Manifestantes pedem saída de presidente em novo dia de protestos em Beirute

Empresas de transporte marítimo voltam a operar no porto onde explosão ocorreu

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Beirute | Reuters

No quarto dia consecutivo de protestos após a enorme explosão que destruiu metade de Beirute, manifestantes pediram a saída do presidente libanês, Michel Aoun, e de outras autoridades, acusados pela população de serem responsáveis pela tragédia que deixou ao menos 220 mortos e mais de 6.000 feridos.

Reunidos em volta do marco zero da explosão, que deixou uma cratera de 43 metros de profundidade, os manifestantes seguravam fotografias de vítimas enquanto uma grande tela reprisava imagens da nuvem laranja com contornos de cogumelo que se formou no céu da capital libanesa.

Manifestantes exibem bandeiras libanesas em protesto contra o governo no local onde ocorreu a explosão
Manifestantes exibem bandeiras libanesas em protesto contra o governo no local onde ocorreu a explosão - Goran Tomasevic - 11.ago.20/Reuters

Em um cartaz com a imagem de Aoun, um manifestante escreveu em letras maiúsculas "ELE SABIA" e, logo abaixo, as frases "um governo vem, um governo vai; iremos continuar até que o presidente e o chefe do Parlamento sejam removidos".

Nesta segunda (10), a agência de notícias Reuters revelou que autoridades libanesas alertaram o premiê e o presidente do país em julho sobre o risco de explosão das 2.750 toneladas de nitrato de amônio armazenadas num hangar no porto de Beirute.

Pouco mais de duas semanas depois do alerta, o composto químico causou a megaexplosão que destruiu a zona portuária da cidade e deixou ao menos 300 mil desabrigados.

Como consequência das acusações de negligência, o primeiro-ministro Hassan Diab anunciou a renúncia coletiva de seu governo, mas fez um discurso alinhado às críticas da população, com ataques à elite política do país. De acordo com o premiê, esse grupo inviabilizou a realização de reformas no Líbano.

Dias e seus ministros, porém, devem permanecer nos cargos até que um novo governo seja formado e aprovado pelo Parlamento —ainda não há uma previsão de quando isso deve ocorrer.

Fomar um novo governo em meio às disputas entre diferentes facções que coexistem no país sempre foi complicado, mas a tarefa de encontrar alguém disposto a se tornar primeiro-ministro neste momento pode se mostrar ainda mais difícil.

Enquanto isso, operações seguem buscando de 30 a 40 desaparecidos, enquanto moradores recolhem os destroços e ajudam a fazer reparos nas casas que ficaram sem portas, janelas e paredes.

Usadas por voluntários para tentar organizar o que sobrou de Beirute, as vassouras se tornaram um símbolo da união dos libaneses na reconstrução da cidade.

A catástrofe e seus desdobramentos constituem apenas parte das causas da revolta popular, cevada desde o ano passado, quando foi descoberto um esquema fraudulento que envolvia o Banco Central e instituições financeiras para tentar administrar a cotação da libra libanesa.

O resultado foi o derretimento do mercado de câmbio, encarecendo produtos e mergulhando o país em crise econômica. Em outubro, gigantescas manifestações contra o establishment político derrubaram o primeiro-ministro à época, Saad Hariri.

Para muitos libaneses, a negligência que permitiu a explosão foi a gota d'água de uma série de crises.

Ihsan Mokdad, mestre de obras que examinava um prédio destruído a algumas centenas de metros do porto, diz que os políticos "são todos uns vigaristas." "Não vi um membro do Parlamento visitar essa área."

Para o ourives Avedis Anserlianin, a renúncia do governo é uma boa ideia, mas o momento exige renovação. "Precisamos de sangue novo, ou não vai funcionar", disse em frente à sua loja destruída.

A reconstrução de Beirute deve custar cerca de US$ 15 bilhões (RS 82,2 bilhões), em um país já efetivamente falido, com perdas totais do sistema bancário superiores a US$ 100 bilhões (R$ 548 bilhões).

O porto da capital espelha o sistema de poder sectário libanês, em que os mesmos políticos têm dominado o país desde a Guerra Civil, ocorrida de 1975 a 1990. Cada facção tem uma cota de diretores no porto, a principal artéria comercial da nação.

PORTO EM OPERAÇÃO

Nesta terça, empresas de transporte marítimo e de contêineres voltaram a operar no porto de Beirute. Segundo elas, o terminal não foi tão danificado pela explosão.

Até então, as companhias vinham desviando seus navios para o porto de Trípoli, cidade ao norte da capital libanesa, para manter as linhas vitais de abastecimento em funcionamento.

"Estamos felizes em dizer que o terminal de contêineres sofreu poucos danos e reiniciou suas operações", disse a companhia alemã Hapag Lloyd em uma nota a seus clientes, na qual afirma estar avaliando a extensão do impacto aos contêineres que estavam no porto no dia do incidente.

O escritório da empresa alemã em Beirute, no entanto, foi completamente destruído, embora ninguém tenha ficado ferido. Não foi o caso da francesa CMA, que perdeu ao menos um funcionário.

O Líbano, que importa quase tudo o que consome, é muito dependente dos navios cargueiros que trazem itens ao país, de comida congelada a roupas e outros bens de consumo.

O porto de Beirute tem capacidade anual média para mais de 1 milhão de contêineres —em Trípoli, a capacidade é de 400 mil.

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