Arizona põe à prova discurso de Trump de destruição dos subúrbios americanos

Estado vira termômetro de mudanças demográficas que alteraram humores políticos de áreas residenciais

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Washington

Cinquenta dias antes da eleição americana, a Folha começou a publicar a série de reportagens “50 estados, 50 problemas”, que se debruça sobre questões estruturais dos EUA e presentes na campanha eleitoral que decidirá se Donald Trump continua na Casa Branca ou se entrega a Presidência a Joe Biden.

Até 3 de novembro, dia da votação, os 50 estados do país serão o ponto de partida para analisar que problemas o próximo —ou o mesmo— líder americano terá de lidar.

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Ainda era junho de 2019 quando um eleitor convicto de Donald Trump fez um dos diagnósticos mais precisos da importância dos subúrbios na disputa à Presidência dos EUA.

David Balsamio tinha 30 anos e morava na região metropolitana de Phoenix, capital do Arizona, que há pelo menos duas décadas escolhe candidatos republicanos à Casa Branca —o último democrata a levar a disputa presidencial no estado foi Bill Clinton, em 1996, e a vitória anterior havia sido em 1948.

"As coisas se transformaram nos últimos dois anos. Os eleitores estão mais jovens e, além disso, pessoas estão vindo da Califórnia para trabalhar no Arizona com ideias mais progressistas", disse Balsamio.

O presidente dos EUA, Donald Trump, durante evento de campanha em Phoenix, no Arizona
O presidente dos EUA, Donald Trump, durante evento de campanha em Phoenix, no Arizona - Brendan Smialowski - 14.set.20/AFP

O jovem se definia como conservador e republicano e entendia que as mudanças demográficas, somadas ao discurso anti-imigração do atual presidente, tinham impactado seu estado, transformando-o em uma das apostas democratas para vencer em novembro.

Em 2016, Trump derrotou Hillary Clintou por 90 mil votos no Arizona, mas, em 2018, os eleitores do estado escolheram uma democrata ao Senado pela primeira vez em 30 anos.

O movimento foi amplificado justamente pelos moradores dos subúrbios, regiões ao redor das grandes cidades, que compareceram em número recorde às urnas nas chamadas eleições de meio de mandato —o voto não é obrigatório nos EUA.

"Fico envergonhada com a maneira com que Trump representa nosso país e sou completamente contrária à sua política externa. Acho que imigrantes são trabalhadores esforçados em busca do melhor para suas famílias", afirmou a empresária Mary Sublet, moradora de Chandler, a cerca de 30 km de Phoenix.

Mary era o reflexo da mudança de disposição de parte do eleitorado do Arizona. Mas não era só ali.

Os motivos para a inversão de clima nos subúrbios eram diversos e invadiam também outras regiões, como o Meio-Oeste. Em Pensilvânia, Michigan e Wisconsin, por exemplo, três dos estados considerados chave para novembro, eleitores votaram em Trump em 2016 após optarem duas vezes por Barack Obama.

Há quatro anos, diziam-se cansados da política tradicional e abandonados pelos democratas, mas, agora, mais uma vez rechaçando o status quo, começaram a flertar com a candidatura de Joe Biden.

Trump sabe que não vai conseguir o voto de grupos mais escolarizados e progressistas —seu eleitorado cativo é formado por eleitores brancos, conservadores e de baixa escolaridade—, mas decidiu investir na retórica do medo para tentar assustar esses moderados que variaram de lado nas últimas eleições.

O argumento de que democratas são anarquistas que vão destruir subúrbios e prejudicar a classe trabalhadora é repetido por Trump diante dos atos antirracismo que tomaram os EUA desde maio, após o assassinato de George Floyd, e que tiveram apoio de Biden.

Com o discurso da lei e da ordem, o presidente tenta convencer moradores dos subúrbios, principalmente mulheres, de que sua segurança estará em risco em um eventual governo democrata.

O efeito dessa narrativa será colocado à prova em novembro. O presidente aposta que mais conservadores saiam para votar nele neste ano do que fizeram em 2016, principalmente nas áreas rurais.

Sabe que as regiões urbanas são geralmente redutos democratas e, nos subúrbios, age para impedir uma virada que coloque em risco sua reeleição.​

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