Sem apresentar provas, o presidente americano, Donald Trump, acusou integrantes da Agência de Alimentos e Remédios (FDA, na sigla em inglês) de tentar atrasar os testes da vacina contra a Covid-19, o que faria com que a imunização não fosse disponibilizada antes da eleição presidencial de novembro.
Em uma postagem no Twitter, o republicano afirmou que o "estado profundo", ou "seja lá quem for", na FDA estava dificultando o recrutamento, pelas farmacêuticas, de pessoas para participar de testes clínicos de vacinas e terapias contra o coronavírus.
Ao citar o "estado profundo", Trump subscreve a teoria da conspiração segundo a qual parte dos funcionários públicos tentam sabotar o governo do republicano.
A postagem vem na esteira de uma reportagem da agência de notícias Reuters, publicada na quinta-feira (20), em que uma alta autoridade do FDA disse que iria pedir demissão se o governo Trump desse sinal verde a uma vacina antes de ficar comprovado que ela é eficaz e segura.
"Obviamente, eles querem adiar a resposta até depois de 3 de novembro. Precisam se concentrar na rapidez e em salvar vidas!', escreveu Trump, marcando o comissário da FDA, Stephen Hahn, na mensagem.
A presidente da Câmara, Nancy Pelosi, afirmou que a postagem era uma "afirmação perigosa" e que era "inadmissível" o presidente acusar a FDA de fazer politicagem. O órgão não respondeu aos pedidos de comentário.
Em coordenação com a FDA e com os Institutos Nacionais de Saúde, as farmacêuticas já estão aumentando a capcidade de produção de vacina, enquanto os testes ainda estão em curso, para que possam fabricar uma imunização contra a Covid-19 o mais rapidamente possível.
A doença já matou mais de 800 mil pessoas no mundo —mais de 175 mil apenas nos EUA.
Trump frequentemente usa o Twitter para criticar órgãos federais, às vezes afirmando que são controlados por um "estado profundo", supostamente composto por funcionários que tentam sabotar a agenda do republicano.
Sua postagem aumenta a pressão sobre a FDA. Peter Marks, diretor do Centro de Avaliação e Pesquisa Biológica do órgão, afirmou na semana passada, em teleconferência com autoridades do governo, farmacêuticas e acadêmicos, que iria se demitir se a agência aprovasse uma vacina sem eficácia comprovada.
Cientistas, autoridades de saúde pública e legisladores temem que Trump pressione a FDA a aprovar uma vacina antes da eleição, ainda que os resultados dos testes clínicos não deem respaldo a seu uso em grande escala.
Marks, cuja divisão regulamenta tratamentos biotecnológicos, vacinas e terapias genéticas, disse à Reuters que não sofreu nenhuma pressão política e que a FDA será guiada apenas pela ciência.
Se isso mudasse, afirmou ele na quinta-feira (20), "eu me sentiria obrigado [a pedir demissão], porque, ao fazer isso, indicaria ao público americano que alguma coisa está errada".
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