Pressionado por protestos e pela União Europeia, autocrata da Belarus apela a Putin

Lukachenko diz que impacto das atos poderia se espalhar para além das fronteiras bielorrussas

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Minsk | Reuters

Pressionado por protestos, que entram no sétimo dia seguido, e pela União Europeia, que não reconhece o resultado das eleições na Belarus e estuda sanções contra o país, o autocrata Aleksandr Lukachenko apelou ao presidente russo, Vladimir Putin, com quem conversou por telefone neste sábado (15).

Lukachenko afirmou que o impacto dos atos poderia se espalhar para além das fronteiras bielorrussas e que seria necessário conversar com Putin porque a "ameaça já não é mais apenas à Belarus", segundo a agência estatal de notícias do país, Belta.

Manifestantes se reúnem em Minsk, capital da Belarus, no local onde homem foi morto durante atos contra os resultados das eleições presidenciais - Vasily Fedosenko - 15.ago.2020/Reuters

"Defender a Belarus hoje é nada menos que defender todo o nosso território, o Estado da União", disse o autocrata, referindo-se a um acordo de 1999 que nunca foi totalmente implementado, por resistência bielorrussa.

O projeto representava um embrião de fusão política e econômica, após quase 30 anos de independência entre os países.

Ainda de acordo com a Belta, Lukachenko afirmou que, "ao primeiro pedido, a Rússia vai providenciar assistência para garantir a segurança da Belarus no caso de ameaças militares externas".

Um comunicado divulgado pelo Kremlin não menciona essa ajuda, mas diz que os dois países têm confiança de que a crise na Belarus será resolvida em breve.

"Esses problemas não devem ser explorados por forças destrutivas buscando prejudicar a cooperação de benefícios mútuos dentro da estrutura do Estado da União", afirma o texto.

Nas semanas que antecederam o pleito que deu ao autocrata 80% dos votos (contestados por líderes internacionais e a oposição), Lukachenko acusou a Rússia de tentar interferir no processo eleitoral e prendeu 33 mercenários do país vizinho num episódio ainda bastante obscuro. Nesta sexta (14), com o temor de ser alienado ainda mais pelo Ocidente, resolveu soltá-los.

Putin é o único ator político com força suficiente para influir no curso dos acontecimentos no seu vizinho, que vê a Belarus como um quintal geopolítico útil desde a dissolução da União Soviética em 1991.

Nesse contexto, Lukachenko, que está no poder desde 1994, tem oscilado entre o apoio russo ao resultado das eleições e o apoio europeu contra a pressão russa.

Neste sábado, enquanto o autocrata apelou a Putin por telefone, o ministro das Relações Exteriores bielorrusso afirmou que o país está comprometido a dialogar com a União Europeia em todas as circunstâncias, segundo informações da agência russa RIA.

O bloco europeu estuda impor sanções ao país, após as eleições contestadas e a violência policial que deixou ao menos dois mortos e prendeu milhares durante as manifestações.

Neste sábado, líderes de três países dos Bálcãs pediram que a Belarus conduza novas eleições "livres e justas".

Durante uma viagem a Varsóvia, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, disse que os EUA estão discutindo a crise com a União Europeia para "tentar ajudar o povo bielorrusso a conquistar soberania e liberdade".

Em vídeo gravado na Lituânia, onde está exilada desde terça-feira (11), a principal candidata opositora, Svetlana Tikhanovskaia, pediu o fim da violência policial contra os manifestantes e convocou a população a seguir nas ruas neste fim de semana.

“Peço a todos os prefeitos das cidades que ajam como organizadores de reuniões de massa pacíficas”, disse ela.

Pelo Twitter, o ministro das Relações Exteriores lituano, Linas Linkevicius, chamou Lukachenko de "ex-presidente" e perguntou contra quem o autocrata pediu ajuda a Putin. "Contra seu próprio povo carregando flores nas ruas", escreveu.

Milhares de manifestantes se reuniram neste sábado para deixar flores no local onde um homem foi morto durante os atos desta semana, na capital Minsk. Também houve protestos na Alemanha, na República Tcheca e em frente à embaixada bielorrussa em Moscou.

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