Folha passa a designar Belarus como ditadura

Crescente concentração de poder nas mãos de Aleksandr Lukachenko agravou-se nas eleições de 9 de agosto

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São Paulo

A partir deste sábado (22), a Folha designa como ditadura o regime de Aleksandr Lukachenko na Belarus.

De acordo com o Manual da Redação, o termo se aplica à "dominação de uma sociedade por meio de um governo autoritário exercido por uma pessoa ou um grupo, com repressão e supressão ou restrição de liberdades individuais".

A crescente concentração excessiva de poder nas mãos do líder, com submissão do Poder Legislativo ao Executivo e interferência de Lukachenko no Judiciário, agravou-se nas eleições de 9 de agosto.

O ditador da Belarus, Aleksandr Lukachenko, discursa em ato pró-regime em Minsk
O ditador da Belarus, Aleksandr Lukachenko, discursa em ato pró-regime em Minsk - 16.ago.20/Reuters

Houve intimidação e prisão de adversários, cerceamento à imprensa e proibição de acompanhamento por observadores independentes no dia da votação.

Além de falta de transparência e indícios de manipulação do resultado, o regime usou força excessiva na repressão a protestos pacíficos, com ao menos três mortes e centenas de presos e feridos.

O jornal passa a adotar também o termo "ditador" para Alexandr Lukachenko, no comando do país há 26 anos, já que todos os poderes do regime são concentrados em sua pessoa.

Essa é a mesma classificação que a Folha usa, por exemplo, para se referir aos líderes dos regimes ditatoriais da Venezuela (Nicolás Maduro), da Coreia do Norte (Kim Jong-un) e Nicarágua (Daniel Ortega).

Já no caso das ditaduras de China e Cuba, o jornal não chama seus líderes de ditadores porque esses regimes possuem alguma forma de divisão de poder dentro de suas cúpulas.


Veja as outras reportagens da série sobre Belarus:


Afinal, o que está ocorrendo na Belarus?

Quando e por que começaram os conflitos?
No dia 9, pesquisa que deu mais de 80% dos votos para o ditador Alexandr Lukachenko iniciou ato contra fraude eleitoral, reprimido com brutalidade nas três primeiras noites. Há relatos de surras, estupros e torturas, inclusive de menores de idade e pessoas que não protestavam, com centenas de feridos e ao menos 3 mortos (a ONU fala em 4 mortes).

Quem se manifesta contra o governo? 
Eleitores da oposição, mulheres de todas as idades, entidades de direitos civis, artistas, trabalhadores de algumas grandes estatais, alguns ex-militares, policiais e membros da máquina estatal que renunciaram. Cerca de 300 empresários de tecnologia ameaçaram deixar o país.

Ainda há detidos? 
Segundo a ONU, neste sábado (22) 100 dos 7.000 detidos seguiam presos, dos quais 60 acusados de crimes graves. Ao menos 8 estão desaparecidos.

O que querem os manifestantes?
O protesto não é unificado, mas há 5 reivindicações comuns: 1) a saída de Lukachenko, 2) novas eleições livres, 3) o fim da violência policial, 4) a punição dos responsáveis por tortura, 5) a libertação dos presos políticos.

Os protestos estão aumentando ou refluindo?
Houve alta até o domingo (16) e redução na última semana, mas continuam ocorrendo todos os dias em dezenas de cidades. Greves crescentes até terça (18) foram reprimidas pela polícia e por ameaças de demissão. Renúncias de militares e membros do governo continuam ocorrendo.

As manifestações são apenas contra Lukachenko?
Atos a favor do ditador começaram no dia 16, em Minsk, e em outras cidades. Parte dos participantes são trazidos de ônibus e há relatos de coerção.

A eleição pode ser anulada?
A oposição contestou o resultado na Comissão Eleitoral, mas o recurso foi negado. Nesta sexta (21), a oposição entrou com pedido de anulação no Supremo Tribunal. A resposta deve sair em até cinco dias.

Quem lidera a oposição? 
Não há liderança clara. Svetlana Tikhanovskaia, que assumiu a campanha de seu marido quando ele foi preso, representou uma frente de três candidaturas, mas se exilou na Lituânia após o pleito. Um conselho de transição foi criado, mas o governo não aceitou receber interlocutores e abriu processo criminal contra o grupo.

Qual o interesse russo na Belarus?
O país separa a Rússia das tropas da Otan situadas na União Europeia e passam por ele um quinto do gás e um quarto do petróleo exportados pelos russos para a Europa.

A Rússia pode intervir contra os manifestantes? 
É improvável, pois o apoio explícito de Putin a um líder considerado ilegítimo poderia mudar o atual quadro de simpatia dos bielorrussos por Moscou.

Lukachenko pode cumprir o 6º mandato?
Depende da força e da duração dos protestos e greves, da pressão de empresários externos, da defecção de membros do alto escalão do governo e da existência de alternativas consideradas confiáveis pela Rússia.

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