Biden luta para conquistar latinos e ampliar vantagem em estados decisivos

Democrata tem tido dificuldade para obter apoio dessa fatia do eleitorado

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Washington

"Trump falhou com a comunidade latina mais de uma vez, a fim de satisfazer a direita perversa de seu partido." Foi com um ataque ao presidente americano que Joe Biden tentou abordar temas do interesse de eleitores latinos durante a convenção democrata, no mês passado.

O candidato à presidência americana Joe Biden tenta mobilizar latinos para votar 
O candidato à presidência americana Joe Biden tenta mobilizar latinos para votar  - Leah Millis/Reuters

O ex-vice de Barack Obama tem tido dificuldade para conquistar o apoio dessa importante fatia do eleitorado que, pela primeira vez na história dos EUA, deve superar os negros e se tornar a minoria étnica com maior representação nas urnas —13,3%.

Historicamente, pessoas de origem latina tendem a votar em candidatos democratas —71% delas escolheram Obama em 2012 e 66% optaram por Hillary Clinton em 2016—, mas Biden aparece bem abaixo desse patamar em regiões decisivas, o que tem preocupado os principais estrategistas de sua campanha.

O fraco desempenho entre latinos é um dos elementos que fazem com que o democrata não consiga abrir grande vantagem sobre Trump em estados-chave, como Flórida, Arizona e Texas, onde de 15% a 25% dos votantes são de origem latina.

Na Flórida e no Texas, por exemplo, Biden registra menos de 50% da preferência dos latinos, segundo pesquisas locais, enquanto no Arizona sua performance melhora um pouco, e fica em torno de 60%.

Em 2016, Trump ganhou nos três estados por uma margem pequena sobre Hillary, mas, neste ano, o democrata tenta virá-los para chegar à Casa Branca.

Auxiliares admitem que Biden avaliou precocemente que o apoio de jovens, geralmente mais progressistas, impulsionaria sua candidatura entre latinos, grupo com pautas bastante variadas e pouco motivado a ir às urnas —desde 1996, menos da metade dos latinos elegíveis a votar comparecem no dia do pleito, visto que nos EUA o voto não é obrigatório.

Líder nas pesquisas nacionais e na maior parte dos estados-chave, Biden tem sido aconselhado a ampliar o arco e mostrar que suas propostas vão além dos ataques ao presidente e de pautas sobre imigração.

A mensagem de Biden, dizem assessores, deve abarcar as diferentes ramificações desse nicho do eleitorado e respaldá-lo com propostas que vão de mais acesso à saúde a apoio a pequenos negócios.

Considerado estado-pêndulo, ou seja, que ora vota em democratas, ora em republicanos, a Flórida é uma das regiões mais importantes para novembro e reflete o esforço de Biden em recuperar terreno nesse eleitorado.

Há mais de duas décadas, quem vence na Flórida leva a Casa Branca e, em 2016, Trump ganhou no estado por apenas 1% dos votos, após duas vitórias consecutivas de Obama.

Nesta semana, pesquisa feita pela NBC News/Marist mostrou que Trump e Biden estão empatados em 48% na Flórida, mas o presidente abre quatro pontos quando se trata de eleitores latinos da região: 50% a 46%.

Trump lidera entre eleitores de origem cubana, mais conservadores e os mais influentes do estado, enquanto Biden tem mais entrada em grupos como os de ascendência mexicana e porto-riquenha, mas ainda não os mobiliza de maneira definitiva.

O presidente tem conduzido uma forte política anti-imigração, o que afasta parte dos eleitores latinos do Texas e do Arizona, que fazem fronteira com o México, mas seu discurso contra as ditaduras em Cuba e na Venezuela tem apelo entre latinos mais velhos e conservadores da Flórida —54% dos eleitores de origem cubana votaram no republicano em 2016.

A retórica de Trump de que Biden é ligado à extrema esquerda e vai mergulhar os EUA no socialismo tem influência neste último grupo, apesar de o democrata ter uma trajetória política centrista.

Nos últimos dias, Biden decidiu fazer uma contraofensiva na Flórida.

Contratou conselheiros e integrantes da equipe de comunicação de origem latina para tentar mapear a diversidade do eleitorado, prepara uma campanha digital para atrair os jovens, além de publicidade segmentada, com sotaques de cada parte do estado.

Diante dos mais conservadores, Biden tenta desfazer a ideia de que é um radical de esquerda e diz que, na verdade, Trump é quem tem perfil autoritário e nada fez pela democracia nos países latino-americanos.

Na terça-feira (8), o presidente esteve na Flórida. Dois dias depois, a vice de Biden, a senadora Kamala Harris, visitou a região e, na próxima semana, será a vez do candidato democrata, escancarando a importância que o estado vai ter até o dia da eleição.

Trump sabe que precisa vencer na Flórida para ser reeleito, já que, desde 1924, nenhum republicano chegou à Casa Branca sem o estado.

De acordo com o site Five Thirty Eigth, que compila a média das principais pesquisas nos EUA, Biden está sete pontos na frente de Trump em termos nacionais (50,6% a 43%). Em estados de perfil latino, porém, a situação não é tão confortável.

Na Flórida, o democrata chegou a abrir sete pontos, mas a diferença caiu para menos de três —48,6% a 45,9%. No Texas, Trump está quase um ponto à frente do democrata, 47,5% a 46,6%, enquanto no Arizona Biden tem uma margem um pouco melhor, mas ainda pouco segura: 49,4% a 44,1%.

Os três estados somam 78 dos 270 votos de que o vencedor precisa no Colégio Eleitoral, sistema de voto indireto que elege o presidente americano. Todos eles também foram bastante atingidos pela pandemia que já matou mais de 190 mil pessoas nos EUA e foi manejada de maneira ineficaz pelo republicano.

A tendência é que Biden não perca para Trump entre eleitores latinos, mas, numa eleição disputada, motivá-los a votar exigirá um esforço muito maior do que o democrata esperava.

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