Um capitão de polícia do Chile foi preso, nesta sexta (28), por cegar uma mulher ao atingi-la com uma granada de gás lagrimogêneo durante os protestos de 2019 que geraram uma convulsão social no país, deixando 31 mortos.
Em 26 de novembro, Fabiola Campillai, 36, uma bombeira em treinamento e mãe de três filhos, estava num subúrbio ao sul da capital Santiago esperando o ônibus para o trabalho, quando foi atingida no rosto pelo artefato lançado por Patricio Maturana.
Ela foi uma das duas pessoas que ficaram completamente cegas entre mais de 400 que sofreram algum ferimento no olho após serem atingidas por projéteis de bala de borracha ou bombas de gás durante as manifestações que começaram em outubro de 2019 e só arrefeceram com a chegada do coronavírus ao país, em março.
Mais de 3.000 pessoas ficaram feridas e cerca de 30 mil foram presas nos atos.
O Ministério Público Federal do Chile afirmou que Maturana é um dos 62 agentes de segurança do país acusados de crimes cometidos durantes os protestos.
No total, 8.575 queixas criminais foram realizadas, das quais 413 eram relacionadas a lesões nos olhos e 3.342 relacionadas a ferimentos por armas de fogo.
No dia 21 de agosto, o tenente-coronel Claudio Crespo foi detido por cegar o estudante de psicologia Gustavo Gatica, 21.
O INDH (Instituto de Direitos Humanos do Chile) havia alertado, em março, que o fracasso em levar os agentes de segurança à Justiça nos casos de Gatica e Campillai poderia causar ainda mais turbulência e desconfiança em relação à polícia.
Segundo o diretor do INDH, Sergio Micco, a detenção desta sexta é bem vinda, mas "poderia ter acontecido muito mais rápido". "A polícia chilena pode fazer mais", disse.
Jaime Bellolio, porta-voz do governo, afirmou que a prisão mostrou que a justiça estava acontecendo e que o governo "quer que os fatos sejam esclarecidos o quanto antes para que não haja impunidade no país".
As manifestações no Chile foram motivadas por um aumento de 30 pesos (US$ 0,04) nas tarifas do metrô, mas rapidamente se transformaram em protestos maciços, exigindo mudanças nos serviços de saúde, educação, aposentadorias e até na Constituição.
Os protestos, em grande parte pacíficos, atraíram até 1 milhão de pessoas em um único dia.
Episódios de violência, incêndios e saques levaram o presidente Sebastián Piñera a declarar estado de emergência e convocar o Exército para as ruas.
CRONOLOGIA DOS PROTESTOS
18.out.19
Aumento das passagens do metrô de Santiago motiva o primeiro dia de protestos, que paralisa a cidade
19.out.19
Governo decreta estado de emergência —Exército sai às ruas pela primeira vez desde a ditadura de Pinochet— e recua do aumento da passagem. Nos dias seguintes, várias pautas seriam incorporadas, como a reforma do sistema de pensões, de educação e de saúde
22.out.19
Após a morte de 15 manifestantes, Piñera pede desculpas a chilenos
23.out.19
Menino de quatro anos morre após motorista atropelar grupo e manifestantes
25.out.19
Segundo o governo, cerca de 1,2 milhão de pessoas (equivalente a um quinto da população) sai às ruas em Santiago no dia do maior ato
28.out.19
Presidente troca oito ministros, inclusive seu primo Andrés Chadwick, chefe da pasta do Interior e responsável pela atuação das forças de segurança
1º.nov.19
Desde o início dos atos, cerca de 222 manifestantes tiveram ferimentos nos olhos causados pela repressão das forças de segurança; pelo menos 26 perderam a visão em um dos olhos
7.nov.19
Piñera anuncia pacote de medidas para endurecer as punições a manifestantes que cometerem atos de vandalismo durante manifestações
22.nov.19
Piñera admite descumprimento de protocolos de uso da força durante repressão a manifestantes
27.nov.19
Por unanimidade, Câmara aprova redução de 50% dos salários e outras remunerações dos parlamentares
28.nov.19
Governo de Piñera se reúne pela primeira vez com organizações sociais desde o início dos protestos
13.dez.19
Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos denuncia violência sexual contra manifestantes; órgão contabiliza 28.210 mil detenções desde o início dos protestos
27.dez.19
Piñera convoca plebiscito constitucional para 26.abr, no qual os chilenos decidirão se querem alterar a Constituição, herdada da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990)
16.jan.20
Governo anuncia intenção de cobrar uma contribuição previdenciária das empresas para viabilizar aumento do valor das aposentadorias e pensões
1º.fev.20
Número de mortos em 2020 sobe para quatro
6.mar.20
Maior protesto do ano tem novos confrontos entre policiais e manifestantes
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