Em ato inédito, estudantes protestam contra monarquia na Tailândia e comparam rei a Voldemort

Lei de lesa majestade prevê prisões de 3 a 15 anos para quem difamar, insultar ou ameaçar monarquia

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Bancoc | Reuters

Em uma ação inédita na Tailândia, estudantes realizaram protestos, nesta segunda-feira (3), pedindo reformas na monarquia do país, personificada na figura do rei Maha Vajiralongkorn.

Vestidos de personagens do universo Harry Potter, cerca de 200 manifestantes se reuniram para protestar contra a lei de lesa majestade, que prevê prisões de 3 a 15 anos para quem difamar, insultar ou ameaçar a monarquia.

Segundo alguns manifestantes, o tema do protesto era "proteger a democracia contra Você-Sabe-Quem", uma referência a Lorde Voldemort, o vilão da saga "Harry Potter" que não deve ser nomeado. Um boneco reproduzindo o antagonista foi levado à manifestação.

A polícia não impediu as manifestações, mas afirmou que qualquer suspeita de delito seria investigada.

Nesta terça (4), o premiê do país, Prayuth Chan-ocha, pediu aos estudantes que "não criem caos".

O primeiro-ministro se disse preocupado com os atos, prometeu que o Parlamento consideraria as demandas dos manifestantes e afirmou que todos resolverão "os problemas juntos".

Chan-ocha ressaltou que uma comissão parlamentar foi criada para discutir possíveis mudanças à Constituição de 2017, instituída durante o regime militar comandado por ele. Ele não esclareceu quais seriam essas alterações.

Protestos antigoverno no país vêm acontecendo quase diariamente desde fevereiro, quando uma decisão judicial baniu um partido de oposição e garantiu maioria confortável para o premiê no Parlamento. Além de pedir reformas na monarquia, os atos exigem a renúncia do primeiro-ministro e uma nova Constituição.

Chan-ocha é ex-comandante do Exército tailandês. Em 2014, ele liderou um golpe que instalou um regime militar por cinco anos. Com novas eleições muito contestadas, em 2019, o premiê manteve o cargo que ocupa até hoje, apoiado pelas Forças Armadas.

Em outras ocasiões, o primeiro-ministro já alertou manifestantes para que não insultassem a monarquia. No entanto, segundo ele, o rei Rama 10º pediu que a população não fosse mais processada por meio da lei, que remonta ao início do século 20.

Em 2016, após a morte de seu pai, Bhumibol Adulyadej —que reinou o país durante 70 anos—, Rama 10º ascendeu ao trono e requisitou uma revisão da nova Constituição para conquistar mais poderes emergenciais. Desde então, assumiu controle pessoal sobre algumas unidades militares e ativos do palácio que chegam a dezenas de bilhões de dólares.

Segundo o advogado Anon Nampa, 34, presente na manifestação, o palácio está minando a democracia ao assumir poderes cada vez maiores.

Ativistas reclamam de perserguição e afirmam que ao menos nove opositores que moram no exterior desapareceram e que dois teriam sido foram mortos.

"Falar sobre isso não é um ato para derrubar a monarquia, mas, sim, permitir que a monarquia exista na sociedade tailandesa da maneira correta e legítima, em uma monarquia constitucional democrática", discursou Nampa diante dos manifestantes.

Na sequência, dois estudantes listaram as demandas do grupo. Segundo eles, é necessário "cancelar e reformar as leis que expandiram o poder do monarca e que podem desaguar em uma democracia onde o rei é o chefe de Estado".

O palácio real não respondeu aos pedidos de comentário feitos pela agência Reuters.

Na Tailândia, o rei é descrito na Constituição como "entronado em uma posição de adoração reverencial". Tradicionalistas monárquicos tailandeses veem a monarquia como uma instituição sagrada.

A monarquia tem raízes profundas no país, onde os reis mantiveram poder absoluto por séculos, antes de uma revolução em 1932. Até a chegada de Rama 10º ao trono, críticas ao rei eram muito raras.

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