Alemanha confirma que opositor russo foi envenenado com mesma substância usada contra ex-espião

Exames realizados em laboratório militar indicam o uso de Novitchok, agente neurológico desenvolvido pela União Soviética

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Berlim e Moscou | Reuters e AFP

A Alemanha afirmou, nesta quarta-feira (2), que o líder opositor russo Alexei Navalni foi envenenado com Novitchok, um grupo de agentes neurológicos desenvolvido pela União Soviética nos anos 1970 e 1980.

A substância é da mesma família do veneno identificado pelo Reino Unido, dois anos atrás, no envenenamento do ex-espião russo Serguei Skripal —que havia desertado para a Inglaterra— e de sua filha, Iulia. Os dois sobreviveram, e os russos negaram por diversas vezes o envolvimento no ataque.

Em um comunicado enviado por email nesta quarta, o porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, disse que o país tem "provas inequívocas" de que Navalni foi intoxicado com a substância. As evidências foram obtidas com exames de sangue realizados em um laboratório militar alemão.

A chanceler Angela Merkel afirmou esperar que a Rússia apresente explicações sobre o caso.

O líder opositor russo Alexei Navalni participa de ato em memória aos cinco anos do assassinato do político de oposição Boris Nemtsov - Shamil Zhumatov - 29.fev.2020/Reuters

"É uma informação perturbadora sobre a tentativa de assassinato contra um líder da oposição russa", disse Merkel.

Segundo o porta-voz alemão, o governo vai "informar seus parceiros da União Europeia e da Otan sobre os resultados da investigação".

"Será discutida uma resposta conjunta apropriada com os parceiros, à luz da resposta russa", disse.

A União Europeia condenou "nos mais duros termos possíveis" o envenamento de Navalni e pediu à Rússia que investigue minuciosamente a tentativa de assassinato e leve os responsáveis à Justiça.

"O uso de armas químicas, sob qualquer circunstância, é absolutamente inaceitável e uma violação do direito internacional", disse Josep Borell, Alto Representante de Relações Exteriores da União Europeia.

França e Reino Unido também condenaram veementemente o uso de Novitchok contra Navalni.

O ministro de Relações Exteriores francês, Jean-Yves Le Drian, afirmou que o uso do agente neurotóxico é "chocante e irresponsável", e o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, exigiu que a Rússia explique o que aconteceu.

"Trabalharemos com parceiros internacionais para garantir que a justiça seja feita", disse Johnson em uma publicação no Twitter.

A Casa Branca afirmou que as descobertas alemãs são "absolutamente repreensíveis" e que trabalharia para encontrar os responsáveis.

Para aliados de Navalni, o culpado tem nome. Segundo um de seus assessores, Leonid Volko, o uso de Novitchok é como se Putin tivesse deixado sua assinatura na cena do crime.

Segundo outro aliado, Ivan Zhdanov, a substância só poderia ser utilizada pelas agências de inteligência russas.

Moscou, por sua vez, nega envolvimento no caso. O Ministério de Relações Exteriores russo afirmou que as declarações alemãs não são apoiadas por evidências e que Berlim não está cooperando com Moscou no caso.

"Estamos dispostos e interessados em cooperar inteiramente e a trocar informações sobre esse assunto com a Alemanha", disse o porta-voz do governo russo, Dimitri Peskov.

Em declaração a uma rede de televisão estatal, a porta-voz do Ministério de Relações Exteriores russo, Maria Zakharova, afirmou que a ação alemã parecia mais uma campanha de desinformação contra a Rússia.

Navalni, advogado e blogueiro que ganhou fama ao mobilizar dezenas de milhares de russos para protestar contra a corrupção em 2017 e depois buscou se firmar como opositor do governo de Vladimir Putin, segue na UTI, respirando por aparelhos e em estado grave.

No dia 20 de agosto, ele passou mal em um voo de Tomsk, na Sibéria, a Moscou, após ter tomado um chá no aeroporto. O avião fez um pouso de emergência em Omsk, onde os médicos descartaram envenenamento.

Após a declaração, aliados do ativista e sua mulher, Iulia Navalnaia, decidiram removê-lo para ser tratado na Alemanha no dia 22. No hospital da Charité, em Berlim, ficou estabelecido que Navalni tinha sido envenenado.

Em resposta, o governo russo descartou, naquele momento, uma investigação criminal sobre as circunstâncias que levaram o líder opositor a ser internado.

"É preciso uma razão para uma investigação. Você precisa primeiro encontrar uma toxina e estabelecer o que causou essa condição. Até aqui temos um paciente em coma", disse então o porta-voz do Kremlin.

O Novitchok é um dos mais letais agentes neurotóxicos já feitos. Essas substâncias foram desenvolvidas para não serem serem detectadas pelos equipamentos padrão e para ultrapassar as roupas de proteção tradicionais.

Ele aparece em forma de um pó muito fino, em vez de gás ou vapor. A contaminação se dá por inalação, embora a absorção pela pele ou por membranas mucosas também seja possível. Sua ação é rápida, levando entre 30 segundos e 2 minutos para fazer efeito.

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