Serviço secreto da Rússia faz voo misterioso à capital da Belarus

Missão de 5h22min ocorre na véspera de anúncio de repressão; aliado de autocrata cria partido pró-Rússia

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São Paulo

Um voo a Minsk feito pelo avião que serve à diretoria do serviço secreto russo, o temido FSB, acrescentou mistério à narrativa sobre o envolvimento de Vladimir Putin na crise da Belarus.

O aparelho, um Tupolev-214 modificado como centro de comando aéreo com a matrícula RA-64523, partiu de Moscou e aterrissou às 20h18 de terça (18) em Minsk. Cinco horas e 22 minutos depois, levantou voo de volta à capital russa, onde chegou uma 1h03min depois.

Os dados são do site de monitoramento de tráfego aéreo FlightRadar24, e a identificação do avião foi confirmada por um especialista em aeronáutica russo que pediu anonimato.

Manifestantes pró-Lukachenko com bandeiras da Belarus, em Minsk
Manifestantes pró-Lukachenko com bandeiras da Belarus, em Minsk - Vasily Fedosenko/Reuters

O site do jornal RBK, por sua vez, questionou o FSB (Serviço Federal de Segurança, principal herdeiro da KGB soviética) sobre a natureza do voo e não obteve resposta. Segundo o órgão, esse é o avião no qual usualmente voa o diretor da agência, Alexander Bortnikov.

Na semana passada, quando começaram os protestos contra a eleição ganha de forma suspeita pelo autocrata Aleksandr Lukachenko, dois Tupolev-134 de transporte de autoridades do Ministério da Defesa russo voaram a Minsk.

Ninguém explicou o que foram fazer lá, no dia 12, mas Lukachenko teve de negar que estivessem à sua disposição para uma eventual fuga do país.

Já o Tu-214 é um bimotor maior, semelhante ao Airbus-320 ou Boeing-737, podendo levar até cerca de 200 passageiros em versão comercial.

Isso alimentou, entre analistas militares russos, a especulação de que ele poderia ter transportado equipes do FSB para Minsk. Mas por ora é isso, uma especulação, e para tal tipo de transporte há aeronaves menos VIP.

O fato de Lukachenko, que está no poder desde 1994, ter anunciado na manhã seguinte ao voo uma repressão maior aos protestos sugere alguma ligação direta do FSB com o caso.

Por óbvio, são suposições numa região dada a teorias conspiratórias. O próprio Lukachenko alimenta uma nesses dias, afirmando que a Otan (aliança militar ocidental) está movimentando tropas para a sua fronteira com Lituânia e Polônia, dois membros do clube.

Não há registro disso. Por outro lado, os russos fizeram da semana para cá uma série de exercícios aeronavais em toda a região: ocorreram manobras no posto avançado no mar Báltico, o encrave de Kaliningrado, e na região de Leningrado —que faz fronteira com a Belarus.

A movimentação visa mostrar prontidão ao Ocidente, mas parece pouco provável que Putin se dispusesse a ajudar abertamente o recalcitrante aliado Lukachenko.

Ao longo dos anos, o autocrata cumpriu seu papel de manter uma área sob influência russa entre Moscou e o Ocidente, além de sediar parte do escoamento dos hidrocarbonetos do Kremlin para a Europa.

Mas também resistiu a uma maior união com a Rússia, prevista num tratado de 1999, e irritou Putin diversas vezes ao flertar com governos europeus e com os EUA.

O presidente russo, que reiterou apoio a Lukachenko nesta quarta, mas descartou assistência militar imediata, pode também estar estudando opções na elite do país.

Ela entregou oposicionistas viáveis para a eleição: um fugiu para a Rússia e dois estão presos, um deles deixando a mulher como candidata a simbolizar resistência.

Nesta quarta, o líder do Partido Liberal Democrático, até aqui da base de apoio a Lukachenko, anunciou que criará uma agremiação de oposição favorável a uma maior integração à Rússia. O Movimento Patriótico Popular da Belarus será liderado por Aleh Gaidukevitch, filho de um antigo politico local, Siarhei.

O partido é minoritário, tendo apenas 1 de 110 deputados na Assembleia Nacional, mas a mudança é tão simbólica quanto o aparecimento de voos misteriosos no meio da convulsão política bielorrussa.

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