importantes conselheiras do ex-vice-presidente.

Desde a abertura da convenção, o esforço dos democratas foi escancarar a mensagem de que basta ser anti-Trump para votar em Biden. O leque diverso de oradores do evento argumenta que Trump não tem condições de governar, enquanto o candidato democrata tem experiência para o unir os americanos de maneira suprapartidária e tirar o país da crise.

Para que o roteiro fosse bem sucedido, foram escalados perfis opostos entre os principais discursos nos dois primeiros dias de evento, que acontece pela primeira vez de maneira virtual.

Na abertura, falaram Bernie Sanders, ícone da ala mais à esquerda dos democratas, e o republicano John Kasich, ex-governador de Ohio que concorreu à nomeação de seu partido à Presidência em 2016.

No meio, a grande estrela daquela noite, a ex-primeira-dama Michelle Obama, responsável pelo discurso mais forte contra Trump até então.

Duas vezes segundo colocado na indicação democrata à Casa Branca, Sanders fez esforços para não repetir 2016, quando rachou o partido ao perder a nomeação para Hillary. Desta vez, o senador atuou como conciliador. Pediu para que seus eleitores —jovens e latinos— votem em Biden e pregou união até mesmo entre conservadores e aqueles que escolheram Trump em 2016.

"Sob este governo, o autoritarismo criou raízes no nosso país. Enquanto eu estiver aqui, vou trabalhar com progressistas, moderados e, sim, com conservadores para preservar esta nação de uma ameaça que tantos de nossos heróis lutaram e morreram para derrotar", disse ele.

Na avaliação do senador, o futuro da democracia nos EUA estará em jogo caso Trump continue no poder, e é preciso "um movimento sem precedentes" para vencer "uma crise sem precedentes" e tirá-lo do cargo.

O selo anti-Trump também uniu a velha e a nova guarda democrata.

Nesta terça-feira (18), discursaram a deputada Alexandria Ocasio-Cortez, jovem estrela do partido, e o ex-presidente Bill Clinton, que costuma ser acionado pela sigla principalmente quando o tema é economia.

"Num momento como este, o Salão Oval deveria ser um centro de comando. Em vez disso, é um centro de tempestade. Existe apenas caos. Só uma coisa nunca muda: a determinação em negar responsabilidade e transferir culpa. A bola nunca para por aí", disse Clinton.

Um dia depois do discurso conciliatório de Sanders, Ocasio-Cortez​ teve apenas um minuto para se apresentar como nova líder da esquerda democrata. Apesar de curtíssima, a participação da deputada era a mais esperada desta terça (18).

Sempre muito crítica a Biden, ela preferia Sanders como candidato. Pragmática, no entanto, tem se rendido ao apelo de unidade para vencer Trump, participando de grupos de trabalho da campanha à Casa Branca, mas sem deixar de defender bandeiras que não são adotadas na íntegra por Biden, como o "Green New Deal" —proposta que propõe reformas radicais na economia americana para que 100% da demanda por energia seja atendida por meio de fontes limpas e renováveis.

O discurso que encerrou a terça foi o de Jill Biden, mulher do candidato, que pela primeira vez se apresenta sob tantos holofotes. Auxiliares do ex-vice-presidente dizem que ela sempre foi bem articulada e tem condições de aproximar os eleitores de sua história de vida ao lado do democrata.

Ela lembrou do luto do ex-vice-presidente, que já perdeu a mulher e dois filhos, como um dos pontos que o fazem ser capaz de liderar os Estados Unidos em meio a uma pandemia como esta.

"Como você reconstrói uma família destruída? Da mesma forma que você reconstrói uma nação. Com amor e compreensão, e com pequenos atos de compaixão, com bravura, com fé inabalável", disse Jill, antes de completar: "Há momentos em que não consigo imaginar como ele fez isso, como ele colocou um pé na frente do outro e continuou andando. Mas sempre entendi por que fez isso. Ele faz isso por você."​

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