Descrição de chapéu Governo Trump

Steve Bannon, arquiteto da vitória de Trump em 2016, é preso sob acusação de fraude

Ex-estrategista, próximo a Eduardo Bolsonaro, é suspeito de desviar recursos de campanha de arrecadação na internet

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São Paulo

Steve Bannon, estrategista da campanha eleitoral de Donald Trump em 2016, foi preso nesta quinta (20) e levado para Nova York. Ele é acusado de ter participado de uma fraude numa campanha virtual de doações relacionada à construção de um muro na fronteira entre EUA e México, uma promessa de Trump.

Bannon também é próximo da família Bolsonaro. Ele criou um projeto chamado "O Movimento", para unir líderes populistas de direita pelo mundo, e nomeou o deputado federal Eduardo Bolsonaro como seu representante no Brasil.

O estrategista foi preso em um iate na costa de Connecticut, estado vizinho a Nova York. O barco pertence a Gou Wengui, bilionário chinês que fugiu da China e já trabalhou com Bannon.

A campanha que motivou a prisão, batizada de "Nós Construímos o Muro", levantou US$ 25 milhões (R$ 141 milhões na cotação desta quinta-feira). Bannon e outros envolvidos teriam enganado os doadores e usado o dinheiro para custear gastos pessoais, de acordo com o Departamento de Justiça dos EUA.

Steve Bannon, ex-estrategista-chefe do governo Trump, durante evento em Zurique, na Suíça
Steve Bannon, ex-estrategista-chefe do governo Trump, durante evento em Zurique, na Suíça - Moritz Hager - 6.mar.18/Reuters

Além de Bannon, foram indiciados e presos Brian Kolfage, 38, veterano da Força Aérea, Andrew Badolato, 56, que atua no mercado financeiro, e Timothy Shea, 39. Os quatro podem pegar até 20 anos de prisão.

Procuradores federais de Nova York disseram que o dinheiro das doações ajudou os envolvidos a levar uma vida de gastos excessivos.

Bannon teria recebido mais de US$ 1 milhão (R$ 5,6 milhões) da campanha por meio de uma organização sem fins lucrativos.

Já Kolfage teria se apropriado de US$ 350 mil (R$ 1,9 milhão) de maneira similar. O ex-militar fez fortuna com sites de direita. Recentemente, começou um negócio de produção de máscaras.

A campanha, que começou no fim de 2018, prometia que todo o dinheiro seria usado para ajudar na construção do muro na fronteira, sem que os organizadores obtivessem lucro com ela. A ação pretendia construir partes do muro em áreas privadas perto da fronteira no Texas e Novo México.

"Os réus se engajaram em fraudes quando desrespeitaram o uso dos fundos doados. Eles não apenas mentiram aos doadores, mas elaboraram esquemas para esconder a apropriação dos fundos ao criar faturas e contas falsas para 'lavar' as doações e encobrir seus crimes", disse Philip R. Bartlett, um dos inspetores do caso, em comunicado.

Promessa-chave da campanha de Trump em 2016, a construção do muro foi contida por processos na Justiça e pela oposição no Congresso. Assim, foram construídos até agora apenas 442 km do bloqueio, segundo o Departamento de Fronteiras. Desses, apenas 48 km são trechos novos, e o resto se refere ao reforço de barreiras existentes.

A divisa EUA-México tem ao todo 3.145 km, e cerca de 1.000 km já contavam com muros ou cercas antes de Trump assumir. Em cerca de metade dela, os dois países são separados pelo rio Grande.

Trump disse a repórteres na Casa Branca que se sente "muito mal" pelas acusações a Bannon, mas procurou se distanciar do estrategista e do suposto esquema de fraude. "Acho que é um fato triste", disse o presidente. "Não lido com ele há anos, literalmente anos."

Kate Bedingfield, vice-coordenadora da campanha do democrata Joe Biden, por sua vez, disse que "ninguém precisa de uma acusação federal para saber que Steve Bannon é uma fraude".

"Donald Trump tem feito o governo mais corrupto da história americana. Ele tem usado o cargo em benefício próprio, de sua família e de seus aliados, então não é surpresa que pessoas que o cercavam e o aconselhavam nos postos de mais alto nível sejam alvo de acusações."

Bannon, 66, é um dos principais ativistas de ultradireita dos EUA e impulsionou ideias como o combate à imigração no país. Especialista no uso de redes sociais e estratégias digitais para campanhas políticas, costuma dizer que seu objetivo é lutar contra a classe política tradicional, a globalização e as grandes corporações.

Ele fez carreira no setor bancário e atuou no Goldman Sachs. Em 2012, tornou-se diretor do Breitbart News, site que ajudou a fundar. A página dá espaço para ideias ligadas ao nacionalismo extremo, neonazismo e supremacismo branco.

Bannon também trabalhou na Cambridge Analytica, empresa que coletou dados de milhões de usuários do Facebook, sem consentimento, para depois enviar mensagens políticas ultrasegmentadas.

Funcionários da empresa acusam Bannon de ter participado de testes, a partir de 2014, para enviar mensagens a eleitores para estimular sentimentos como raiva e medo e, assim, influenciar suas posições políticas. Também dizem que a prática foi usada muitas vezes nos anos seguintes a pedido dele. O estrategista nega.

Em 2016, Bannon foi diretor da campanha de Trump, tornando-se um dos principais responsáveis pela vitória, ao aproximar o republicano de bandeiras conservadoras e fomentando o rancor de partes do eleitorado em relação a temas como a imigração, por meio do uso intenso e direcionado de redes sociais.

Após a eleição, assumiu o cargo de estrategista-chefe da Casa Branca. No entanto, foi demitido meses depois, em agosto de 2017, por se desentender com o presidente. Mesmo assim, seguiu dando apoio a Trump e a outros candidatos republicanos nos bastidores.

O episódio que despertou a fúria do líder americano é de 2017, quando o então assessor foi citado em um livro chamando um dos primeiros-filhos de “traidor”.

A declaração, negada por Bannon, teria sido em relação ao encontro de Donald Trump Jr., o primogênito do presidente, com agentes russos para conseguir informações que prejudicassem Hillary Clinton, adversária do republicano na eleição de 2016.

Bannon também buscou expandir o nacionalismo populista em outros países, especialmente na Europa. Se aproximou de defensores do brexit e de nomes como Marine Le Pen, líder de extrema direita na França, de Matteo Salvini, ex-ministro do Interior na Itália, e Viktor Orbán, premiê da Hungria.

Na América Latina, ficou próximo da família Bolsonaro. Antes da campanha de 2018, encontrou-se com Eduardo Bolsonaro, e os dois passaram a manter contato.

Em entrevista à Folha logo após a eleição de 2018, Bannon elogiou Eduardo e seus assessores, bem como a trajetória e as propostas de Jair Bolsonaro. "Compartilhamos a mesma visão de mundo", disse.

Em março de 2019, a inclusão do nome do estrategista na lista de convidados e anfitriões de honra da comitiva de Jair Bolsonaro a Washington incomodou integrantes do governo Trump. À época, membros da Casa Branca afirmavam não entender a obsessão de aliados do presidente brasileiro por Bannon, que, segundo eles, já não tinha mais influência no governo e é detestado por Trump.

O ex-presidente Lula, por meio do Twitter, escreveu que a prisão de Bannon é "importante para a democracia". "Outro dia vi um levantamento de que Trump mente 11 vezes por dia. O Bannon é um fomentador de guerras. Merece ser tirado da política porque ele representa o mal."

Com Reuters.

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