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Trump diz que voto universal por correio será 'catastrófico'

Em busca da reeleição, presidente dos EUA volta a atacar modalidade de votação

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Bedminster (EUA) | Reuters

O presidente dos EUA, Donald Trump, voltou a atacar neste sábado (15) o voto por correio nas eleições de novembro deste ano.

Em entrevista coletiva em seu clube de golfe em Bedminster, no estado de Nova Jersey, o republicano afirmou que o “voto universal por correio será catastrófico e fará dos EUA uma piada no mundo”.

O presidente vem questionando essa modalidade de votação há meses e denunciando-a como uma possível fonte de fraude, embora milhões de americanos —incluindo grande parte das Forças Armadas— votem pelo correio há anos sem problemas.

Trump engrossou ainda mais as críticas neste sábado, ao dizer que o problema com o voto por correspondência é que nunca se saberá “quando a eleição terá terminado”.

O presidente dos EUA, Donald Trump, durante entrevista coletiva em Bedminster, no estado de Nova Jersey
O presidente dos EUA, Donald Trump, durante entrevista coletiva em Bedminster, no estado de Nova Jersey - Jim Watson/AFP

A Covid-19 já matou mais de 165 mil americanos e criou sérios desafios logísticos para a organização de grandes eventos, como o pleito de 3 de novembro. Por isso, o voto universal por correspondência ganhou os holofotes na disputa eleitoral deste ano.

Junto às críticas à modalidade de votação, Trump disse ainda discordar da previsão do CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) de que este outono no hemisfério Norte, primavera no Brasil, pode ser uma das piores crises de saúde pública dos EUA —o país é o líder de casos, com 5,3 milhões de infecções.

O presidente também defendeu o diretor do correio americano, Louis DeJoy, alvo de protestos de um pequeno grupo neste sábado. O republicano afirmou que DeJoy é um “homem talentoso”, que trabalha para “parar as enormes perdas que ocorreram por muitos, muitos anos”.

Trump disse ainda que o diretor quer tornar “o serviço postal grande novamente”, em referência ao mote da campanha republicana para “tornar a América grande novamente”.

Nomeado em junho deste ano, DeJoy, que já doou US$ 2,7 milhões (R$ 14,5 milhões) para campanhas de Trump e de outros políticos republicanos, ordenou mudanças operacionais e uma redução na quantidade de horas extras que os funcionários podem fazer.

O objetivo é contornar os problemas financeiros da instituição, que relatou um prejuízo líquido de US$ 2,2 bilhões (R$ 11,8 bilhões) no último trimestre.

As medidas adotadas pelo diretor causaram atrasos em entregas em todo o país, o que pode dificultar a votação por correspondência.

Em meio ao temor de que o diretor esteja enfraquecendo o serviço postal, cerca de 75 pessoas protestaram em frente a sua casa, com cornetas e panelas. Eles acusam DeJoy de sabotagem para agradar o republicano, que tenta a reeleição.

Questionado sobre as medidas, Trump disse não saber o que DeJoy estava fazendo. “Não falei com ele sobre isso.”

As declarações deste sábado vêm na esteira do bloqueio da proposta democrata de incluir no pacote de ajuda do novo coronavírus o envio de recursos ao serviço postal dos EUA.

Ao barrar o auxílio, o presidente demonstrou mais uma tentativa de impedir que mais americanos votem por correspondência.

Congressistas democratas rebateram e acusaram Trump de tentar prejudicar o correio e assim melhorar suas chances de ser reeleito, já que pesquisas de opinião mostram que o republicano enfrentará uma dura disputa contra o candidato da oposição, Joe Biden.

Especialistas estimam que metade dos eleitores americanos pode deixar de votar por causa da pandemia.

Assim, aliados do presidente temem que os americanos deixem de ir às urnas, principalmente os que têm mais de 65 anos ou os que vivem em áreas rurais, importante parcela da base de Trump.

Aproximadamente um em cada quatro eleitores votou por correspondência nas últimas eleições presidenciais, em 2016. O próprio Trump já usou a modalidade.

O presidente disse que seus negociadores resistiram aos pedidos dos democratas por verbas adicionais para a preparação das eleições presidenciais, legislativas e locais durante a pandemia de coronavírus.

"Os pontos da negociação são o correio e os US$ 3,5 bilhões [R$ 18,8 bilhões] para o voto por correspondência", disse Trump ao canal Fox Business, acrescentando que os democratas querem destinar US$ 25 bilhões (R$ 134,3 bilhões) ao serviço postal.

"Se não fecharmos o acordo, eles não poderão ter o dinheiro, e isso significa que não terão uma votação universal por correspondência." Trump afirmou, no entanto, que, se um plano de alívio passasse nas duas Casas, ele não vetaria a legislação.

Os democratas reclamaram da postura do presidente, acusando Trump e os republicanos de tentarem dificultar a participação dos americanos no pleito.

"Típico Trump. Ele não quer uma eleição", disse Biden, quando questionado sobre os comentários do presidente antes de um evento de campanha.

EMBARGO CONTRA O IRÃ

Na entrevista coletiva deste sábado, Trump abordou também a rejeição do Conselho de Segurança da ONU em estender o embargo de armas contra o Irã. O presidente americano dispensou o convite do russo Vladimir Putin para discutir a situação em uma reunião de líderes.

A decisão foi vista como uma derrota para os Estados Unidos. O republicano prometeu ainda trazer rapidamente de volta as sanções contra o Irã nas Nações Unidas.

Nesta sexta (14), o Conselho de Segurança da ONU rejeitou uma resolução americana para estender o embargo sobre a venda de armas ao Irã que vence em outubro.

O voto poderia iniciar um longo embate diplomático com repercussões para o acordo internacional de 2015, assinado para impedir que Teerã adquirisse armas nucleares. Os EUA se retiraram desse acordo, mas outros países seguem nele, o que permite que o país siga livre de parte das sanções.

A decisão do Conselho de Segurança pode abrir espaço para que Washington pressione a ONU a reestabelecer as sanções internacionais retiradas devido ao acordo nuclear.

O embargo sobre as armas expira em 18 de outubro, e os Estados Unidos, apesar de terem se retirado do acordo nuclear iraniano em 2018 por considerá-lo insuficiente, ameaçam apelar ao status de país "participante" no texto para impor unilateralmente o restabelecimento das sanções da ONU contra Teerã, suspensas em troca de compromissos do país persa em relação a seu programa nuclear.

EUA e Irã vivem em crise diplomática desde o fim dos anos 1970, quando a Revolução Islâmica derrubou um governo apoiado pelos americanos.

O Irã fechou um acordo em 2015 para reduzir seu programa nuclear em troca do alívio a sanções econômicas. Em 2018, no entanto, o governo de Donald Trump retirou os EUA desse pacto, por acusar Teerã de descumprir os termos, e retomou as sanções de modo unilateral.

Depois de abandonar o trato, os EUA impuseram novas punições contra o país. O objetivo era estrangular a economia local. As restrições impedem que outros países comprem petróleo iraniano —cerca de 80% da economia depende do setor de óleo e gás.

A venda do Irã para o exterior caiu de 2,5 milhões de barris/dia em 2018 para 400 mil em maio de 2019.
Em resposta, o Irã voltou a avançar no enriquecimento de urânio, embora ainda em níveis distantes do necessário para produzir uma bomba, segundo os números divulgados.

Em janeiro, os EUA mataram o general Qassim Suleimani, principal comandante militar do Irã, em um ataque com drones. O Irã revidou com ataques a bases no Iraque e, acidentalmente, derrubou um avião de passageiros, com 176 a bordo.

Os ânimos militares se acalmaram depois disso, mas a tensão entre os dois países prossegue.

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