Polícia atira em homem negro pelas costas e provoca onda de protestos em Wisconsin

Vítima, Jacob Blake, tem 29 anos e está em estado crítico; ele foi atingido na frente de 3 filhos

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Washington | AFP e Reuters

Uma multidão saiu às ruas para protestar na cidade de Kenosha, em Wisconsin, nos EUA, após a polícia disparar várias vezes no domingo (23) contra um homem negro pelas costas, a curta distância —e na frente de seus três filhos pequenos, segundo o advogado da família.

A vítima, Jacob Blake, 29, foi levada a um hospital em Milwaukee e se encontra em estado crítico. O pai dele disse à rede NBC que o filho passou por uma cirurgia e estava em condição grave mas estável.

Imagem captada de vídeo que circula nas redes sociais mostra abordagem da polícia a Jacob Blake em Kenosha, em Wisconsin
Imagem captada de vídeo que circula nas redes sociais mostra abordagem da polícia a Jacob Blake em Kenosha, em Wisconsin - Reprodução/Twitter/Ben Crump

Um vídeo que circula nas redes sociais mostra Blake andando até o assento do motorista de um veículo SUV, seguido por dois policiais que apontam armas para suas costas. Blake, que aparenta estar desarmado, abre a porta do carro com os agentes atrás dele, e os tiros são disparados à queima-roupa.

É possível ouvir sete disparos. Não está claro se apenas um ou os dois oficiais dispararam.

"Nesta noite, Jacob Blake recebeu múltiplos disparos nas costas, em plena luz do dia, em Kenosha, em Wisconsin", postou o governador do estado, o democrata Tony Evers, no Twitter.

"Apesar de ainda não termos todos os detalhes, sabemos com clareza que não é o primeiro homem ou pessoa negra a receber disparos, a ser ferido ou a ser assassinado sem piedade nas mãos de membros da força da ordem no nosso estado ou no nosso país”, continuou.

Evers convocou uma sessão legislativa especial para discutir, na próxima segunda-feira, um pacote de leis para aumentar a responsabilidade da polícia e eliminar práticas perigosas. O governador ainda anunciou o envio da Guarda Nacional do estado para Kenosha após a noite de protestos —segundo uma fonte ouvida pela agência de notícias Reuters, cerca de 200 membros da força policial irão à cidade.

Pete Deates, presidente do sindicato dos policiais da cidade, acusou Evers de ser irresponsável ao fazer, segundo ele, um julgamento apressado do caso, e pediu à população que espere a apuração dos fatos.

Foto que seria de Jacob Blake com seus filhos, segundo a imprensa local e o advogado de direitos civis Ben Crump
Foto que seria de Jacob Blake com seus filhos, segundo a imprensa local e o advogado de direitos civis Ben Crump - Reprodução/Twitter/Ben Crump

O caso de Blake é mais um a provocar protestos contra a brutalidade e o racismo da polícia desde o assassinato, em 25 de maio, de George Floyd, um homem negro, em Minneapolis. Floyd foi sufocado por um policial branco que pressionou o pescoço da vítima por quase nove minutos com o joelho.

A morte do ex-segurança gerou uma onda de atos que se espalhou por dezenas de cidades dos EUA e outras partes do mundo. Floyd foi lembrado em manifestações na África, na Ásia, na Europa e no Brasil.

Segundo a polícia de Kenosha, o episódio deste domingo ocorreu enquanto oficiais respondiam a um chamado de incidente doméstico, perto das 17h locais (19h, em Brasília). Em nota, a força de segurança afirma que Blake foi levado imediatamente ao hospital, mas não deu mais explicações sobre o caso.

ATENÇÃO: O VÍDEO A SEGUIR CONTÉM IMAGENS FORTES

​O advogado de direitos civis Ben Crump, que atende a família de George Floyd e disse ter sido contratado para representar Blake, afirmou em publicação no Twitter que três filhos da vítima estavam a apenas alguns metros dali quando ele foi alvejado. "Viram a polícia atirar em seu pai. Ficarão traumatizados para sempre”, escreveu. Segundo Crump, Blake tinha tentado intervir em uma briga entre duas mulheres.

Joe Biden, candidato à Presidência dos EUA pelo Partido Democrata na eleição deste ano, afirmou, em um comunicado, que "a nação acorda novamente com luto e indignação por outro americano negro vítima de força excessiva". "Esses tiros ferem a alma do nosso país."

Mike Budenholzer, técnico do Milwaukee Bucks, time de basquete do estado onde o crime ocorreu, também lamentou o episódio, em que "mais um jovem negro é atingido por um policial". "Precisamos de uma mudança, temos de fazer melhor."

A declaração foi corroborada pelo próprio time, que divulgou nota lembrando outros episódios que envolveram violência policial contra negros, casos de Breonna Taylor, Sylville Smith, Ernest Lacy, Dontre Hamilton, além de, claro, George Floyd.

Cicilista passa em frente a caminhão incendiado próximo ao tribunal de Kenosha, durante protesto contra a morte de Jacb Blake
Cicilista passa em frente a caminhão incendiado próximo ao tribunal de Kenosha, durante protesto contra a morte de Jacb Blake - Mike De Sisti/Milwaukee Journal Sentinel via USA Today via Reuters

Após o ocorrido, uma multidão foi até o local e enfrentou policiais antidistúrbios nas ruas. Publicações nas mídias sociais mostram pessoas marchando por Kenosha, cidade de 100 mil habitantes a cerca de 100 quilômetros de Chicago, e jogando coquetéis molotov e tijolos.

A cidade decretou toque de recolher das 20h às 7h pelo segundo dia seguido, e a administração municipal anunciou no Twitter que o fórum e o prédio da prefeitura ficariam fechados por terem sofrido danos.

Clyde McLemore, membro de um ramo local do movimento Black Lives Matter (vidas negras importam), protagonista nos atos por George Floyd, disse que estava ajudando a organizar um protesto nesta segunda, com trajeto previsto entre a casa de Blake e o tribunal, a cerca de 4 quilômetros de distância.

Whitney Cabal, uma líder do Black Lives Matter em Kenosha, disse que reagiu a outros dois incidentes recentes envolvendo força excessiva por oficiais, mas a resposta da polícia não foi satisfatória.

"Esta cidade não vai parar de queimar até que eles [os manifestantes] saibam que este policial foi demitido", disse. "Não houve motivo para que sete tiros fossem disparados contra esse homem negro enquanto ele estava com suas três crianças."

Um comunicado do Departamento de Justiça de Wisconsin informou que os oficiais foram colocados em licença administrativa.

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