Dezenas de milhares de manifestantes se reuniram neste sábado (1º) em Jerusalém e em outras cidades de Israel para pedir a renúncia do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu.
Neste domingo (2), o primeiro-ministro se reuniu com seu ex-rival e agora ministro da Defesa e parceiro no governo de coalizão, Benny Gantz. Após o encontro, ele acusou os manifestantes de serem responsáveis por uma onda de novas infecções no país.
"É uma incubadora de coronavírus", disse Bibi, como o premiê é conhecido. "Vejo uma tentativa de atropelar a democracia. Há uma distorção de todas as regras."
Israel sofre um novo surto de contágios e já registrou mais de 72 mil casos e 531 mortes provocadas pela Covid-19, de acordo com dados compilados pela Universidade Johns Hopkins.
Não há, entretanto, nenhuma evidência que relacione as novas infecções aos atos contra o governo.
As manifestações quase diárias contra o governo de Netanyahu ganharam força após a aprovação, no final de julho, de um projeto de lei que amplia os poderes do primeiro-ministro no combate à pandemia.
A "Grande Lei do Coronavírus" diminui a capacidade do Legislativo de bloquear medidas do Executivo relacionadas à Covid-19 —como, por exemplo, ordens para o fechamento do comércio.
A legislação também permite que o premiê e seu gabinete implementem regras que considerem urgentes para combater a pandemia, sem a necessidade de autorização dos parlamentares.
Neste sábado, pelo menos 10 mil pessoas marcharam pelas ruas de Jerusalém. Com cartazes que pediam a renúncia e a prisão do premiê, o grupo tomou as ruas ao redor da residência oficial de Netanyahu.
De acordo com relatos da imprensa local, a maioria dos manifestantes usava máscaras de proteção, embora o distanciamento físico entre os participantes tenha sido praticamente ignorado.
Os atos foram considerados os maiores em Israel desde 2011, quando multidões foram às ruas para pedir justiça social e protestar contra o alto custo de vida no país.
Na ocasião, houve uma série de relatos de uso excessivo de força policial na repressão às manifestações. Desta vez, os atos são majoritariamente pacíficos, e os conflitos com as forças de segurança, exceções.
Gantz, líder do Azul e Branco, disse que o direito às manifestações é um "elemento vital da democracia" e pediu "que todos evitem a violência e que a polícia aja com a força mínima necessária para manter a lei".
"Como governo, temos a responsabilidade de permitir que as manifestações ocorram e de proteger os manifestantes", afirmou, durante a reunião com Bibi.
Netanyahu e Gantz protagonizaram desde o início de 2019 uma disputa para comandar o país.
Após uma sequência de eleições terminarem sem que nenhum dos lados reunissem condições de formar maioria no Parlamento, eles chegaram a um acordo de união nacional, no qual haverá revezamento no cargo de premiê, com Netanyahu assumindo a primeira metade do mandato.
De acordo com a polícia, 28 pessoas foram presas, mas 16 delas faziam parte de um grupo de extrema direita, formado por apoiadores de Netanyahu, que agrediram manifestantes, jogaram pedras em carros e atacaram uma equipe de TV. Alguns gritavam frases como "morte aos esquerdistas" e "eu odeio árabes".
O premiê ecoou os pedidos do ex-rival, afirmando que tem "tolerância zero para qualquer manifestação de violência", mas acusou a imprensa de "adicionar combustível" aos atos.
"Nunca houve na mídia uma distorção tão grande a favor dos protestos —eu queria dizer que é um nível soviético, mas já atingiu um nível norte-coreano."
Em uma rede social, Bibi compartilhou uma publicação de seu partido que acusa emissoras de TV israelenses de servirem "como braço de propaganda para as manifestações anarquistas da esquerda".
"Elas [as emissoras] estão fazendo um esforço desesperado para fazer uma lavagem cerebral na população, com o objetivo de derrubar um poderoso primeiro-ministro de direita."
Acompanha o texto uma ilustração que mostra braços saindo de dentro de uma televisão para despejar lixo sobre a cabeça aberta de um espectador.
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