A procuradora-geral de Nova York, Letitia James, moveu uma ação nesta quinta-feira (6) para dissolver a NRA (Associação Nacional do Rifle, na sigla em inglês), sob a acusação de que líderes do grupo desviaram milhões de dólares para uso pessoal e para comprar o silêncio e a lealdade de ex-funcionários.
James afirma que os líderes do principal lobby das armas nos EUA foram contra as políticas internas da associação, além de leis estaduais e federais. Fundada em 1871, a NRA é uma organização sem fins lucrativos.
A ação mira a associação e quatro executivos, incluindo Wayne LaPierre, vice-presidente executivo que transita no escalão do grupo há décadas.
Além de dissolver a NRA, James busca recuperar os valores desviados e proibir os executivos de atuarem na direção de qualquer outra organização sem fins lucrativos no estado.
No processo, ela alega que as lideranças pagaram por viagens às Bahamas, jatinhos privados e refeições que contribuíram para uma redução de US$ 64 milhões (cerca de R$ 342 milhões) no balanço da associação em três anos, transformando um saldo positivo em déficit.
Ao anunciar a ação, James disse que a NRA "tem operado como um campo fértil para ganância, abuso e ilegalidade descarada". "A influência da NRA é tão poderosa que a organização ficou sem fiscalização por décadas, enquanto altos executivos desviaram milhões para seus bolsos."
A ação da procuradora-geral de Nova York, membro do Partido Democrata, a coloca contra a maior e mais poderosa associação de armas dos Estados Unidos, alinhada ao Partido Republicano.
Segundo ela, a ação não foi motivada pelo apoio da NRA ao presidente e candidato à reeleição Donald Trump. No pleito de 2016, no qual o republicano foi eleito, a associação doou mais de US$ 30 milhões (cerca de R$ 160 milhões) à campanha de Trump.
As investigações sobre as transações financeiras nebulosas da NRA começaram em 2019 no Congresso e na Procuradoria de Nova York.
A ação deverá polarizar o país em que a NRA é reverenciada por conservadores como a maior defensora do direito constitucional de portar armas e criticada pelos progressistas que veem a cultura armamentista americana como um gatilho da violência no país.
A associação está sujeita às leis de Nova York porque está registrada como uma associação sem fins lucrativos no estado onde conduz a maior parte de suas operações financeiras.
O estado de Nova York e a NRA já se enfrentaram na Justiça em outras oportunidades.
O Departamento de Serviços Financeiros de Nova York acusou a associação de vender, sem licença, apólices de seguro a donos de armas, e a NRA processa o estado por um decreto para fechar lojas de armamentos durante a pandemia do novo coronavírus.
A associação está em crise desde o ano passado, quando LaPierre pediu dinheiro da organização para comprar uma mansão de US$ 6,5 milhões (R$ 34,7 milhões) no Texas sob a justificativa que se sentia inseguro na Flórida após um massacre em uma escola do estado em 2018.
O então presidente da NRA, Oliver North, cobrou uma investigação sobre LaPierre, que retrucou, acusando North de extorqui-lo.
Após o massacre de El Paso, em agosto de 2019, até mesmo Trump começou a sugerir novas regras para aquisição de armas, como proibição para pessoas com histórico de doença mental.
Ainda assim, o presidente dos EUA disse na época que "o ódio e as doenças mentais puxam o gatilho, não armas", frase vista como um aceno à NRA.
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